Era difícil lembrar o que era real. As sombras do passado se misturavam com as brumas do presente, formando uma dança caótica na mente de Alice. A pequena feérica palhaça, outrora destinada a entreter o público em meio ao reinado tirânico de Amarantha, a boba da corte e divertimento pessoal da bruxa, agora encontrava-se em Velaris. Em um lugar onde a liberdade dançava entre as estrelas e o vento sussurrava segredos antigos.
Alice olhava para as paredes da Casa do Vento, tentando entender como aquilo era possível. As roupas de palhaço ainda a envolviam, como correntes invisíveis que a ligavam a um passado que ela lutava para esquecer. A maquiagem colorida em seu rosto, antes um disfarce para sua dor, agora parecia uma máscara que ela não podia tirar. Não completamente.
Rhysand, seu velho amigo, caminhava com a confiança pelos corredores daquela casa maravilhosa. Ao seu lado, Alice tentava acompanhar o ritmo, mas suas botas de bobo da corte dificultavam um pouco a tarefa. Sua mente girava em espirais, palavras soltas flutuando como borboletas coloridas que ela tentava capturar. O riso, uma melodia falsa que ecoava em seu interior, preenchia os espaços vazios de sua consciência.
"Onde esteve esse tempo todo?" - perguntou Rhysand, com a cara séria e um pingo de tristeza que circulava suas belas feições.
"Para onde vamos quando não sabemos onde ir, meu querido senhor"
A resposta da Alice nunca era certeira, e o grão senhor sabia disso. A cabeça daquela fêmea era uma junção de todos as possíveis teorias do caos, e aquela insanidade transparecia nas palavras e conversas aleatórias que a palhaça tinha consigo mesma.
A boba da corte começou a caminhar um pouco mais devagar que o macho a sua frente, ela ficara tentando não pisar nas linhas dos ladrilhos daquele chão de mamoré preto e branco. Rindo sozinha de seu próprio entretenimento, ela não reparou que haviam chegado ao seu destino quando seu pequeno corpo se chocou com as costas de Rhysand, que estava parado na frente de uma porta.
"A vida anda mesmo com você parado meu querido senhor, acho que tivemos uma ótima demonstração disso agora não acha?"- pergunta Alice com uma gargalha sincera. O macho não consegue conter um pequeno sorriso em seu rosto, realmente sentirá falta de sua amiga.
"Alice, preste atenção, atrás dessa porta está as pessoas mais importante de minha vida. Eles são minha rocha e o motivo que eu continuo acordando todos os dias. Quero que os conheça, e quero que agora você seja parte dessa família. Você foi essa rocha para mim durante 50 anos, protegeu minha parceira arriscando sua vida para Amarantha não matá-la" um suspiro cortou sua fala."Minha chapeleira, se você deseja fazer parte dessa família, peço que cruze essa porta comigo. Caso não seja, fico feliz em levá-la para um apartamento em minha cidade e Feyre irá visitá-la. Mas quero que saiba, que daqui em diante irei te proteger como você me protegeu, não importa sua escolha."
Rhysand achou que já havia perdido a atenção da fêmea em sua frente, pois o seu olhar estava tão distante, que sua cabeça poderia estar viajando entre mundos sem sair daquele corredor. Estava já decepcionado por não conseguir a entreter o suficiente para pensar em sua proposta.
"Eu poderia fazer chapéus? Para todos?" - questionou Alice
O grão senhor ficou perplexo com sua resposta que nada respondia.
"Creio que sim Lice, todos iam gostar de receber seus chapéus. Tenho certeza que Cassian iam ser seu modelo número um" - Rhys termina com um riso escapando de seus lábios.
"Horas que horas, meu querido senhor já estamos então atrasados! Preciso já começar a pegar as medidas de todos! Vamos, vamos abre essa portas!" - pulando de alegria a mesma força seu amigo para frente o fazendo abrir aquelas portas.
Apesar de ter saído apenas uma pergunta sobre chapéus, Alice queria poder dizer tudo que estava passando pela sua cabeça no momento em que fizeram aquela oferta. Ela não queria parecer uma desmiolada como sempre, isso a deixará irritada. Porque chapéus? Porque raios perguntar sobre chapéus? Quando ela queria abraça-lo e explicar o quanto sua gratidão se estendia até as estrelas mais altas daquela corte, e como seu coração e mente torturados ansiavam por alguém para chamar de família, alguém para chamar de lar.
Contudo, mais uma vez, sua mente, sua mente quebrada, a traíra e ela não conseguia gritar ao mundo seus pensamentos.
Ao olhar pra frente, uma luz veio em seus olhos, risadas acariciavam seus ouvidos. Alice viu, pela primeira vez, o que significava felicidade genuína, e não aquela que ela trazia forçada para entreter a bruxa. Ela sentiu, ouviu e cheirou o que era ser feliz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Joker - Azriel
Viễn tưởngSeu riso, embora constante, escondia um eco de desespero. Anos de tormento haviam deixado cicatrizes invisíveis em sua mente, e Alice muitas vezes se perdia em devaneios, sonhando acordada e falando palavras desconexas que flutuavam no ar como pétal...