VINTE E SETE

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 Nossa Senhora das Fontes se revela como um broche enfiado nas dobras de um lenço. Colinas íngremes se erguem por toda parte, rochas e árvores por toda parte, e então somos mergulhados em um denso trecho de lavanda. Campos e mais campos dela na planície no fundo do vale, seu cheiro enchendo o interior do carro imediatamente.

E aninhada entre todo esse verde e roxo está a própria abadia, um pequeno aglomerado de construções feitas da mesma pedra cor de mel de que as colinas são feitas. Entre as encostas repletas de árvores que a cercam, o mar de lavanda e o céu azul radiante, os arredores da abadia são um cartão-postal vivo, e a própria abadia - com mais de novecentos anos - é igualmente venerável e adorável.

Enquanto o carro anda entre os ciprestes altos que alinham o caminho para o terreno, sinto o clima pesado do trem começar a melhorar. Quando olho para Yibo, ele já está me olhando por trás de seus óculos de sol, sua boca curvada em um quase sorriso.

E entre o quase sorriso de Yibo e o cheiro forte de lavanda e ervas selvagens aglomerando-se ao longo da estrada, já estou apaixonado por este lugar.

O que é estranho, porque foi em St. Columba que meu coração acelerou, foi St. Columba que correspondeu a tudo o que eu sabia que precisava, não esse feliz retiro provençal.

Você ainda não foi a St. Columba, eu me asseguro. Você vai adorar quando chegar lá.

Nosso motorista é o irmão Luc, um jovem monge de pele dourada clara e barba bem aparada, e ele é muito mais conversador do que o irmão Xavier em Semois, contando-nos sobre a história da região e da abadia enquanto paramos no estacionamento de pedregulhos. Ele nos ajuda a descarregar nossas malas e depois nos leva até a pequena hospedaria - um prédio baixo de pedra com pequenas janelas redondas e portas de madeira estreitas.

— Só temos mais um hóspede no momento, — diz ele, — porque logo vamos começar a colher a lavanda e a abadia fica bem diferente durante a colheita, pois estamos muito ocupados. Não é bom para hóspedes. Mas vocês não são visitantes regulares - e nosso outro convidado é um padre - então o abade Bernard acha que vocês não vão se importar que estejamos tão ocupados. — O sotaque francês do irmão Luc transforma cada palavra em uma melodia suave - muito diferente do francês mais forte e rápido de Luxemburgo ou Paris. Parece de alguma forma combinar com a paisagem, como se até as palavras aqui fossem ensolaradas e felizes e prontas para sorrir.

— Não vamos nos importar de jeito nenhum, — digo enquanto ele abre uma porta destrancada na outra extremidade da hospedaria, e nós caminhamos pelo corredor fresco e sombreado.

— E estou feliz em ajudar com qualquer coisa que precisarem na colheita.

— Podemos aceitar sua oferta, porque sempre há muito a ser feito, — diz o irmão Luc. E então, acrescenta: — Como você se sente sobre abelhas?

— Abelhas? — Yibo repete com cautela.

— Abelhas, — irmão Luc confirma feliz enquanto caminhamos.

— Elas polinizam a lavanda e depois colhemos o mel delas e vendemos. Usamos na cerveja também. Ah, O quarto está pronto para você, e o que fica no corredor também está pronto.

Entro na cela que ele indica e não posso deixar de sorrir. É mobiliada tão esparsamente quanto se poderia imaginar uma cela trapista, com uma cama estreita de madeira, uma pequena escrivaninha e um crucifixo na parede, mas de alguma forma, ainda é como o resto de Nossa Senhora das Fontes. Radiante com a luz do sol entrando, tudo limpo, fresco e agradável além da imaginação.

Yibo leva sua mala para o quarto e retorna enquanto o irmão Luc nos entrega um pequeno mapa desenhado à mão da abadia e mostra o refeitório, a cervejaria, o apiário e os outros prédios anexos.

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