O albino acorda em meio a imensidão de seu quarto, sozinho em meio ao escuro, com milhares de colchas sobre si, nunca tinha sentido isso. Essa inquietude em seu coração, só por só, sem mais ninguém ao seu lado. Em milhares de anos em carreira solo, nunca havia se sentido assim. Seus olhos somente se fechavam para piscar, já que o sono não resolverá o visitar naquela noite.
"Deuses, sabia que era um mal presságio... por que me sinto tão afetado por ele? De certa maneira me sinto feliz pensando em sua imagem."Um pequeno sorriso surge na face do homem inflexível. Coloca um pouco de água em um copo qualquer parado em cima de seu criado-mudo."Teus lindos olhos acinzentados, refletindo a lua..." engasga-se ao reparar no que refletia. Estava ficando louco, ou pelo menos era isso que pensava.
Se levanta, decidido a fazer uma caminhada noturna, esperando que essa aquietasse pensamentos indesejados. Coloca uma blusa social branca e uma simples calça preta, com sapatos da mesma cor. Ninguém o veria naquele horário, certo? A madrugada acompanhado com um céu banhado de estrelas era lindo de se ver, mas se sentia estranho... um vazio havia o preenchido, nem se sabia como. Se sentia em um mundo distópico, abençoado pelas estrelas e mesmo assim tão sozinho. Suspirou, murmurando seus desgostos para o mundo, o céu mudava agora coberto por nuvens.
"Me amaldiçoaram? Tacaram-me milhares de pragas? Ó céus. Acho que no final de tudo, estou pagando pelos meus pecados, pelos meus erros tolos que condenaram milhares de almas inocentes. Este gosto amargo em minha boca, este desprezo a mim mesmo, tudo é consequência de minhas decisões horríveis. Acho que após tanto tempo julgando, eu mereço um julgamento." Gotas de águas ácidas como a imensidão daquele céu, começam a cair pelo chão feito por trabalhadores humildes. Junto da chuva chegava silenciosamente lágrimas escorrendo pelo rosto pálido do francês, que desdenhava toda aquela melancolia, rogava para que pudesse se sentir melhor, algo que já fazia a séculos, mas sem nenhum sucesso.
—Monseur Neuvillete?—Aquele timbre familiar, a sim, aquele que abrira a porta do arrependimento, não que o albino o culpava.—O que faz em meio a chuva? Vai ficar ensopado.—O som mecânico de suas botas aumentavam.
—Fique parado.— Ele vira seu rosto para os olhos gélidos, caminhava lentamente, Wriostheley sentia-se assistindo uma peça de romance, onde descrevem a parada no tempo para ver o amado. "Talvez esteja com muito tempo livre como Clorinde disse." —O barulho de suas botas me incomodam.— Puxou uma mecha solitária do próprio cabelo pelo nervosismo.
—Aqui.—Posava na ponta de seus pés, tentando estender sua jaqueta por cima do juiz, o que era difícil já que além do tamanho avantajado do ser ele possuía as costas mais largas do que de um homem. Um sorriso cresceu no rosto do Iudex, que achara fofo ato alheio.—Você é enorme, isso é algo característico dos dragões?
—Hummm... é uma ótima pergunta, nunca encontrei um semelhante.— Junto seu corpo com o outro, para que assim a grande jaqueta cobrisse os dois da chuva.—O que faz aqui?
—Isso é meio vergonhoso...—Desvia o olhar do meritíssimo para um canto qualquer da cidade. As bochechas estavam levemente rosadas, sentia saudade da cidade, mas este não era seu principal motivo.—Eu estava procurando companhia... era isso.
—Oh...—Um sorriso surge entre os lábios do albino, um tão grande que teve de fechar os olhos, orelha a orelha."O sorriso de Neuvillete era tão bonito... eu gostaria de poder ver ele com mais frequência, entretanto o meritíssimo é muito fechado para si depois de tudo."—Estamos aqui pelo mesmo motivo então duque.
—Ora, não me chame de duque, se estivermos a trabalho não tem problema, mas por favor me chame pelo nome.— Deu ao outro um sorriso gentil, meigo e doce, assim como o outro.
—Me desculpe,contudo creio que não posso realizar este desejo, eu não sei pronuncia-lo.—Em momento algum desviara seus olhos, somente agora, tomado pela vergonha de admitir que não sabia um simples nome.—Posso te chamar de Wrio?
—Claro!— Volta as orbes frias para os olhos indigos, elas brilhavam de empolgação. Parecia um cachorro empolgado com o dono.—Na verdade ficaria muito grato se o fizesse.—Tentava manter a formalidade na fala, para assim, se equiparar ao juiz.
Chegando em um estabelecimento o homem pode finalmente abaixar seus braços, gotas de chuva caiam da peça completamente encharcada. O moreno olhou para o Iudex e se aproximou dele, o mesmo nada fez somente ficou parado no mesmo lugar. Para finalizar a madrugada um pequeno selar foi desferido nos lábios do francês que tentava abrir a boca para aprofundar o beijo.
No final tudo que o Neuvillete pode fazer foi abrir seus olhos, o sol passava por um fio pelas cortinas. "Tudo não passava de um sonho?" Se questionava enquanto involuntariamente passava com o palmo nos lábios, se sentindo triste, como se ele quisesse muito aquele selar. Sentia que perdeu algo precioso, o que na cabeça do juiz não fez sentido. Estava confuso com si mesmo, talvez fosse um fruto dos milhares de anos que vivera ou somente um produto de um desejo guardado a anos, apesar do que seu sentimental queria apontar a sua racionalidade o impedia de aceitar. Aceitar que talvez tenha desenvolvido sentimentos pelo moreno de olhos gélidos, com um cheiro de Chanel Bleu e grande personalidade —não se referindo somente ao seu comportamento.
Balançou a cabeça diversas vezes naquele dia, esforçava-se para tentar se concentrar, entretanto só conseguia pensar naquele maldito sonho. Procurando algo para se distrair abriu uma gaveta, vendo os pacotes de figurinha feitas por Sigewinne, se sentiria culpado mais tarde, porém agora iria notificar que faria uma visita para fortaleza.
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Dragão Hydro Não Chore.
FanfictionWriostheley descobre que Neuvillete é o famoso dragão hydro e resolve brincar com a situação em meio a uma visita, que desta vez gera várias outras, sendo físicas ou frutos da imaginação; mesmo na agenda apertada do juiz. Seus pensamentos não deixav...