Colisão [2ª edição 2024]

15.

Todos eles juntos subiram as escadas se atropelando e cruzaram o longo corredor da casa em tempo recorde.

A sala de estar estava apagada, somente o halo azulado da TV de 90 polegadas projetando uma iluminação difusa. O canal ligado no noticiário ecoava pelas caixas de som:

— A demolição criminal da Rota 66 não possui autores conhecidos, mas os investigadores estão em busca da identificação dos explosivos encontrados no local. A chefe de polícia responsável pela operação ainda não aponta suspeitos — o repórter de rua dizia ao microfone em frente à câmera.

O holofote e os faróis das viaturas iluminavam a rodovia à noite, evidenciando a destruição no asfalto. Atrás deles, o trânsito local era desviado para outra direção. Os caminhões, em especial, viravam os eixos de volta, mudando a rota.

— A passagem está impedida até segunda ordem. As grandes cargas seguirão ao sul, escoltadas pela polícia — o repórter concluiu.

O canal mudou sozinho, os assustando com a quebra da fala. Kurt foi o primeiro a se virar e ver a figura sombria atrás deles, com o controle na mão. A imagem dele piscava em flashes de iluminação conforme os canais continuavam rolando.

Escorado na beira da mesa de jantar vazia, Mackenzie tomava um gole de cerveja direto da garrafa. Parecia inteiro e imperturbável, a não ser por um pequeno corte no supercílio, com uma gotícula de sangue seco escorrido por cima do desenho de uma cruz perto do olho.

Ninguém piscava enquanto olhava para ele, como se a imagem pudesse se desfazer. Deviam estar felizes e vibrando por se unirem todos de novo, mas não estavam.

Kurt tentava entender o porquê seu estômago girava enjoado, numa sensação crescente de nervosismo. Como se estivesse correndo até agora e só então tivesse parado. Ele engoliu o gosto de bile e se deu conta que de fato era isso: a corrida começara no túnel, mas terminava só ali, com todos eles se encarando. E o desfecho inegável era esse: eles tinham perdido feio.

Os canais pararam de passar, estabilizando a luz. Em um momento, Mac prestava atenção no noticiário noturno. No outro, passou os olhos pelo grupo de figuras estáticas com um duro silêncio. Kurt reparou como ele se demorou em Iggy e seus machucados ainda frescos, e também em como Iggy se encolheu para perto da sombra de Cole, tentando esconder as provas daquela derrota decadente.

Mac nem ao menos aparentava surpresa. Parecia saber de tudo, desde o início. Como se, na verdade, nunca tivesse sumido e reaparecido. Como se nunca os tivesse deixado.

Kurt se perguntou o porquê ninguém estava questionando isso. Há algumas horas, estavam todos desesperados para encontrá-lo. Mas, agora, estavam apenas ali, aceitando que ele tinha voltado. Tudo de volta ao normal de repente, sem a mínima discussão sobre isso.

— Onde...? — Kurt começou a questionar, mas foi interrompido por uma mão segurando seu braço.

Era Nash lhe dando um toque de aviso. Um breve olhar de lado, e Kurt o viu balançar discretamente a cabeça. Não faça isso, Nash pareceu dizer.