Capítulo 08: Campo sangrento

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Azriel recostou-se na cama, seus músculos tensos ansiando pelo conforto da escuridão. A exaustão pesava em seus olhos, mas o sono se esquivava, como se temesse adentrar os recantos sombrios de sua mente. A cama era macia, mas sua mente era uma batalha aguardando por sua própria guerra.

A escuridão o envolveu, como uma capa que esconde segredos insondáveis. Inicialmente, o sonho era tranquilo, um refúgio temporário para a mente atormentada. Mas então, sem aviso, as sombras se transformaram em um campo de batalha, e Azriel se viu transportado para um passado sangrento.

O campo de batalha estendia-se diante dele, um mar de corpos e lâminas. O ar estava impregnado com o cheiro de ferro e desespero. Feéricos tombados, aliados e inimigos, formavam um tapete de morte sob seus pés, tombavam como dominós, suas asas quebradas e corpos inertes marcando o desenrolar da carnificina. A terra, agora banhada em sangue, absorvia a tragédia que ali se desenrolava.

Azriel estava no meio do caos, suas asas escuras abertas como uma sombra vingadora. Sangue salpicava seu rosto, e o som das lâminas colidindo era ensurdecedor. Ele lutava com ferocidade, seus olhos ardendo com uma determinação silenciosa. A guerra havia mudado quem ele era.

O solo tremia sob os passos de feéricos, seus olhos sombrios e dourados focados em inimigos distantes. O som das espadas colidindo ecoava pelos ares, acompanhado pelo grito agudo de criaturas sobrenaturais que se chocavam em uma dança mortal.

O céu, que outrora teria sido uma exibição majestosa de estrelas, agora era um turbilhão vermelho de fúria e caos. Magia crepitava no ar, lançando feixes de luz mortífera contra os feéricos que lutavam pela sobrevivência. As asas de Azriel batiam, cortando o ar com uma destreza letal enquanto ele mergulhava entre as fileiras inimigas.

O encantador de sombras enfrentava uma maré de soldados de Hybern, uma torrente aparentemente inesgotável. Cada golpe de sua lâmina era uma dança coreografada, uma manifestação de sua maestria nas artes da guerra. O suor escorria por seu rosto, ele pensava em seus irmãos. Será que o pai de Rhysand sabia o que estava fazendo, guiando todos esses feéricos da corte noturna para esse pesadelo?, ele se questionava.

No entanto, em meio à tempestade de batalha, algo capturou sua atenção. Um rosto emergiu do tumulto, uma figura solitária observando-o com olhos que pareciam desafiar a própria morte. Azriel tentou focar, mas a visão era embaçada, distorcida pelas linhas de combate.

A pessoa misteriosa permanecia imóvel, destacando-se no caos. Azriel sentiu uma atração inexplicável, uma necessidade de alcançar aquele rosto que persistia em sua mente. A cada passo parecendo uma eternidade enquanto lutava para alcançar aquela presença misteriosa.

Contudo, a guerra tinha sua própria agenda. Cada investida para chegar até a figura parecia empurrá-la para mais longe. Azriel corria em direção ao desconhecido, a pulsação da batalha ecoando em seus ouvidos. A imagem se desvanecia, mas a necessidade de descobrir sua identidade o impelia a continuar.

Cabelos loiros ao vento, foi o que conseguiu distinguir ao meio do vermelho sangue que tingia a imagem à sua volta. Sentiu-se motivado a seguir, mas a imagem escapava de suas mãos como fumaça. Ele corria em vão, perseguindo um espectro do passado.

E então, como um sopro de vento, o sonho se dissipou.

Azriel acordou, uma dor pulsante em sua cabeça. O sol raiava do lado de fora da cortina, e seus olhos se contraíram com a intensidade da luz. Tentou agarrar os fragmentos da visão, mas eles escapavam como sombras fugidias. Uma sensação de perda persistiu, uma memória que se desvanecia como a neblina da manhã.

Azriel despertou abruptamente, uma dor latejante em sua cabeça como se tivesse trazido consigo os resquícios da batalha onírica. O quarto estava banhado pela luz da manhã, as cortinas filtrando os primeiros raios de sol. Seus olhos, acostumados à escuridão, protestaram contra a súbita luminosidade.

Com uma sensação de desorientação, ele tentou reunir os fragmentos do sonho que ainda dançavam em sua mente como sombras evasivas. Sua mão buscava no ar como se pudesse agarrar as imagens fugidias, mas elas escapavam como fumaça entre os dedos.

A dor em sua cabeça se intensificou, como se o próprio sonho resistisse a ser lembrado.

Azriel piscou, forçando a visão a se ajustar à claridade invasora. As lembranças do campo de batalha, da figura misteriosa e dos cabelos loiros ao vento, eram como miragens distantes. Ele fechou os olhos por um momento, tentando mergulhar novamente nas profundezas do sonho, mas tudo o que restou foi um vazio.

Os detalhes se dissiparam como névoa ao sol da manhã, deixando apenas a sensação residual de algo perdido. Uma pontada de frustração se manifestou enquanto ele tentava desesperadamente segurar as lembranças, mas elas escapavam como pássaros assustados, voando para longe.

Os sons da manhã, o chilrear distante dos pássaros e o suave farfalhar das folhas ao vento, penetraram na sala, lembrando-o da realidade que agora se estendia diante dele. Azriel suspirou, resignado à fugacidade dos sonhos. A batalha, a figura misteriosa, tudo se desvaneceu como se nunca tivesse existido, deixando-o com uma sensação de inquietude persistente.

Ele se ergueu da cama, os pensamentos ainda turvos com os ecos daquela experiência onírica. A luz da manhã banhou o quarto, revelando detalhes familiares que contrastavam com o nebuloso terreno de sua mente. E assim, Azriel se viu mais uma vez enfrentando o dia, enquanto as sombras do passado se dissolviam, sussurrando segredos que permaneceriam inalcançáveis.

Joker - AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora