PILLOWTALK [ INTERSEXUAL ] SARIETTE

SOMEBODY ELSE

26 de fevereiro, 2016

- Confesso que estou muito surpresa com a sua presença, tem um bom tempo que não aparece por aqui, Sra. Matthaus. - A doutora Camilla parecia surpresa, mas sorriu gentilmente para a morena em sua frente.

- Pare com isso, Cami, nos conhecemos há anos, me chame apenas de Juliette. - A Dra. assentiu.

- Sente-se, por favor. - Um pouco nervosa, a professora sentou-se na poltrona de frente à doutora.

Era uma tarde de terça-feira como outra qualquer. Mas não para Juliette. Normalmente depois de todas as aulas que dava no colégio, ela iria para casa, faria seu chá de todas as tardes e tiraria um bom cochilo, acordaria mais tarde para tomar um banho e se arrumar para dar aula na faculdade em que trabalhava à noite. Era assim sua vida monótona. Nem ao menos via seu marido direito em casa, o mesmo ficava o dia todo dentro do escritório ou na empresa, e voltava apenas de noite.

- Parece nervosa, quer me contar o que aconteceu?

Juliette percebeu quando a doutora pegou seu óculos, uma caneta e um bloquinho de anotações. A morena suspirou antes de dizer:

- Eu... Queria mesmo era alguns conselhos, sabe, conversar com você... - Camilla franziu o cenho, logo se dando conta das intenções de Juliette.

- Oh... Claro, uma conversa como velhas amigas, certo? - A morena sorriu, assentindo.

Juliette não saberia dizer quando exatamente ela e Camilla começaram uma amizade na faculdade. Camilla tinha se formado em psicologia, se tornando uma excelente psicóloga anos depois, e Juliette algumas vezes se consultava com ela sobre seu relacionamento um pouco conturbado com os pais.

Acontece que antes de se casar, sua mãe se comportava de um jeito desagradável, e sempre tentando influenciar em sua vida. Fátima odiava o fato de Juliette não seguir seus passos como advogada, odiava mais ainda o fato de que a morena escolhera virar professora. Ela tem hoje 54 anos, e esteve com herpes zóster alguns anos atrás. Fátima gritava com Juliette todos os dias dizendo que queria morrer. Nessa época a professora ainda morava com seus pais, e quando enfim se formou na faculdade, finalmente pode se mudar e morar com Rodolffo, depois de todo o auxílio que prestara à sua mãe.

Fátima simplesmente amava Rodolffo, para ela o homem foi a única escolha certa que Juliette fizera na vida. E a morena odiava o jeito que sua mãe desvalorizava seu trabalho e as coisas que ela própria conquistara com seu suor.

3 anos depois do seu casamento, seu pai ficou doente. Juliette cuidou dele no período da doença - aproximadamente 2 anos - prestando auxílio diário incansavelmente, dormindo com ele em hospitais, UTIs, de dia e de noite, trocando sondas, revezando-se com enfermeiros em casa. Até mesmo nessa época, seu casamento não teve tanto problema como agora. E esse pensamento rasgava Juliette por dentro.

Ela sempre cuidou dos pais como sua própria vida, e tinha uma irmã mais nova que jamais fizera coisa parecida. A carga física, de trabalho, e emocional, sempre foi despejada em cima dela. Foi ai que Juliette precisou de Camilla.

Camilla nunca cobrou uma consulta se quer. Mas a morena obviamente não aceitava isso de jeito algum. As consultas eram semanalmente, já que a morena mal tinha tempo para respirar, seu pai só piorava do câncer de próstata e ela ficava mais e mais cansada fisicamente e emocionalmente. Amava o pai, mesmo que ele fosse sempre manipulado pelas ideias de Fátima. Seu pai não morrera, mas logo depois da recuperação veio a depressão do homem. Após a cirurgia para tratar o câncer, ele teve mais problemas de incontinência e função sexual do que esperava.

- Estou ouvindo. - Camilla disse, Juliette suspirou profundamente, estava com muito medo da onde essa conversa terminaria.

- É o meu marido. Não estamos nos dando bem, ele está afastado... - Camilla entrelaçou os dedos, apoiando as mãos na mesa.