Capítulo 05: O quarto esquecido

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(DÊ PLAY NA MÚSICA)

Feyre conduziu Alice pelos intrincados corredores da Casa do Vento, os tapetes macios silenciando seus passos enquanto as velas pendiam em arandelas, iluminando o caminho. O silêncio era quebrado apenas pelo suave murmúrio do vento que fluía pelos corredores, uma canção suave que embalava a imensidão da casa.

"Faz tanto tempo, Alice," Feyre começou, seus olhos atentos às expressões sempre inconstantes da amiga. "Como tem passado desde a última vez que nos encontramos?"

Alice, com seu sorriso enigmático, respondeu com uma expressão ligeiramente absurda: "Ah, você sabe como é, minha cara humana Feyre. A vida é uma coleção de chapéus que mudam de forma a cada instante. E você? Como está a dança das cortinas em sua vida?"

Feyre riu, apreciando a excentricidade de Alice. "Sempre tão poética, Alice. Mas falando sério, como tem sido sua jornada desde que nos despedimos?"

"Oh, minha jovem dama Fey, a liberdade é como uma borboleta dançando no jardim dos sonhos! Você não a vê, mas sente sua presença." suspira Alice "A rotina, quando tudo acabou, se tornou um labirinto familiar, e as asas da inércia me mantiveram no solo. Mas, sabe, refletindo sobre tudo isso, percebi que às vezes é preciso desafiar a gravidade da mesmice e aprender a voar novamente. Fico pensando... o que você acha que se esconde nas sombras da nossa existência, esperando para ser revelado?"

Feyre esboça um leve sorriso, balançando sua cabeça, por conta da peculiaridade da resposta de Alice. Enquanto caminhavam, as conversas divertidas continuaram, cheias de referências inusitadas e trocadilhos enigmáticos. Era bom conversar com sua amiga de novo, para a grã senhora, a chapeleira tinha o poder de transportar qualquer um para fora da realidade com as suas conversas malucas.

No entanto, Feyre começou a perceber que algo estava diferente. Alice parecia mais dispersa do que o habitual, seus olhos vagando por cada passagem e porta que passavam.

Alice estava com a cabeça a milhão, parecia que era duas lembranças se chocando querendo brigar por um espaço em sua mente que não existia. Ela se movia com familiaridade pelos corredores apesar de nunca ter visto nada daquilo. Era um sentimento de novidade velha.

"Alice, este é o seu quarto"

Alice sorriu de maneira peculiar, seus olhos faiscando com curiosidade. No entanto, quando Feyre estava prestes a comentar sobre como a Casa do Vento era viva e poderia fazer os seus desejos, Alice continuou caminhando, ignorando o quarto de Feyre completamente.

"Está tudo bem, Lice?" disse Feyre, tentando entender a mudança de comportamento correndo para alcançá-la

Parando bruscamente, fazendo a quebradora da maldição se chocar contra as roupas extravagantes de palhaço. Alice piscou algumas vezes, seus olhos se fixando finalmente na porta do quarto à frente. "Ah, sim, querida FeyFey, as portas são como a escolha de um chá. Às vezes, a xícara certa encontra você, não é mesmo?" respondeu Alice, sorrindo de maneira enigmática.

Feyre franziu a testa, prestes a comentar sobre a peculiaridade do quarto. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, as portas se abriram lentamente, revelando seu interior.

"Isso é... estranho. A casa raramente permite que alguém durma aqui. É como se ela soubesse que só há um verdadeiro residente. Eu, na verdade, nunca convidei ninguém para ficar aqui antes", murmurou Feyre para si mesma, perplexa.

No momento em que Alice cruzou o limiar do quarto na corte noturna, sua respiração se deteve por um instante, rendendo-se à magnificência que se desdobrava diante de seus olhos. A gigante janela, como uma promessa celestial, emanava uma luz prateada que banhava cada centímetro do recinto, transformando o espaço em um reino encantado sob o domínio das estrelas.

Seus olhos foram imediatamente atraídos para a janela, uma obra-prima de pedras cintilantes e molduras finamente esculpidas. Parecia um portal para um universo desconhecido, onde o brilho noturno era tecido em cada detalhe, desde as cortinas bordadas até os contornos das almofadas na majestosa cama. As bordas aparentemente infinitas nas janelas e tetos amplificavam a sensação de que este quarto estava em sintonia com os céus, transcendendo as fronteiras da realidade.

A cama, um santuário de descanso, era uma visão de serenidade. Coberta por travesseiros macios e lençóis de um tecido etéreo, parecia um convite irresistível ao repouso. Alice não pôde deixar de se perder na profusão de brilhos que dançavam sobre a cama, criando um espetáculo de luz e sombra que parecia retirado de um sonho.

As cores suaves e celestiais pintavam o ambiente, evocando uma sensação de paz e contemplação. A paleta de azul-noturno e outro tom azulado familiar, prata e branco puro criavam uma harmonia que capturava a essência da noite estrelada. Cada detalhe, desde o mobiliário elegantemente esculpido até os mínimos ornamentos, contribuía para a atmosfera mágica do lugar.

A luz das estrelas, derramando-se através da janela generosa, tornava desnecessária qualquer iluminação artificial, criando um jogo de sombras e reflexos que transformava o quarto em um santuário de luz noturna. Era como se o próprio cosmos estivesse sussurrando segredos ao ouvido de Alice, envolvendo-o em uma aura celestial que despertava um sentimento de reverência diante da beleza deslumbrante que se revelava.

Assim, a pequena palhaça estava diante não apenas de um quarto, mas de um refúgio encantado onde o extraordinário se encontrava com o sublime, e onde a magia da noite se manifestava em cada detalhe, convidando-o a explorar os mistérios que aguardavam na corte noturna.

O sentimento de que aquele quarto já pertencia a alguém pairava no ar. Para Feyre, o espaço transcendia a mera decoração; parecia ter uma alma, como se tivesse sido habitado por alguém que dedicou tempo, amor e atenção meticulosa a cada detalhe.

Cada traço daquela câmara celestial parecia pulsar com uma narrativa, como se as escolhas de design e os ornamentos cuidadosamente selecionados contassem uma história de beleza e cuidado. O jogo de luzes e sombras, a delicadeza das texturas e a harmonia das cores evocavam uma sensação de pertencimento, como se o quarto tivesse sido moldado com um propósito específico em mente.

Feyre, fascinada, imaginou o dono anterior, alguém que teria vivido ali, envolto na serenidade e na magia que emanava de cada canto. Para ela, era como se a essência daquele espaço estivesse impregnada de memórias e emoções, como se as paredes soubessem sussurrar segredos de tempos passados.

No entanto, quando Feyre ousou questionar seu parceiro sobre a história do quarto, uma revelação desconcertante a aguardava. Ele, com uma expressão calma e firme, assegurou-lhe que o quarto nunca teve um morador anterior. A perplexidade tomou conta de Feyre, pois as emoções entrelaçadas na decoração pareciam contar uma história que agora se mostrava ilusória.

Ao receber a notícia de que o quarto sempre estivera vazio, um misto de confusão e melancolia invadiu o coração de Feyre. A ideia de um espaço tão belo e cuidadosamente elaborado não ter sido preenchido com a vida de alguém a deixou com uma sensação de desolação, como se a alma do quarto, tão evidente para ela, fosse apenas uma miragem fugaz.

E agora, a casa escolheu uma pequena palhaça, com a mente estilhaçada e um coração maior do que muitos poderiam imaginar, para que fosse a habitante daquele quarto.


Joker - AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora