Capítulo Três

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SELENA

Fiquei incrédula a olhar para o nome do Jordan que brilhava no ecrã do meu telemóvel. De segundo em segundo, o meu olhar alternava entre o objeto pousado em cima da minha colcha branca e os olhos de Kyla. Ela estava tão chocada quanto eu. Eu nem sequer sabia que ele tinha o meu número. Ou melhor, eu nem fazia ideia de que eu tinha o seu número. Apesar de nos conhecermos há muito tempo, sempre me mantive longe do Evans, por isso nunca me interessou ter qualquer contacto com ele.

Num movimento automático, atendi a chamada e coloquei no viva-voz. Passaram-se segundos, vinte e três para ser exata, quando se ouve o som de música alta do outro lado e uma voz a tentar sobressair-se ao ruído do local.

- Selena?

Eu conheço esta voz arrastada. Arrastada ao ponto de ser melancólica e esta voz não pertence a Jordan Evans.

- O que é que tu queres, Nathan? - digo ríspida.

- Precisava de falar contigo, mas não tinha o teu número. Então, pedi ao Jordan.

- E como é que ele tem o meu número? - questiono curiosa

- Isso já não sei, mas acredito que terá os seus motivos, boneca - diz e consigo imaginar um sorriso malicioso a formar-se nos seus lábios - Só preciso de saber se tu e a Kyla vêm hoje?

Com que então ele estava de facto interessado na Kyla?

- Acho que não tens nada a ver com isso, Nathaniel - ele odeia que usem o primeiro nome dele - E informo-te já que ela não é para ti, por isso mantêm-te longe - encerro a chamada.

O que foi isto?

Porque que o Nathan quer saber da Kyla?

E como é que o Jordan tem o meu número?

Nem eu, nem Kyla falámos sobre o que aconteceu, apenas voltamos a arranjar-nos para a festa. Uma festa que já perdi a motivação para ir, mas não posso fazer isso à minha melhor amiga. Ela precisa de mim, principalmente depois desta chamada. Não posso deixar a Kyla aproximar-se do Nathan, senão ela está perdida.

Saímos de casa e vamos a caminhar para a festa, pois fica apenas a uns quarteirões da minha casa. Não existe qualquer tipo de atividade na rua e a única iluminação presente são os postes de luz. Está um silêncio absoluto e, de certa forma, é pacífico.


O local da festa é uma república, ou seja, os donos desta enorme casa são universitários que estão a dar uma festa, onde os intrusos são todos adolescentes. O que pode correr mal?

A república está a honrar a belíssima reputação que todas defendem: adolescentes podres de bêbados que não fazem a mínima ideia como vão chegar a casa. No entanto, o álcool não é o único vício destes jovens, sacos de pó branco também percorrem os corredores desta república.

Ao entrarmos dentro da casa fomos, imediatamente, para a cozinha onde se encontram as famosas bebidas alcoólicas. Enquanto bebo dois shots de vodca, a Kyla decidiu beber toda a garrafa de tequila que se encontrava na ilha. Eu avisei que o álcool seria o seu melhor amigo esta noite. Após beber mais um shot, tento avisar a Kyla que vou dançar, mas ela já não está ao meu lado e sim encostada à parede do corredor com um rapaz moreno. Em outras circunstâncias era capaz de a tirar dali, mas aquilo é a única coisa que a faz sentir bem neste momento e, visto que já fiz o mesmo que ela várias vezes, não a posso julgar. Péssima amiga? Talvez, mas pelo menos não sou hipócrita.

Saio da cozinha e vou até à pista de dança. É um caminho complicado, pois tenho que me desviar de todos os corpos de adolescentes bêbados que se atravessam no meu caminho. A casa está completamente cheia, por isso é realmente difícil movimentar-me no meio deste caos, no entanto, consigo atravessar o mar de corpos que se formou e chegar á pista de dança improvisada. O meu corpo move-se lentamente a cada batida da música, como se a conhecesse perfeitamente. A casa está completamente inundada de adolescentes, por isso sempre que cada corpo balança ao som da música, choca com o tronco de outra pessoa. Para meu azar, choquei com ele.

- Desculpa, foi sem querer - diz e vira-se para mim - Ah Selena, és tu. Então retiro as minhas desculpas - ri.

- Jordan, Jordan... Queres meter-te comigo à força toda - digo perto do seu ouvido, devido ao elevado volume da música.

- Ilude-te com isso, então - sorri maliciosamente - Olha, já que te encontrei, vamos jogar verdade ou consequência, não queres vir? - pretendo dizer-lhe que não, mas ele percebe isso e acrescenta - A Kyla já lá está.

Ia dizer que não à sua oferta, pois sabia que se o Jordan ia estar aqui o seu amiguinho também ia estar. Não tinha paciência para aturar nenhum dos dois, no entanto, o nome da Kyla foi referido e tinha que vir cuidar dela, antes que se fosse arrepender de alguma coisa amanhã. Por isso, assinto com a cabeça e sigo-o até ao canto da sala.

Eu, a Kyla, o Jordan, o Nathan e mais algumas pessoas, estamos todos sentados no chão à volta de uma garrafa de cerveja. Já tivemos vários tipos de confissões, por exemplo: o Nathan confessou que perdeu a virgindade aos 13 - que novidade; uma rapariga chamada Jenny confessou que nunca teve relações sexuais e foi julgada por toda a gente da roda, exceto por mim e pela Kyla; e o Jordan confessou que já pegou todas as raparigas da turma de ciências deste ano. Sobre as consequências, apenas existiram uns beijos e uma rapariga que se despiu. A garrafa foi rodada pelo Nathan e parou nele e em mim e, para meu azar, é ele que faz a pergunta.

- Verdade ou consequência, Selena?

- Verdade - digo e ouço os suspiros das pessoas chocadas com a minha escolha.

Se estivéssemos noutra circunstância escolheria logo a consequência, mas conheço o Nathan e não vinha dali coisa boa, acreditem!

- Quem é a pessoa desta roda que jamais pegarias?

Ele sabe muito bem a resposta.

- Não é óbvio - olho para o Jordan.

Todos da roda começam a rir e a apontar para o Jordan, como se ele realmente tivesse acabado de levar um fora. Não é novidade para ninguém o que acabei de dizer, mas as pessoas não estão habituadas a ouvir ao vivo alguém a rejeitar Jordan Evans.

Observo-o, atentamente, e o olhar dele é indecifrável. O Jordan parece chateado, incomodado, triste? Não sei, mas alguma coisa é. Percebo isso pelo seu semblante cabisbaixo e pelo franzir das suas sobrancelhas. Apesar de tudo, conheço Jordan Evans bem e alguma coisa o deixou desconfortável. Mas não pode ter sido o facto de eu ter dito que não teria nada com ele. Pode? Afinal, isso sempre ficou claro entre nós.

- Amigo, ela não vai mesmo com a tua cara - diz o Nathan ao Jordan.

- Até um dia - diz a olhar para mim e dirijo-lhe o dedo do meio. Voltou ao costume.

- Para mim o jogo acabou - afirmo - Kyla, vamos? Não posso chegar atrasada amanhã. Estou farta de ter a inspetora no meu pé.

- Sim, também acho melhor irmos andando.

Levantamo-nos e acenamos para todos em sinal de despedida, exceto para os dois idiotas, e vamos a caminho da porta. Após termos dado vários empurrões contra as pessoas para se desviarem, conseguimos chegar ao lado de fora da república e caminhamos pela rua até ao meu apartamento. Ao chegar o meu apartamento, eu e a Kyla simplesmente capotámos na cama e adormecemos.

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