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Dom.

Eu estou morrendo, e cada dia que passa sinto o peso disso, embora o médico tenha me dito que tenho mais um ano de vida, ainda sinto que a minha morte pode ocorrer a qualquer momento e eu não estou sabendo lidar com isso, estou cansado, frustrado e bêbado e nem quero ir pra casa porque só de olhar pra Olivia fico deprimido.

Eu não sei como contar isso pra ela, não quero deixá-la triste, já a decepcionei tanto é capaz dela achar que a culpa de eu estar doente é toda minha, mas quem pode controlar essas coisas? Será que errei em amar demais?  Eu amei uma mulher que me traiu e traição é uma das coisas que eu não tolero. Eu a matei e ela matou a chance que eu tinha de ser feliz. Será que estou sendo castigado por isso?

Eu costumava pensar que era imortal, que nada seria capaz de me matar, eu abusava da sorte, zombava da morte, eu me achava o dono do mundo e não me importava com as pessoas, não ajudava velhinhas atravessarem a rua, apesar de ter muito dinheiro, prefiri esbanjar ao ter que dar pra mendigos, eu comprei casas, frequentei cassinos,  morei em hotéis e comprei mulheres, e agora eu quero comprar uma coisa, mas não posso, que é o tempo.

Chega a ser engraçado porque eu sempre atentei contra minha própria vida, pulando na bala, desarmando bombas com as mãos e saindo de lugares em chamas, mas agora que sei que vou morrer estou sendo o mais cauteloso possível.

Talvez porque eu nunca senti que tinha que voltar do trabalho intacto pra abraçar a minha esposa e dizer que a amo. Nunca ninguem importou tanto pra mim e eu nunca me senti importante pra alguém.

Sempre pensei que se eu morresse seria motivo de comemoração, mas não, agora eu tenho alguém que vai chorar por mim. E isso é tão patético e ao mesmo tempo tão gratificante.

Queria mais tempo pra passar com a minha família, e não vou ter, então pra que todo esse dinheiro se não fim não serve pra nada.

Dói pensar que eu não verei o meu filho crescer e que talvez eu nem o veja nascer, dói ter que deixar alguém que demorei muito tempo pra conquistar, desprotegida, sei que a Olívia é uma mulher de fibra, mas ela não conhece nada desse mundo ainda, não sabe o que é  pegar em uma arma e apertar o gatilho, não sabe o que administrar uma organização onde a maioria dos integrantes são homens, fico preocupado com como ela vai conduzir tudo, essa organização tem um imenso valor pra mim, cortei muitas cabeças pra estar onde estou agora, e não queria que alguém destruísse isso, mas acho que escolhi a mulher certa pra honrar o meu sobrenome.

Eu não sou religioso, mas minha mãe me obrigava ir pra igreja, e a única coisa que eu aprendi é que é para o inferno que vão as almas das pessoas más, então é pra lá que eu vou e sei que o meu pai vai me receber de braços abertos e com um grande sorriso irônico no rosto, e quando eu chegar perto dele, ele vai me abraçar e sussurrar no meu ouvido.

" Eu te avisei".

Eu pensei que morreria em confronto quando um dos meus maiores inimigos estivesse frente a frente comigo apontando uma arma pra mim e eu apontando outra pra ele.

Quem morreria primeiro? ficaria curioso em saber, mas no auge dos meus trinta e dois anos vou morrer como um velho de sessenta anos, infartando. Isso é triste.

Meus remédios pra dor tinham acabado, então eu fui até o apartamento do meu médico pra buscar mais, porém quando cheguei lá encontrei ele sentado na cadeira com a garganta cortada.

Foi uma cena chocante até pra mim que já  estou acostumado. Era pra ter sido eu, ele morreu por minha causa.

Pela primeira vez a vida de um estranho me importa, aquele infeliz estava no lugar errado na hora errada, é sempre assim, todos que se envolvem comigo acabam morrendo no final.

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