Capítulo 3

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Duca, 28 anos

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Duca, 28 anos

Entrei na boca junto com Ronald, já indo direto pegar os cadernos da contabilidade. Tava longe, mas tava ciente de tudo que se passava aqui, não é atoa que eu sou gerente dessa merda.

Mas foi só eu ir pra São Paulo que o movimento aqui começou a cair, Fera dizia que era impressão minha, agora eu to de volta pra saber se é só impressão mesmo.

Passei as folhas tentando entender essa letra do Rato, pau no cu não presta nem pra escrever.

Duca: ae Ronald - Ele me encarou terminando de bolar um.
Ronald: já te falei que é Paquetá
Duca: tu nem joga bola moleque
Ronald: mas danço
Duca: parece mais aqueles bonecos de posto de gasolina
Ronald: desmerecendo em
Duca: Melina não gosta do Rato né?
Ronald: deu pra perceber?
Duca: ela não fez questão de disfarçar
Ronald: ela apanhou por culpa do Rato
Duca: quem bateu nela?
Ronald: quem você acha? nosso pai né, adora fazer a menina de saco de pancada
Duca: como é? e tu permite isso Ronald? caralho porra, Fera é um marmanjo velho que dá o dobro do tamanho dela
Ronald: eu sei disso, da vez que eu fui separar, até apanhei junto
Duca: filho da puta, aquela menina tem idade pra ser filha dele Ronald
Ronald: Rato forçou a barra com a Melina quando ela já tava com o Fera, mas Rato negou e nosso pai bateu nela dizendo que ela que se oferecia pra qualquer um
Duca: e quem tava falando a verdade?
Ronald: Melina né, óbvio, ela é minha parceira po
Duca: se ela apanha, por que ainda tá com o Fera?
Ronald: ele não deixa ela ir embora não Duca, ameaça, bate, humilha, faz coisa que tu nem imagina
Duca: a facção sabe o que ele anda fazendo? porque nós é contra tudo isso Ronald, só apanha quem merece
Ronald: sabe nada
Duca: velho safado
Ronald: nem fala, mas vem cá, e esse baile amanhã? vai ser o da tua volta
Duca: nada demais Ronald, tu só pensa em farra
Ronald: claro, a vida tem que ser vivida
Duca: pau no cu

Neguei com a cabeça e ele saiu de perto dando risada. Voltei minha atenção pro caderno nas minhas mãos.

Continuei observando tudo que o Rato deixou anotado aqui igual a cara dele.

[...]

Ronald: ae moleque, cervejinha, nessa sextinha linda, to aqui cheio de amor pra dar

Sorri de canto vendo ele todo alegre entrar no bar sambando.

Me sentei na mesa e o Ronald já pediu uma heineken.

Duca: heineken? quem vai pagar isso Ronald?
Ronald: tu né patrão, eu sou pobre fudido, to igual pneu, quanto mais trabalho, mais liso eu fico - Dei risada negando com a cabeça.
Duca: de onde tu tira essas coisas em?
Ronald: eu sou vivido

O garçom trouxe dois copos e a cerveja, encheu e eu já tomei um gole sentindo o amargo gelado.

Ronald: aí irmão, olha ali que belezura, que obra prima da natureza - Falou apontando pra rua.

Olhei na direção que ele apontava, tendo visão de duas meninas conversando em pé do outro lado da rua.

As duas olhavam pra cá, de risinho no rosto, enquanto a morena enrolava o cabelo no dedo.

Duca: quem são? - Falei depois de tomar um gole da cerveja.
Ronald: a morena ali é prima da Melina, meu sonho de consumo, imagina eu no meio daquelas pernas
Duca: emocionado pra caralho
Ronald: mas ela não me da bola po, vive menosprezando, não quer me deixar forte
Duca: prima da Melina é?
Ronald: tu só ouviu essa parte foi?
Duca: não, é porque elas não se parecem
Ronald: tu acha?
Duca: Melina é mais bonita
Ronald: é? - Me encarou rindo.
Duca: ih qual foi?
Ronald: gostou da Melina né? ela é minha parceira, gosto de graça, gente boa demais
Duca: tenho nada a falar sobre não
Ronald: sei
Fera: olha só quem tá aqui

Olhei pra frente onde estava ele e o Rato em pé. Ambos puxaram as cadeiras e se sentaram, em seguida eu me levantei.

Rato: vai sair por que nós chegou?
Duca: é, não sento na mesma mesa que você
Rato: por que esse ódio todo Duca?
Duca: porque eu sei que quando eu levantar vou virar o assunto
Ronald: po irmão e a nossa cerveja?
Duca: depois Ronald

Saí dali indo direto pra minha moto, tirei a chave do bolso e subi nela. Dei partida pra casa e parei em cima do passeio.

Desci da moto e entrei em casa depois de falar com os caras que tavam ali na contenção.

Assim que abri a porta, vi a Melina dançando em frente à televisão, com uma toalha ao redor do corpo.

Fechei a porta devagar e cruzei os braços ficando parado e observando todos os movimentos que ela fazia.

Ela se virou de frente pra mim e deu um grito assustada quando me viu. Se assustou tanto que deixou a toalha cair no chão.

Meus olhos subiram e desceram por seu corpo. A pele morena valorizando o corpo lindo que ela tem.

Melina: ai meu deus

Melina se agachou, pegou a toalha do chão e enrolou em seu corpo.

Melina: a quanto tempo você tá aí? você quase me mata do coração e o que você tá fazendo aqui em?
Duca: eu moro aqui
Melina: agora eu to morrendo de vergonha, ai que ódio - Falou batendo o pé e saiu correndo pro quarto.

Gostosinha mesmo, na verdade, gostosa, toda desenhada.

Desliguei a televisão que ela deixou ligada e me joguei no sofá.

Melina: olha aqui - Saiu do quarto apontando o dedo pra mim. - se você contar isso pro seu pai, eu juro que eu te mato
Duca: contar que eu te vi nua?
Melina: eu não sabia que você tava aqui, eu to acostumada com seu pai não dormindo em casa e o Ronald chegando tarde
Duca: fica tranquila Melina, eu não to nem aí pro Fera
Melina: ai graças a deus

Me levantei do sofá e fiquei na frente dela que já estava vestida em uma roupa de dormir do bob esponja.

Duca: inclusive, pode dançar na minha frente quantas vezes você quiser

Ela arregalou os olhos e me deu as costas correndo pra dentro do quarto. Dei risada e entrei pro banheiro pra tomar um banho.

Mas a cena dela de toalha rebolando aquela bunda grande não saía da minha cabeça.

Fera é um pau no cu, com certeza Melina tem medo dele, não é atoa que mesmo com vergonha veio me pedir segredo.

Só vou respeitar o velho porque talaricagem dentro da favela é trair os irmãos.

Mesmo que ele não esteja respeitando as leis da facção.

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