Ressaca

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Março de 2017

Sandro sentiu que algo estava estranho, sua cabeça latejava e o corpo estava doendo tanto que considerou ter sido atropelado na noite anterior. De repente se deu conta que sentia algo mexendo um seu cabelo e um calor anormal em suas costas.

Assombrações geralmente eram frias, certo? 

Será que o diabo veio buscá-lo pessoalmente? Ele pediu perdão na igreja por pegar dinheiro do dízimo que sua vó lhe entregou para levar na paróquia e ao invés disso foi comer lanche. 

A coisa em sua cabeça fazia barulho, ele tentou prestar atenção. Aquilo puxou mais forte ainda seu cabelo e doeu, fazendo o mexer a cabeça. Seus olhos correram para cima, tentando enxergar que tipo de assombração incomodaria ele quando já amanheceu. 

Olhos grandes e uma carinha peluda surgiram. 

A gata preto soltou um miado rouco e pulou do travesseiro para a frente do seu corpo se deitando em uma conchinha olhando de canto para Sandro e miou de novo. Levou a mão até o pelo macio e ela se esticou ronronando, levou o carinho para as orelhas e o queixo sem perceber que sorria. Seu cérebro nem tenha raciocinado o motivo de ter uma gata na sua cama, estava anestesiado pela quantidade de serotonina que aquele momento lhe proporcionava. 

A porta abre e tanto Sandro como a gata pulam, segurando instintivamente a filhote mais próximo a si.

— Eu poderia até esperava encontrar você com um gato na cama, mas não dois. — Philip estava parado na porta do quarto com os braços cruzados e as mesmas roupas da festa. 

— Dois?

— Levanta, acorda o Ricardo e coloca uma roupa. Vou fazer café. 

Roupa? Ricardo? 

— Bom dia, princesa. 

A voz rouca faz seu corpo arrepiar, uma mão desliza por sua cintura e o ar sai do seu pulmão. A gata ao escutar a voz pula pelas cobertas miando desesperadamente, Sandro se vira para poder ver a cena que ele nunca admitiria ser a mais adorável que já havia visto. 

A filhote subiu e ficou em pé no peito de Ricardo enquanto miava e esfregava o rostinho no queixo dele, sorrindo o carioca pegou a gatinha e deitou de lado, de frente para Sandro aninhando o filhote que não queria parar quieto apesar de exigir carinho nas orelhas peludinhas. Quando se deu conta tinha os olhos castanhos esverdeados e olhos azuis si. 

E céus poderia jurar que estava morto e aquele era o paraíso, como aquele homem poderia ser tão bonito de ressaca? 

— O que você... — Olhou brevemente para o seu corpo e o de Ricardo, ambos só de cueca. — Por que a gente sem roupa?  

— Aparentemente a boneca não gosta de dormir com roupa e eu muito menos. — Respondeu despreocupadamente enrolando passando a mão na cabeça do gato de forma que certamente seria muito forte, mas ele parecia gostar.

— Então você deitou pelado do meu lado enquanto eu estava bêbado? — Perguntou indignado.

— Qual é, ta achando que sou o quê? Eu ia dormir na sala, mas a princesinha não parava de miar — Ergueu a gatinha balançando o corpinho pequeno. —, ela exigiu que os pais dormissem juntos. 

Sandro sentiu o rosto esquentar, levantou da cama olhando para os lados procurando qualquer tipo de roupa, encontrou uma calça de pijama xadrez em cima da cadeira que mais servia para acumular roupas jogadas. 

— Cala a boca e sai da minha cama. 

Saiu do quarto e ouviu um miado, virou e a gatinha pulou da cama correndo em sua direção subindo por sua calça que ele teve que rapidamente segurar enquanto ela subia. Quando ela chega até no quadril, Sandro segura e a coloca no ombro. 

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