Capítulo Cinco

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SELENA

Hoje é sábado e o dia está fantástico, o que é estranho em Portland. Não está super calor, mas está agradável, o suficiente para ir à praia. Eu e a Kyla planeámos de ir ao cinema hoje, mas como está um dia tão ensolarado e aprazível, decidimos vir desfrutar do nosso dia à beira-mar. Viemos a uma praia que não costuma ter muita gente, além disso é uma das poucas praias perto da nossa zona. Todavia, o bom tempo atraiu a multidão e a praia está praticamente cheia.

Neste momento, estou sentada na minha toalha enquanto converso com a Kyla sobre a festa de hoje á noite, ou melhor, enquanto tento convencê-la a ir. Hoje à noite vai haver uma festa na casa do Nathan e a minha melhor amiga nunca se recusou a ir a uma festa, mas após os recentes acontecimentos de troca de saliva entre os dois, entendo a sua hesitação.

- Kyla, vamos lá. O que aconteceu entre vocês não te pode impedir de te divertires. Para quem disse que não se ia apaixonar pelo Nathan, já estás a agir como se estivesses - digo chateada.

Sei que ela não está, mas sabia que era uma das cartas mais baixas que poderia utilizar.

- Não vás por aí, Lena - bufa - Só não quero ir!

- É, só não "queres ir" - digo, fazendo aspas com as mãos - Tu nunca negas uma festa, Kyla - reviro os olhos - Mas tudo bem, sendo assim vou apanhar uma grande bebedeira e vou fazer com que te sintas culpada por não ter ido para cuidar de mim - cruzo os braços como uma criança a quem lhe recusaram um brinquedo.

Sim, estou a apelar ao lado emocional e protetor da Kyla para comigo. Normalmente resulta, por isso espero que hoje não seja diferente.

- Eu odeio-te - refila - só vou para depois não ter de acordar durante a noite e ir ao hospital, porque a minha melhor amiga está em coma alcoólico - revira os olhos.

Solto uns gritinhos de felicidade e jogo-me para cima dela, abraçando-a de lado. Sabia que conseguia apelar ao seu lado emocional. Saio de cima dela e volto a sentar-me na minha toalha. Ficamos a conversar durante mais um pouco até decidirmos ir à água.

À beira-mar, os meus pés são logo recebidos pela gélida água do mar. A Kyla ganhou rapidamente coragem para mergulhar, no entanto, para mim a água está bastante fria. Após alguns minutos para me habituar à baixa temperatura, ganho valentia e mergulho. Cada pedaço da minha pele foi coberto pela água fria do mar e foi uma sensação maravilhosa. O clima estava realmente propício para se passar o dia na praia. O sol está forte, mas não ao ponto de nos deixar com queimaduras. A água do mar estava gelada, mas não ao ponto de nos impedir de entrar nela.

Dias como este trazem-me memórias de infância, quando eu ainda tinha uma família que se importava, ou até mesmo, uma família. Quando estava bom tempo como hoje em São Francisco, costumávamos fazer piqueniques no parque ou fazer um churrasco com os nossos vizinhos ou, até mesmo quando o calor nos consumia, ficávamos em casa a jogar jogos ou a completar puzzles.

Não éramos uma família perfeita, longe disso, mas éramos unidos e nunca faltou amor em nossa casa. Até aos meus doze anos, a partir daí tudo foi piorando. A minha vida já era uma montanha russa uns anos antes, mas quando atingi os doze anos de idade ela simplesmente desmoronou. O meu coração já não estava inteiro e quando dei por ele, já estava completamente em pedaços.

Lembrar-me de tudo é horrível. Já se passaram cinco anos e continua tudo tão nítido. Lembranças que desejo não recordar voltam sempre de uma forma ou de outra, principalmente à noite enquanto durmo. Os pesadelos estão cada vez piores e a cada dia que passa tenho mais medo de dormir, pois não quero viver tudo outra vez. Presenciar tudo já foi bastante traumatizante e os pesadelos são as minhas marcas, as minhas cicatrizes, as minhas angústias, os meus tormentos e a merda do meu subconsciente a querer destruir o resto da minha vida.

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