Your Skin ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳ

4. Perfil fantasma

📄LUNA

— Ok. Nós temos as suas contas de luz, água, gás e internet. O que você faz na internet além de ouvir podcasts? Você usa redes sociais? — fui perguntando enquanto olhava a correspondência dele.

Vinnie estava sentado ao meu lado tomando uma xícara de chocolate quente enquanto me ouvia com atenção.

— Não, eu não uso nenhum perfil em redes sociais. Costumava usar, no entanto.

— Por que desistiu da vida on-line? Muitas pessoas cegas socializam dessa forma, não? — eu podia estar muito errada, mas com a tecnologia da nossa época isso era possível.

— Sim, muitos cegos tem perfis ativos. — sorriu fraco. — Não foi por isso que eu saí das redes. Eu queria recomeçar a minha vida e aquele tipo de coisa parecia não fazer mais sentido pra mim. Se tornou irrelevante. Pareço um idoso falando assim?

— Não, não parece. Eu também não sou muito fã, mas a Madelaine me obrigou a abrir uma conta no Instagram. Eu mal uso, na maioria das vezes publico um story da Kitty quando ela faz algo fofo e minha última foto no feed deve ser de um ano atrás.

As redes sociais eram a melhor maneira de futricar sobre a vida de alguém e eu até que gostaria de fazer aquilo com o Vinnie. Não estaria procurando nada específico e ele claramente estava aberto a responder quaisquer dúvidas que eu tivesse sobre a sua vida, é só que as pessoas nunca contam tudo, mas a gente pode descobrir nas entrelinhas de seus seguidores, marcações e destaques do story.

Talvez o perfil antigo dele ainda estivesse ativo, apenas abandonado às traças. Eu daria uma olhada nisso depois.

— Você tem uma carta de alguém chamado Josh Richards. — Virei o verso e comecei a ler. — "Olá, Vinnie, espero que esteja bem. Eu estaria se Londres não estivesse tão fria nessa época do ano. Uma pena que tenha desativado sua conta de e-mail, seria uma maneira mais rápida de nos comunicarmos. Caso repense sobre isso, me contate no e-mail que está no final da carta. É estranho não poder ter tanto contato com você como tinha antes, então pense seriamente em abrir uma conta de e-mail exclusivamente para me responder, sério, não precisa nem iniciar as conversas se não quiser..."

Vinnie soltou uma risada baixa e eu tive que parar de ler para olhá-lo sorrir. Estava gostando cada vez mais daquela curva específica nos lábios dele. E mesmo que eu tenha acabado de conhecê-lo, vê-lo feliz me contagiava como se fôssemos amigos de longa data.

— Foi só isso? — ele perguntou com estranheza depois de eu ficar um tempo considerável em silêncio.

— Que? — franzi a testa. — Ah, não! Desculpe. — ri sem jeito. — "...Sua mãe tem me enviado mensagens querendo saber se eu já descobri o seu novo endereço. Não gosto de mentir para ela, estou fazendo isso por você, mas seria bom que tentasse ouvi-la ao menos uma vez. Não precisa dizer onde você mora, apenas faça uma ligação ou uma visita. Deixe-a saber que você está bem..."

Vinnie suspirou depois de eu ler essa parte e em seu rosto ficou claro o aborrecimento.

— "...Vou transferir a minha residência para um hospital nos Estados Unidos, com a preferência de que seja em Washington. Está sendo difícil arranjar isso, mas estou empenhado. Quero estar perto da família. Sinto saudades, abraços da Inglaterra. Ps: assim como você, o Big Ben é superestimado, não é tão lindo quanto dizem."

Outra risada saiu dos lábios de Vinnie. Estava curiosa para saber exatamente quem era o Joshua, já que aparentemente era uma pessoa que deixava Vinnie alegre.

O que mais me chamou atenção foi o problema com a mãe citado naquela carta. Não pensei que as coisas tinham sido tão sérias a ponto de ele não querer contar para a própria mãe onde está morando. Olhe para mim, o meu pai está preso por tráfico de drogas e mesmo assim eu lhe disse a localização exata de onde eu estaria.