JORDAN
Acordo sem saber onde estou, tendo apenas noção de que tenho a cabeça a latejar e que possuo uma dor de cabeça absurdamente irritante. Nunca mais toco numa gota de álcool. Só que ontem foi preciso depois da conversa que tive com ele. Todos os meses, a meio do mês, eu recebia esta chamada e passava o mês inteiro a desejar que quando a recebesse seria por um bom motivo, mas parece que só piora a cada mês que passa. O meu irmão, Alexander, contactou-me, como sempre, para me dar as notícias do estado de saúde do nosso pai.
Quando tinha doze anos, e o Alex somente nove, o meu pai já estava preso a uma cama constantemente ligado às máquinas, pois o seu coração já não aguentava a rotina de empresário que tinha. O meu pai tem arritmia, que consiste no ritmo acelerado ou irregular do coração que, no seu caso, se sucedeu devido aos hábitos do meu pai, efetivamente, o estresse e a ansiedade do trabalho dele. As coisas nunca mais foram as mesmas desde então, pois, daí para a frente foi só para trás. Quando tinha 14, o meu pai teve o primeiro AVC, foi horrível e lembro-me perfeitamente desse dia, principalmente da quantidade de emoções que vivenciei e que prometi a mim mesmo que jamais iria voltar a sentir. Quando tinha 16, teve o segundo e isso foi a destruição do meu pai, dado que perdeu completamente a memória e já não se lembra de nada. Já não se lembra dos filhos e muito menos da mulher. Já não come sozinho, precisa de ajuda de uma sonda, a sua boca criou uma deformação e já quase nem abre os olhos.
A minha mãe passou todos estes anos a sobreviver e não a viver. O Alex nunca conseguiu presenciar o amor que eles nutriam um pelo outro, mas eu sim e era incrível. Todos os dias, enquanto a minha mãe fazia o pequeno-almoço, o meu pai trancava-se no quarto e escrevia-lhe uma carta de amor que deixava depois escondida na casa de banho, pois a minha mãe, após o pequeno-almoço, ia sempre retocar o seu batom. A mãe guardou todas as cartas num pote e, atualmente, todos os dias, lê uma carta ao meu pai na esperança de que ele se recorde dela. A minha mãe cozinhava todos os dias panquecas em forma de coração para ele e aos domingos cozinhava o prato favorito dele: lasanha. Aos sábados, víamos um filme e eu observava a maneira como o meu pai colocava o braço à volta da minha mãe e como ela se ria de todas as piadas que ele dizia, mesmo quando não tinham piada.
Quando o Alexander nasceu, as coisas não mudaram, nunca. Simplesmente tínhamos um membro da família novo. Eu cuidava dele. Gostava tanto de ver o meu pai e a minha mãe felizes que, muitas vezes, os deixava a ver o filme e ia eu até ao quarto dele e ficava ali.
Ontem, o Alex disse que o pai piorou, que a medicação já não está a resultar e que os médicos informaram-nos que mais valia desligar as máquinas. A dor que senti quando as palavras saíram da boca do meu irmão foi tremenda, não conseguia lidar com aquilo, de todo. Por isso, achei que a melhor solução era emborcar todo o conteúdo existente em todas as garrafas que possuía no apartamento. O que eu não sabia é que eram tantas. A última coisa de que me lembro é de ver o Nathaniel à minha frente, nem sei o que ele estava a fazer ali, tinha a perfeita noção de que não o tinha chamado.
Remexo-me na cama e alguma coisa também se mexe, abraçando-se ao meu braço e deitando a cabeça no meu peito... não uma coisa, alguém. Viro-me e é então que me deparo com a vista mais bonita que poderia existir. Não sei como isto aconteceu, mas agradeço imenso por este momento. Ela está mesmo aqui. Ela está mesmo junto a mim.
Percebendo finalmente onde estou, no meu quarto, deparo-me com a pouca luz do cômodo, somente a que trespassa as pequenas brechas que existem nas persianas, mas é suficiente para dar claridade ao rosto angelical que se encontra junto a mim. Ela é tão bonita. Tenho a certeza que não se passou nada entre nós e acho estranho ela estar aqui, mas não podia ter acordado de melhor forma. Não resistindo ao momento, cuidadosamente aproximo a minha mão da sua face, afastando-lhe os fios de cabelo que insistem em cair pelo seu rosto, escondendo-o. Ao tocá-la, um suspiro profundo sai da sua boca e eu sei que nada tem a ver comigo, mas nas minhas ilusões me perco e finjo que sim, que foi o meu simples toque que a fez suspirar. Estava condenado a ela.
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SINNERS
RomansaSelena Campbell, a rapariga que todos querem e poucos têm. Ninguém a tem na mão, pois estão todos na mão dela. É uma rapariga complicada, decidida e sem tempo para rapazes, apenas para os que leva para a cama no fim de uma festa. "Quem brinca com o...