Graças a Deus, era sexta!
Tinha ido na escola da Isa pra pegar o histórico escolar e tudo que precisava pra transferência. Eles fizeram um draminha, mas eu disse que não tinha jeito e ia mudar ela.
Fui até uma escola daqui do morro, a mais famosinha. Entreguei tudo que precisava e assinei uma papelada pra matrícula. Eles disseram que já estava tudo pronto e que segunda ela já podia ir pra escola.
Agora eu queria ver como seria a adaptação da Isa na escola nova, ela passou a vida inteira em escola particular e agora vai pra uma pública... Mas eu confio na minha menina, ela vai se dar bem e conviver com pessoas da mesma classe social que ela. Isso vai ser bom.
Também vou ver pra colocar ela numa psicóloga...
Vidal: Voltou pra escola, foi? — a voz grossa do Vidal seguida do motor da moto interrompeu meus pensamentos.
Gabi: Não, besta. Vim fazer a matrícula da Isa.
Vidal: Meu pivete tá reclamando que tá com saudade tua, pô. — falou sério e eu dei um sorrisinho. — Vamo lá, te dou uma carona marota.
Gabi: Tá bom. Tô com saudade do Bê também! — peguei o capacete e subi na moto. Ele fez um caminho estranho, parecia querer não ser visto...
Logo chegamos na casa dele. Era uma casa muito bonita, e por dentro era mais ainda.
Vidal: Vou lá na tia Elaine pegar um almoço foda, já volto aí — ele ficou parado me olhando e eu olhando de volta. Ele riu e balançou a cabeça negativamente.
Gabi: Que foi, maluco? — perguntei rindo também.
Ele me puxou pelo braço e deu um beijo na minha bochecha, que me fez corar um pouco.
Vidal: Educação, pô. Vem de casa, recebeu não? — disse e bagunçou meu cabelo.
Gabi: Ah... — sorri e ele mandou um beijo, mas logo arrancou com a moto, descendo o morro.
Eu já tive um rolinho com o Vidal na adolescência, mas nunca nada demais. Nos afastamos quando ele assumiu o morro assim que o pai dele morreu assassinado numa invasão, desde então temos uma amizade boa.
Entrei na casa e vi o Bêzinho jogando videogame na sala com o irmão mais novo do Vidal e ficante da Isa, o João Pedro. Assim que o Bernardo me viu, veio correndo me abraçar, o que fez o Jotapê reclamar.
Jotapê: Pô, Bernardo! É online! — bufou e jogou o controle no sofá.
Bernardo: Tia Briii! Tava com saudade sua — disse me dando beijinho na bochecha.
Gabi: A tia também tava, meu amor. Você tá mais gordinho, hein? — impliquei fazendo cócegas na barriga dele, que soltou uma risadinha gostosa e me fez agarrar ele e encher de beijos.
Cumprimentei o Jotapê com um beijo na bochecha e deitei no sofá.
Gabi: Tão jogando o quê?
Bernardo: Fortnite, é muito legal, tia! Quer jogar?
Gabi: Sei jogar isso não, meu filho.
Jotapê: Ô Gabizinha, como tá a Isa? — perguntou vindo deitar perto de mim, o que fez o Bê deitar entre nós e apoiar a cabeça no meu peito.
Gabi: Tá bem. Cês não tão se falando mais? — fiz a sonsa.
Ele fez uma careta e eu ri.
Jotapê: Ela é toda errada, marrenta pra caralho, pô. Dá não.
Bernardo: Num fala palavrão, tio! — disse dando um tapa na boca do Jotapê e eu ri.
Gabi: Ih, João Pedro perdendo a moral pro próprio sobrinho! — falei rindo. — Mas tu também não facilita, né Pedrinho?
Ele deu de ombros.
Aqueles dois era um caso inexplicável e impossível. Só os dois se entendiam mesmo. Me lembrava um pouco eu e o Vidal...
Mandei uma mensagem pra Isa chamando ela pra cá.
Whatsapp 📲
Gabi: ô piranha
vem aqui no vidal almoçar
jp quer resolver coisas... 🫣Isa: esse mlk não fode e não sai de cima, vsfd
tô indo 👎Whatsapp off 📲
Logo o Vidal chegou com o almoço e nós levantamos indo pra mesa. Abri as marmitas e servi os pratos. Durante isso, percebi o Vidal olhando descaradamente pros meus peitos, mas só dei uma risadinha, fazendo o Jotapê me olhar confuso. Bernardo nem queria saber de nada, só da batatinha dele.
Fiz o prato do Bê do jeito que ele gostava, o meu e do Jotapê.
Vidal: Ô, Gabriela, qual foi? — implicou rindo e pegou um prato.
Logo a casa foi invadida pela voz da Isa.
Isa: Quero saber se sobrou comida pra mim nesse barraco.
Bernardo: Tem muita batata, tia! Mas não come muito, deixa pra mim...
Vidal: Ata, minha goma virou ponto de prostituição agora? Só tem puta aqui!
Dei dedo pra ele e comecei a comer quieta. O climão se instaurou quando o olhar do Jotapê se encontrou com o da Isa.
Tinha muita coisa mal resolvida ali, e pelo visto o Vidal também percebeu, já que relaxou a postura e me lançou um sorrisinho.
🃏
Guilherme Vidal, 27 anos.
João Pedro Vidal, 19 anos.
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Libertinagem (Morro)
Romance"Ela é da favela e eu moro lá no morro Ela usa prata e eu uso ouro Que coincidência, né? Pois é..."