Entre Telas e Passos

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A manhã seguinte à bem-sucedida exposição era envolta em um silêncio sereno que contrastava com a agitação emocional da noite anterior. Damien acordou com os primeiros raios de sol infiltrando-se pelas cortinas de seu loft no coração de Nova York. O cheiro de tinta fresca pairava no ar, lembrando-o do esforço criativo que culminara na coleção agora exibida com destaque na galeria.

Ao se erguer da cama, Damien sentiu um calor reconfortante irradiando de suas realizações. Seus olhos, ainda carregados de uma noite cheia de emoções, pousaram sobre as telas e esculturas que ocupavam cada canto de seu estúdio. 

Enquanto saboreava uma xícara de café, Damien relembrou os momentos-chave da exposição. A expressão de admiração nos rostos dos visitantes, principalmente do rosto que ele gostaria de rever, Sam. Os murmúrios de elogios e até mesmo a sutil troca de olhares entre alguns espectadores que captaram a essência por trás de suas criações.

O telefone tocou, interrompendo seus devaneios. Era a curadora na galeria, parabenizando-o pelo sucesso da exposição e discutindo os planos para futuros eventos. A notícia de que várias peças haviam despertado o interesse de colecionadores e críticos apenas intensificou o sentimento de realização de Damien.

Após a chamada, Damien se viu vagando mentalmente pelos corredores da galeria. Sua mente, porém, escapou da arte em direção a um momento específico. Os olhos de Sam, refletindo uma curiosidade genuína e uma chama recém-acesa, permaneciam impressos em sua memória.

Enquanto o sol nascente tingia o horizonte de Nova York com tons suaves, e a cidade começava a se agitar em mais um dia. Sam, ao se levantar, sentiu uma vibração diferente no ar. A noite anterior deixara uma marca intrigante, sem pesadelos. Se questionava ainda sobre a exposição que havia visto, tantas emoções expressadas daquela forma lhe chamou atenção. 

O fim de semana chegou com uma promessa de tempo livre e oportunidades para novas experiências. Sam, sentindo-se impulsionado pela energia da noite anterior, decidiu embarcar em uma atividade incomum para ele: correr no parque. Aquela escolha escapava à sua rotina habitual, mas ele estava determinado a explorar novos caminhos, tanto literal quanto figurativamente.

O Sol lançava raios dourados sobre as árvores do parque, criando padrões de sombra que dançavam no chão. Enquanto calçava os tênis e respirava profundamente o ar fresco, Sam sentiu uma mistura de empolgação e nervosismo. Essa sensação também era nova para ele.

Enquanto contornava uma curva arborizada, Sam notou uma figura familiar à distância. Damien, também absorvido pelo cenário do parque, estava lá, explorando os caminhos da mesma maneira inusitada para ambos. A surpresa iluminou os olhos de Sam, e um sorriso involuntário se formou em seus lábios. "Sam...", pensou Damien, as palavras flutuando em sua mente como uma melodia suave, assim que o viu.

Eles se aproximaram, cada passo trazendo-os mais perto um do outro. Quando finalmente se encontraram, o parque se tornou o cenário improvável para um reencontro. Ambos pararam por um momento, ofegantes, mas sorrindo. A respiração sincronizada e os sorrisos trocados eram uma linguagem própria, uma conexão silenciosa que transcendia as palavras.

"Correndo no parque?" Damien perguntou, seu olhar curioso ecoando a surpresa de Sam.

"Algo novo," Sam respondeu, entre risos. "Descobrindo que talvez exista mais para explorar além dos livros e das salas de aula. Isso não é meu forte."

Damien mantinha frequência nas corridas diárias, além das telas em branco, as corridas faziam parte de sua rotina isolada. A escolha de correr lado a lado pode parecer incomum para dois estranhos que compartilharam apenas uma noite, mas era precisamente essa imprevisibilidade que tornava aquele momento tão especial. 

Damien riu, respondendo: "Acredite, também não é o meu. Mas parece uma boa maneira de quebrar a rotina."

A conversa fluía naturalmente, os tópicos variando de suas paixões artísticas a histórias engraçadas do passado. Enquanto trocavam palavras, Damien percebeu a espontaneidade e a autenticidade em cada riso compartilhado.Enquanto corriam, o som suave dos passos misturava-se ao farfalhar das folhas sob seus tênis. O ar fresco da manhã acariciava seus rostos, trazendo consigo o aroma revitalizante da natureza. A luz dourada do sol filtrava-se pelas folhas das árvores, criando padrões de sombra dançantes no chão, enquanto os pássaros entoavam uma melodia natural.

A trilha sinuosa os levou a um recanto tranquilo do parque, onde a cidade se revelava em todo o seu esplendor. Ambos pararam para apreciar a vista, ofegantes, mas satisfeitos.

"Você já se perguntou por que estamos fazendo isso?" indagou Sam, olhando para os arranha-céus à distância.

Damien, após um momento de reflexão, respondeu: "Acho que é sobre escapar do comum. Sobre nos permitirmos algo diferente, algo que nos tira da nossa zona de conforto."

A estranheza inicial da situação se transformou em compreensão mútua, e eles continuaram a corrida, não apenas física, mas também emocionalmente conectados. Cada passo parecia ser uma dança, uma expressão da vontade de explorar não apenas os caminhos do parque, mas também os caminhos inexplorados de suas vidas.

No final da corrida, com sorrisos compartilhados e uma sensação de camaradagem, Damien e Sam se despediram, mas a promessa de mais encontros e experiências compartilhadas estava no ar.

Damien, ao chegar em casa após a corrida no parque, sentiu uma mistura de euforia e inquietação. Parecia inebriado, alguém após tempo havia de fato chamado sua atenção, era amigável e ao mesmo tempo constrangedor a ele. A experiência com Sam o deixou vivaz, mas uma sombra pairava sobre suas emoções. Enquanto observava a cidade através das janelas de seu loft, Damien não podia ignorar a barreira emocional que há muito tempo o envolvia. O que o fez se manter isolado de todos, até mesmo sua família. 

As memórias do passado, cicatrizes de relacionamentos anteriores, pairavam como fantasmas em sua mente. Damien, apesar de sua habilidade de traduzir emoções em arte, encontrava-se bloqueado quando se tratava de permitir que essas emoções tocassem diretamente sua vida pessoal.

Após a corrida no parque, Sam, apesar de ter compartilhado uma experiência única com Damien, considerou-a como uma simples coincidência em meio à vastidão da cidade. Ele caminhou para casa, deixando para trás as pegadas da corrida, mas carregando consigo uma sensação fugaz de proximidade.

Nos dias que se seguiram, Sam mergulhou de volta em sua rotina cotidiana. A exposição de Damien e as obras de arte vibrantes tornaram-se uma lembrança distante, como se o dia no parque fosse um breve interlúdio em sua vida.

Enquanto Sam folheava as páginas do livro em sua poltrona favorita, sua mente ocasionalmente se desviava para a imagem de Damien correndo ao seu lado. 'Coincidência', repetia para si mesmo, resistindo à tentação de dar mais importância ao encontro. No entanto, algo dentro dele sabia que essa corrida, aparentemente simples, estava prestes a desencadear uma série de eventos que mudariam o curso de suas vidas.

Ele decidiu sair para correr novamente, mas desta vez sozinho. Percorreu os mesmos caminhos familiares do parque, os ecos da última corrida misturando-se com os passos solitários do presente. O encontro com Damien se tornava uma lembrança que ele quase conseguia convencer a si mesmo de que não significava nada.

Damien, enquanto observava a cidade através das janelas de seu loft, não podia ignorar a barreira emocional que o envolvia há anos. As memórias do passado, cicatrizes de relacionamentos anteriores, pairavam como fantasmas em sua mente. A arte era sua maneira de traduzir essas emoções, mas permitir que elas tocassem diretamente sua vida pessoal era uma tarefa desafiadora.

Tudo se desenhava incerto, com o destino de Damien e Sam pendendo na balança das escolhas que faziam diante de encontros casuais que poderiam, ou não, transformar-se em algo mais.

Irresistivél (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora