VINTE E NOVE

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 A gruta é antiga, bonita, mas também muito assustadora. É a entrada para uma pequena caverna, inundada com água de uma fonte interna e guardada por estátuas de pedra desgastadas da Virgem e alguns outros santos, que nos encaram com olhos cegos quando nos aproximamos.

Não sei tanto sobre pagãos e história quanto meu irmão Peng, mas mesmo com base no meu limitado conhecimento, o lugar tem uma vibração super pagã para mim. A água rodopiando aos pés da Virgem. As árvores retorcidas interrompidas por penhascos de calcário e aglomerados de flores pastel-dos-tintureiros amarelos.

Yibo tira os óculos escuros e os enfia na gola da camisa, agachando-se para mergulhar as pontas dos dedos na água. Sua calça jeans ajusta-se ao redor de suas coxas e bunda enquanto ele se agacha, e me lembro nitidamente de como foi pressioná-lo contra a parede do eremitério, e quero isso. Quero isso de novo. Eu e ele, nos tocando, e então ele levanta a cabeça para olhar para mim, e sei que ele vê o desejo em todo o meu rosto.

Seus lábios se abrem e ele se levanta devagar, e talvez não se importe tanto com meu novo corpo, porque dá um passo em minha direção com olhos escuros e famintos.

E então seu celular toca.

Meu primeiro pensamento é fala sério? Tem sinal aqui na Colina da Água Pagã?

Meu segundo pensamento é quem estaria ligando agora?

— É o Zhuocheng? — Pergunto. — Ou Ziyi? Eles estão com os bebês? Atenda e faça com que eles nos mostrem os bebês no FaceTime...

Yibo balança a cabeça lentamente enquanto segura o celular na mão como se fosse uma granada viva. — Não são eles, — diz.

— É Jamie.

— Oh, — eu digo. E então isso me atinge ainda mais forte.

— Oh.

Com os olhos na tela, Yibo solta um suspiro longo e trêmulo. E então ele silencia a chamada.

— Yibo , — digo, sem saber o que dizer a ele, mas sabendo que preciso dizer algo. Além de me dizer que estava tudo bem chupá-lo nas ruínas de Semois, ele não falou uma palavra sobre ele e Jamie, ou sobre o noivado, e de repente imagino por que, por que não tocou no assunto, e talvez seja porque presumi errado, e ele e Jamie ainda estão juntos...

Yibo olha para mim, e tudo o que vê o faz suspirar de novo.

— Terminamos nosso noivado, — diz ele após um minuto. — Se é isso que está se perguntando.

Eu só pisco para ele. É o que eu esperava, e me odiei por ter esperanças, por todos os tipos de razões, e mesmo no meio do meu alívio e da culpa obscura gerada por esse alívio, também sinto dúvida, porque um noivado rompido não significa necessariamente um relacionamento rompido ou um amor rompido. Ele ainda pode estar com Jamie, mesmo que não se casem. Ele ainda pode amá-lo.

E não tenho o direito de me importar, mas, droga, eu me importo.

Yibo entrelaça os dedos atrás do pescoço e se afasta da gruta, e depois volta em direção a ela, com a bolsa de couro batendo na coxa enquanto ele se vira.

— Eu terminei o noivado, — Yibo esclarece. — Fui para casa do Monte Sergius e lhe contei o que aconteceu, e ele queria - ele estava pronto para...

Ele para de andar e deixa as mãos caírem ao lado do corpo.

— Ele estava pronto para me perdoar, — diz estupidamente.

— Ele acha que foi só um lapso compreensível. Um erro inocente. Como se houvesse algo compreensível em trair seu noivo. Como se houvesse algo de inocente na forma como nos beijamos naquele dia.

Santo DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora