1 - Keinshki

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Anna on

... o portal se fechando...

-Mãe!!

Acordei com um salto, coração disparado, encharcada de suor, cobertor esparramado no chão... De novo... De tempos em tempos aquele dia volta para me assombrar, sempre volta.

Ainda bem que a janela do quarto fica do lado leste, acordar com os leves raios de sol da manhã sempre ajuda a me acalmar. Levanto e pego no guarda-roupas simples ao lado da cama de solteiro minha roupa habitual de treino: uma calça camuflada escura meio larga, uma camiseta preta justa e um coturno marrom escuro, já meio gasto pelo uso. Atravesso  o quarto e entro na porta de frente pro guarda-roupas, ligo a torneira da banheira e penduro a roupa num gancho ao lado do espelho, e nossa, escovar os dentes hoje vai ser doloroso, considerando os arranhões na gengiva e nos lábios meio arroxiados  causados pelo treino de ontem. Pois é, nada normal para uma garota de quase 15 anos, mas claro, se a minha situação fosse normal. Depois de escovar os dentes relutantemente, tomo um banho rápido, me visto e prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto, antes de sair do quarto e descer as curtas escadas que ligam o primeiro e o segundo andar da pequena casa de pedra.

- Bom dia - digo a Ethan, que estava sentado à mesa afiando uma adaga.

- Bom dia. Pesadelos de novo?

- Como você sabia?

- Está atrasada. Mais que o normal.

- Ah, para vai, não é como se eu tivesse uma agenda lotada - digo, enquanto pego uma maçã da fruteira em cima da mesa.

Desde que Ethan me resgatou à 4 anos e meio atrás, ele tem cuidado de mim e me treinado (muito bem por sinal, levando em conta meus machucados), pela minha mãe. Ele era irmão caçula dela e é um cavaleiro. É minha única família.

Perguntei milhares de vezes o que ela fazia no mundo humano; por que ela tinha me adotado; por que eu tinha que ser protegida; mas ele odiava falar sobre isso, dizia não saber muito e que tudo tem o seu tempo. Era mentira, eu sabia, uma bem descarada na verdade. Viver em Keinshki por esses anos me ensinou muito, mais do que Ethan achava. Viver os perigos desse lugar leva a gente ao máximo e uma mentira dessas não é nada difícil de perceber.

Mas não importava, não mais. Não agora pelo menos.

Aquelas criaturas negras se chamavam vegun, e ninguém sabe de onde eles vem ou quem os cria, só sabemos que são criaturas da escuridão, originadas da magia negra, que é proibida; caçadores programados para achar e matar guerreiros - cavaleiros de dragões que protegem o reino - e que só podem ser parados pelos mesmos; um inimigo que causou muitas baixas, incluindo a toda a família real da época, desde que surgiu, a onze anos, na guerra de anexação do oeste e pegou os guerreiros desprevenidos, um nível de magia negra daqueles nunca havia sido visto antes. Só não perderam a guerra por causa do líder do batalhão principal, Mihulke, general do exército e parte do conselho real, que achou seu ponto fraco rapidamente e aniquilou os exemplares que apareceram na época. Ele foi o treinador do Ethan.

Mesmo Ethan tendo renunciado os exércitos e a insígnia depois da morte da minha mãe, já fomos atacados duas vezes por uma dessas coisas e tivemos que nos mudar para outro esconderijo, afinal, eles não olham para emblemas. A última vez deixou uma bela cicatriz nas costas dele e uma no meu ombro esquerdo. Eles são grandes e rápidos, extremamente fortes e aquela névoa... corta como a melhor das espadas. Só morrem se tiverem o coração perfurado por magia de dragão e graças ao Ethan e a Storm (a dragão dele) saímos vivos dos ataques, já que eu não pude fazer muita coisa - sem magia.

E eu vou matá-los. Todos eles. Vou matar quem os criou e vingar minha família. Nem que isso seja a última coisa que eu faça.

- Essa é boa! Você ainda tem muito o que aprender. 

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