19 EGOÍSMO

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Volker acordou dentro da barraca principal. Os ferimentos em seu corpo estavam cobertos de gelo. O ar ao seu redor estava com uma névoa fria. Ele se levantou com dificuldade, se apoiando nas estacas da barraca ele caminhou até a porta.

Quando saiu, desengonçado, os guardas da porta viraram assustados. Com um olhar assassino perguntou:

— Onde está o príncipe?

Prontamente o mais jovem respondeu apontando uma barraca à frente com o braço tremendo de medo. O segundo engoliu a seco e declarou que iria chamá-lo.

Mas Volker o agarrou pela gola, mais se apoiando do que intimidando.

— Não preciso! — soltou o rapaz e seguiu deixando um rastro frio no caminho.

Vendo a aproximação do homem de cabelos prateados os guardas daquela barraca abriram a porta para avisar o príncipe.

Assim que terminaram o aviso Volker já entrava. Agarrou o ombro de um deles e grunhiu ameaçador.

— Afastem-se... Deixe-nos a sós ou morram congelados... — junto com essa declaração um ar frio e o som de gelo estalando foi deixando enquanto a forma humana passava.

Abel estava conversando com Ian quando Volker entrou de surpresa. O dragão parecia feliz em ter a presença de Ian, tanto que não o mandou embora.

— Não há mais nada á frente!

— Como assim!? — arguiu Ian assombrado.

— Levantaram uma maldição sobre aquela terra, tão forte que mesmo um dragão poderia sucumbi à loucura.

"Poderia?... Você quase matou o príncipe e a si mesmo..." pensou Ian, mas cauteloso não deixou escapar de seus lábios.

— Meu pai... O rei está lá? — Abel quis saber aflito.

— Não o vi. Escute Abel... Não existem vivos naquele local... A cena que vi é de zumbis em guerra descontrolada, o ar fede a carniça e a maldição os faz enlouquecer... Provavelmente um necromante usou magia para criar um exercito de berserker. Não existe um jeito de recuperar aquele local, é melhor esquecer...

— Se meu pai está lá eu irei salva-lo!

— Não escutou o que eu disse!? Você vai morrer igual ele!

— Ele deve está vivo! Em algum lugar seguro, esperando um resgat...

— Ele está morto Abel! Todos que entrarem ali... Também morrerão... Você é o rei agora... — no fim da fala a voz de Volker foi se tornando baixa, lenta e até um pouco pesada. Os sentimentos de Abel ao ouvir aquelas palavras feria seu coração também.

Ian estava tão chocado quando Abel. As declarações do dragão eram difíceis de aceitar, porém para Ian não era surpresa. Depois de tanto tempo sem notícias eles já esperava por algo assim. Embora nunca tivesse coragem de comentar isso com o príncipe.

Abel por outro lado estava sem chão sua voz soou pesarosa, o mesmo tom após a tragédia na torre de Assaph.

— Preciso pensar sobre isso... Me deixem sozinho, por favor...

Acatando as ordens Ian curvou-se e deu meia volta. Abrindo a porta da tenda olhou para trás, conferindo se o dragão o estava seguindo. A visão foi tão estarrecedora que Ian soltou a lona da porta e ficou imóvel assistindo a cena. Grossas lágrimas desciam pela face de Volker.

— Sinto muito Abel, mas não há esperanças...

— Eu preciso ver com meus próprios olhos... 

— Não seja idiota! Vai matar todos esses homens?

— Não vou leva-los comigo, irei sozinho.

Ouvindo isso a face do dragão ficou branca em desespero.

— E Sonia? Suas terras? Seu povo? Você é o rei agora, não pode abandonar todos!

— Cadmo é o rei ainda!

— Ele est... 

— NÃO SABEMOS! Eu preciso vê-lo... ter certeza...

— Como fará com a maldição!?

— Vou desfaze-la!

— Não vai conseguir seu tolo!

— Então vou morrer tentando! Aquelas são minhas terras, irei recupera-las para meu povo.

O tom de Volker ficou ressentido.

— Vai me arrastar para o suicídio? Ficou igual a seus antepassados que mataram meu pai aos poucos?...

Abel enxugou as lagrimas dos olhos e desamarrou a espada do cinto.

— Não Volker... Você está livre, vou desfazer o juramento...

— Não alteza! — ecoou a voz de Ian, que correu para impedir que o príncipe entregasse a espada. Mas caiu aos braços de Abel.

— Volker, o que fez com ele?

— Só o pus para dormir... Arrr... — o dragão enxugou suas lágrimas e continuou — Deveria mata-lo! Que humilhação estou passando, por sua culpa!

O príncipe deitou seu amigo no tapete e rapidamente escreveu uma carta, selou e colocou nas mãos de Ian. O dragão assistia a cena impaciente com os braços cruzados.

— Pronto... Podemos ir... — disse Abel em tom triste.

Os guardas vigiavam a distância e notaram o príncipe sair acompanhado. Ao se aproximarem o dragão assumiu sua forma e levantou voo com sua alteza. Deixando todo o acampamento sem informação e vacilantes sobre o avanço.

 ~ ~ ~

Volker pousou na planície que permitia ver as muralhas da cidade à frente sem dificuldade.

— Não consigo ver nada acontecendo... — a forma humana o segurou pelo pulso e falou num tom calmo e tocante — É uma ilusão. Se avançar mais entrará na maldição antes que possa perceber... Não vá, não abandone todos você é o último herdeiro...

— Já me decidir, vou salvar meu pai e recuperar esse território ou morrer tentando.

Volker apertou o pulso dele com força e sua face se contorceu em aflição.

— Você está sendo egoísta! Se um dragão tem que lhe dizer isso... — a voz do dragão se tornou embargada, não por causa dos sentimentos de Abel, mas eram seus próprios sentimentos saindo à tona.

— Não percebe que quero que fique? Não jogue sua vida fora... Ouça seu tio... Você é o mais próximo que tenho de uma família... Por sua causa odeio menos os humanos...

Abel se sentiu tocado e o abraçou forte.

— Obrigado por ter me ajudado até aqui meu tio... — o príncipe desfez o abraço e estendeu a espada — Está livre do juramento.

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