Carinho

1.2K 89 63
                                    

Fevereiro de 2021

Seu coração estava acelerado, as mãos suando e terrivelmente geladas. Depois de algumas horas de viagem, estavam em frente a casa da mãe de Ricardo, que fica em um bairro afastado do centro. Namoravam - oficialmente - a dois meses e assim que um feriado prolongado deu bobeira Ricardo falava animado em lhe apresentar para a mãe e a sua irmã como namorado. Conhecia as duas da época que estudaram juntos no colégio, mas isso já faziam anos e agora era diferente.

Agora sua sogra e cunhada.

Céus, Sandro nunca teve uma sogra ou uma cunhada.

— Relaxa, boneca. — Apertou os ombros tensos em um abraço.

Pela primeira vez na vida, Sandro realmente queria que alguém gostasse dele.

— O MÃE ABRE AQUI. — Pulou assustado pelo grito e as batidas que Ricardo dava no portão.

O portão menor se abriu revelando uma mulher apenas um pouco menor que Sandro, a pele do mesmo tom de seu namorado e os cabelos cacheados com fios brancos presos em um coque baixo.

— Finalmente! — Os braços magros envolvem Sandro que arregala os olhos em desespero, não sabendo muito bem como reagir apenas amolecendo no abraço caloroso quando viu o sorriso de Ricardo e o retribuindo.

— Oi, dona Rosa. — Falou quando a mulher se afastou, ainda segurando os braços do paulista e o analisando.

— Oi, meu bem!— Sorrindo levou uma das mãos aos cabelos pretos e bagunçou levemente, se virou para agora abraçar o filho que a ergueu pela cintura.— Seu canalha, tava morrendo de preocupação pela demora e nada de você responder minhas mensagens.

— Meu celular descarregou. — Abaixou agora  se curvando para ficar com a cabeça apoiada no ombro da mais velha, a cena era adorável. Sandro sentiu os olhos arderem ao pensar que queria fazer o mesmo com a sua mãe, mas isso nunca foi possível.

— Entrem, fiz café enquanto esperava vocês.

Pegaram suas mochilas e entraram, a área da frente tinha uma moto, algumas cadeiras de praia apoiadas na parede com uma mesa de plástico com um cinzeiro em cima. Ao entrar na casa por último viu Ricardo largar a mochila no sofá cinza e ser recepcionado por uma mulher da altura de Rosa com tranças longas e vermelhas.

— E aí maninha. — Abraçou beijando a testa da menina que sorria.

— E aí insuportável. — Ela puxa de leve um dos dreads enquanto retribui o abraço seus olhos castanhos encontram Sandro.— Nossa, Sandro você conseguiu ficar mais bonito.

— Obrigado. Você também tá mais bonita do que eu me lembrava, Raquel. — Falou sorrindo para a mais nova que veio ao seu encontro e para um abraço.

— Venham comer, tem pão caseiro. — Rosa chamou.

Todos se reuniram envolta da mesa de vidro forrada com uma toalha estampada de frutas, Ricardo colocou uma xícara cheia de café na frente do namorado junto com uma fatia de bolo de chocolate que tinha cortado.

— Como foi a viagem? — Rosa pergunta depois de tomar um gole do café.

— Tranquilo, dormi o caminho todo.

— Tranquilo pra você, demorou duas horas a mais. — Sandro falou.

— Mamãe até pediu pra mandar mensagem pro Sandro pelo instagram mas vocês chegaram na hora que eu terminei de escrever. — Raquel colocava duas colheres de açúcar na xícara enquanto falava.

A conversa seguiu com os três conversando coisas banais, algumas fofocas da vizinhança, Rosa perguntando sobre o trabalho dos dois. Era estranhamente confortável, as duas não forçavam uma conversa com Sandro e Ricardo fazia carinho em seu joelho enquanto tagalerava com a irmã. O café era muito bom, mas dava uma vontade incontrolável de fumar, na terceira xícara o paulista é chamado.

— Sandro, vamos fumar lá fora? — Ele sorriu em alívio, porém olhou de canto para Ricardo que ergueu as mãos.

— Desculpa, soltei sem querer que tava gamadão num emo fumante.

Os dois se levantam para a frente da casa e Rosa se senta em uma mureta puxando a mesa de plástico com o cinzeiro mais perto, ela bate a mão no espaço ao seu lado com um sorriso gentil. Ao se sentar Sandro acende o cigarro e o traga agradecendo a nicotina que acalma seus nervos.

— Eu me senti muito culpada por tirar Ricardo de lá depois da formatura, sei que não podia larga ele sozinho mesmo que tivesse dezoito em uma cidade grande, mas quando chegamos aqui ele parecia muito triste mesmo que tentasse disfarçar perto da avó dele que estava doente. — Suas palavras saem calmas, como se tivesse ensaiado tudo o que falaria antes da chegada dos dois. — Depois de dois meses ele me conto que beijou o garoto que gostava e saiu correndo por medo de apanhar. — Os dois riram, Sandro apertou os lábios e tragou mais uma vez para criar coragem de falar.

— Ele provavelmente apanharia, aliás desculpa por bater no Ricardo...tantas vezes.— Disse receoso.

— Eu sei como ele pode ser irritante e sei que ele bateu também, não se preocupe com isso, vocês eram crianças.

— Eu não mudaria nada...— Começou sem olhar no rosto da mais velha, talvez pela vergonha de ter aquela conversa, talvez pelo medo dela achar ele louco por dizer que não mudaria os tantos anos que demoraram para ficarem juntos. — Eu sempre fiquei muito preso durante a adolescência, na faculdade eu queria viver a minha vida longe de qualquer julgamento do meu pai, apesar da maior parte do tempo só trabalhar e estudar querendo ser alguém que minha mãe se orgulharia.

— Por isso não quis se envolver com o Ricardo até terminar a faculdade?

— Sim, eu mal tinha tempo de comer e dormir quem dirá dar atenção pra alguém tão carente quanto o Ricardo. — Ela riu alto, concordando com a cabeça. — Não seria uma boa pessoa, não como ele merece.

— Ah querido, eu sempre soube que seriam vocês dois no final, antes mesmo dele falar que gostava de garotos também eu percebi. Essa coisa de não falar de quase ninguém do colégio, mas fazia questão de reclamar todos os dias de você, não me enganava. — O jeito carinhoso de falar fez Sandro sorrir. — Ele ainda te chama de boneca?

— Sim, todos os dias.

— Esse menino não toma jeito!

Os dois dias que ficaram seguiram tranquilos, Raquel apresentou o namorado para o irmão e Ricardo até tentou manter a pose de irmão protetor só durando duas latas de cerveja e meia hora depois já chamava o cunhadinho para janta no dia seguinte pois seria ele que ia cozinhar. Dona Rosa ensinou Sandro a fazer nhoque e ele deu de presente uma corrente de ouro branco com um pingente com uma pedrinha vermelha que tinha comprado de presente e pedido de desculpa pelos hematomas que tinha dado no filho dela. Para Raquel deu um kit de anéis pois se lembrou de Ricardo comentando que a irmã tinha tantos anéis quanto ele, ela o ensinou a fazer a manutenção dos dreads do irmão e Sandro prestou muita atenção, gostava de cuidar de Ricardo e se pudesse fazer algo por ele, não hesitaria.

Os olhos de Sandro arderam na despedida, quando Dona Rosa lhe chamou de filho dizendo que com certeza sua mãe estava orgulhosa do homem lindo e inteligente que ela colocou no mundo com aquele abraço carinhoso que só uma mãe poderia dar.

Ricardo chorou vendo a cena, puxou a irmã e quase os esmagou em um abraço apertado falando que amava eles.

...



Ninguém me toca que eu tô sensível.

Aqui quis explicar um pouco do o começo do relacionamento deles, não julguem o Sandrinho ele só não queria assumir uma responsabilidade emocional que ele sabia que não daria conta naquele momento mesmo já amando o Ricardo.

Eu tô escrevendo o Cap APxPR mas acho que vou postar como One-shot separada pra quem não gosta de crackship não precisar nem ver ashuashuuashuahshsu

De janeiro a janeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora