Vendida

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Olivia.

Nem todas as mães amam os seus filhos, e eu sou a prova viva disso. Minha mãe nunca me amou de verdade, pra ela eu passava de um saco de pancadas, um ratinho de laboratório pra ela testar os limites.

Não entendo porque ela é tão cruel comigo, e também não sei o que leva ela a ser desse jeito, só sei que eu passei a vida toda me culpando, achando que eu era um fardo na vida dela, e nenhuma criança deveria se sentir assim.

E agora ela quer que eu acredite que ela mudou, e que ter vivido na miséria fez dela uma pessoa melhor, talvez se não fosse por todo esse dinheiro, eu até acreditaria.

Mas acontece que a minha mãe não viria de tão longe só porque está com saudades de mim, no mínimo ela deve tá tramando algo.

E ela teve sorte de encontrar um homem tão perverso quanto, um homem, que ela disse que surgiu em sua vida como obra do destino, pois ela jamais poderia imaginar que esse era tão poderoso, e que inclusive também tem pendências pra tratar com o Dom.

Eu não entendo como as pessoas boas só se fodem enquanto as más se dão bem.

Minha mãe sempre vinha com esse discurso de arrependida toda vez que eu ameaçava sair de casa, e depois ela fazia tudo outra vez, e eu nem sei porque eu acreditava nela. No fundo eu só queria ser amada.

Queria uma mãe que realmente se importasse comigo.

Segundo ela, Filadelfo pretendia nos matar, mas ela disse pra ele não fazer isso porque eu era filha dela e ainda inventou uma história absurda de que o Dom havia me sequestrado e me feito de escrava sexual e que os dois filhos que tenho são frutos dos abusos.

Ela me fez confirmar essa história pessoalmente pro Filadelfo, e só eu sei o quanto doeu cada palavra, até porque o Dom pode ser tudo menos esse tipo de pessoa.

De qualquer forma, tocar nesse assunto me deu gatilho, então eu passei o dia todo chorando e relembrando do horror que passei, além de me sentir mal por ter comparado Dom com um abusador, sendo que ele só me deu alegria, me deu uma filha linda, que inclusive tem os olhos dele.

Eu sei que Filadelfo e minha mãe só estão me usando e fazem  isso do jeito mais sujo possível, tentando conquistar a minha confiança para que eu solte as informações que eles querem, mas mal sabe eles que eu não sei de nada, e mesmo se eu soubesse, ia preferir a morte.

O Dom agiu mal comigo, mas eu não serei tão vingativa ao ponto de entregar a cabeça dele. E embora a gente não esteja mais juntos, eu ainda o amo, e  quero que ele saia vivo dessa, como ele  sempre sai.

Se eu correr, o bicho pega se eu ficar o bicho come. Nāo tenho escolha, a não ser ficar e rezar para que eles não descubram a verdade.

Acordei com os gritos agudos da minha filha no berço, e suspirei exausta porque já é a terceira vez.

Eu não tive esse problema com o Noah, porque era a minha mãe que levantava à noite pra pega-lo. Pelo menos isso eu não tenho o que reclamar dela, ela cuidou do meu filho até melhor do que eu, embora tenha sido apenas pra usá-lo depois.

A verdade é que eu fui uma péssima mãe, e quero ser uma mãe melhor para os meus filhos agora, quero estar mais presente na vida deles, e fazer o possível pra não perder mais momentos.

É estranho porque eu me sinto como se estivesse experimentando a maternidade pela primeira vez.

Eu tentava acalmar a minha filha e chorava junto com ela, não é fácil ser mãe, e nas circunstâncias nas quais eu me encontro, então. Sozinha e com um emocional abalado. Não é a vida que eu esperava.