Capítulo Seis

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JORDAN

Era só uma noite tranquila que eu desejava. Uma noite em que conseguisse ficar, novamente, livre dos meus pensamentos supérfluos com a ajuda do álcool, de um maço de cigarros e de um corpo de uma miúda qualquer, que provavelmente iria acabar por se atirar a mim e, como um bom samaritano, proporcionar-lhe-ia o prazer que ela deseja e o alívio que eu necessito. No entanto, as coisas, infelizmente, nunca correm como eu intenciono.

Estou no exterior da casa, encostado a um canto, aos beijos com uma loira qualquer, quando a vejo sair pelas portas de correr, dirigindo-se até às espreguiçadeiras e sentando-se numa delas, junto à piscina. Deixo de beijar a miúda à minha frente e começo a afastar-me dela, ouvindo, ainda, um EI atrás de mim, mas não me interessa, neste momento, estou focado noutra pele.

Está demasiado calor esta noite e consigo perceber que ela sente o mesmo, pois observo-a a prender os seus longos, e incríveis, cabelos pretos, que fazem o contraste perfeito com a sua pele branca, quase pálida, num rabo-de-cavalo, dando-me uma visão perfeita do seu pescoço nu, somente coberto por um colar, fazendo-me imaginar como seria passar a língua por todo o seu esbelto corpo, enquanto sentia o mesmo a contorcer-se por baixo de mim.

Ela era a maldita da Branca de Neve.

Selena Campbell, a única miúda que me rejeita, que nunca quis nada comigo e muito menos caiu nos meus encantos. Ela é invulgar, não é como as outras e não sei o que me atrai tanto nela, mas sinto que há algo de especial e de sublime, algo que adorava descobrir, mas que adoraria ainda mais que ela me contasse. Sei que fica frustrada quando olho para ela e não consegue decifrar o que se passa na minha cabeça, mas é isso que eu gosto, porque significa que, apesar de tudo o que ela diz, eu causo-lhe algum efeito.

Ela dá comigo em doido.

- O que estás a fazer aqui sozinha? - pergunto.

- Acho que não tens nada a ver com isso - responde secamente, sem olhar para mim.

Sempre com um humor incrível.

Sento-me na espreguiçadeira que se encontra ao lado da dela e fico a olhar para ela. Ela é incrivelmente bonita, angelical, graciosa. Ela é deslumbrante, elegante, charmosa. Ela é determinada, ambiciosa e rezingona. Ela é resmungona, rabugenta e chata. Mas é ela e foi sempre ela, desde a primária que a tomei como minha, tal com o Nathan tomou como dele a Kyla.

Quando ambos soubemos que elas vinham estudar para Portland e que iam sair de São Francisco, fomos os dois, quase de imediato, falar com os nossos pais, ou melhor, eu só falei com a minha mãe. Dissemos-lhes que tínhamos de vir para o Blake, inventando que seria uma oportunidade única da vida, mas, honestamente, nós só não podíamos deixar as nossas miúdas longe de nós. Como somos melhores amigos desde sempre, os pais do Nathan e a minha mãe concordaram, dado que vínhamos juntos, desde que, de facto, apresentássemos bons resultados. Nunca aconteceu, porém já somos maiores e eles já não exigem nada, visto que perceberam as nossas reais intenções.

Sei que passei imenso tempo a olhar para ela, provavelmente minutos, por isso, e apenas por uns instantes, deixo de observá-la e retiro do bolso um maço de cigarros e o isqueiro. Percebo, através da movimentação do seu corpo, que, pela primeira vez, desde que me sentei ao seu lado, me observa atentamente. Retiro um cigarro do maço, levo-o à boca e acendo o mesmo, como o habitual.

- Eu não sei se tens conhecimento, mas isso é mau e mata - diz, apontando para o cigarro.

Eu sei que ela tem razão, mas a sério?

- Tudo nos mata - digo, enquanto solto a fumaça, mais uma vez - mas só algumas coisas é que receberam o rótulo "nocivo".

Digo isto por experiência pessoal, mas eu sei que ela não sabe ao que me refiro e pretendo que permaneça assim. Qualquer um que fique fudido, eu incluindo. Qualquer um, menos ela.

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