Capítulo 2

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Camila Cabello | Point Of View

Ver o caixão sendo gradativamente baixado e consumido pela terra, fez a ficha cair.

Chris não vai voltar.

É muito difícil, não temos um corpo para velar e o caixão é apenas um símbolo. Isso torna tudo mais difícil de aceitar, meu marido está morto mas seu corpo não estava ali.

Eu assumi os riscos quando aceitei me envolver com um soldado, desde que eu o conheci. Na época, Chris tinha um sorriso sedutor, me ganhou com seu jeito meigo, sorridente e atrapalhado. Nunca escondeu de mim que era da Marinha, quando eu aceitei ficar com ele, eu já conhecia todas as consequências, escolhi conviver com cada uma delas, todos os dias.

Mas há três anos atrás, a ambição do meu marido de ganhar mais dinheiro e de se provar capaz, o fez se inscrever para tornar-se um seal, Christopher passou quase um ano em treinamento e mais dois anos trabalhando em campo, e assim, tudo acabou.

Tive que engolir seco, todas as vezes em que Luna questionava o porquê de não ter o seu pai em reuniões escolares, ou o porquê de não ter quem nos acompanhasse aos passeios no parque quando outras famílias eram “completas”.

Mas, era diferente, porque Chris sempre voltava, mesmo que eventualmente. Mesmo que, nunca para “completar”.

As informações que me foram dadas são superficiais, as operações especiais da marinha desenrolam-se em total sigilo. O que puderam me contar, foi que a equipe que Chris fazia parte, entrou em um prédio em algum lugar do oriente médio, porém não estavam cientes da existência de bombas no local, por isso, infelizmente, não restaram chances de qualquer fuga. Dez homens morreram na explosão, levaram duas semanas até conseguirem material genético suficiente para identificar as vítimas. Chris era uma delas.

— Mama, o papai não vai mais voltar não é? – Olhei para o meu filho em meu colo, ele não parecia triste.

Bobagem da minha cabeça... apesar de muito inteligente, meu filho ainda é muito novo para entender toda a dimensão do ocorrido.

— Não, meu amor… Agora o papai está lá no céu! Mas, parte dele continua aqui... – Apontei para o peito dele e sorri tentando confortá-lo.

A pior parte foi ter que contar para os meus filhos, de onde devo retirar palavras para justificar uma partida sem retorno?

Christopher sempre me disse que receber visitas de oficiais enquanto ele estivesse em campo não era nada bom. E quando eu vi aquele homem fardado parado em minha porta, meu sangue gelou.

Jamais pude imaginar que algo fosse acontecer, eu sempre esperava pela volta do meu marido. Há apenas duas semanas desde a última vez que o vi sair pela porta, ele sorria enquanto dizia que levaria apenas seis meses até o seu retorno.

Eu acreditei fielmente. Esperava pela sua volta.

No final, nunca acreditamos que algo tão angustiante aconteça a alguém tão próximo. A morte é a parte da vida que menos sabemos absorver.

A cerimônia de enterro do meu marido foi repleta de homenagens, Clara e Mike estavam inconsoláveis. Lauren e Taylor estavam o tempo todo com eles, as irmãs do meu marido pareciam rochas sustentando os pais.

Nico não saiu do meu colo, meu caçula estava bastante confuso com toda a situação. Luna, por ser mais velha, já entendia melhor. Ela preferiu ficar com meus pais, desde que saímos de casa, não falou absolutamente nada.

A convivência difícil de Christopher em casa, certamente está colaborando para o conflito das crianças... Devo confessar que também me sinto da mesma forma.

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