Passando a caixa de abobrinhas para debaixo de um braço, ele pôs a outra mão na base das costas de Mon e conduziu até o interior do restaurante.
— Nada disso. Vai almoçar comigo. Afinal de contas, você precisa comer.
O interior do restaurante estava vazio e escuro como uma caverna, a cor de suas paredes impossível de discernir por trás da floresta de fotografias emolduradas, recortes de jornal, menus antigos e guardanapos rabiscados com assinaturas indecifráveis. Samanun a conduziu até uma mesa no canto mais distante, e puxou uma cadeira para ela.
— Na verdade, não preciso.
Murmurou, pegando o menu para segurá-lo na frente do rosto, de modo que ele não pudesse ver suas faces ruborizadas.
— Como o homem disse, eu obviamente conheço tudo sobre boa comida.
Samanun gentilmente retirou o menu das mãos de Mon e o pousou na mesa. Em seguida estendeu a mão até o rosto dela, para retirar seus óculos escuros.
— Foi um elogio.
Os olhos negros de Samanun a envolveram.
Era como estar ao ar livre na noite de verão mais quente do ano, e se sentindo completamente segura em meio às trevas. Por um momento ela simplesmente olhou de volta para ele, sem pensar, sem querer pensar. Apenas desejando desfrutar daquela sensação indefinível e inexplicável de estar sendo protegida...
Ela piscou, e desviou o olhar com um sorriso rápido e carregado com desprezo por si mesma.
— Pode me dar licença por um momento?
No pequeno banheiro feminino do restaurante, Mon fitou combalida seu reflexo no espelho.
Seu rosto reluzia com suor e o sol já provocara sardas em seu nariz, mas isso não era nada em comparação ao estado calamitoso de seus cabelos.
Com um gemido de desânimo, retirou a faixa das Princesas Disney que fora a primeira coisa que encontrara naquela manhã e freneticamente correu os dedos por cabelos que a chuva da noite anterior, seguida por esfregadas vigorosas com uma toalha, tinham transformado numa juba emaranhada.
Suspirou tão forte que um cacho flutuou por um momento antes de descer de volta até seu nariz. Agora precisava decidir o que era pior: a faixa cor-de-rosa e cintilante com o desenho da cabeça de Cinderela, ou o visual de hippie desvairada?
Resignada, abriu a bica e molhou as mãos com água fria antes de corrê-las pelos cabelos numa tentativa de achatá-lo de volta a alguma aparência de normalidade. Ao menos com o cabelo baixo Mon teria algo por trás do que se esconder.
Samanun serviu vinho em duas taças ao vê-la se aproximar entre as mesas. Isto era algo para se comemorar, porque não teria ficado surpresa se ela houvesse fugido para a cozinha.
Estava acostumada com mulheres que faziam jogos complexos para atrair sua atenção e mantê-la interessada, e suspeitava que o último caso de Nitta começara exatamente assim.
Mas essa garota, pensou Sam ao vê-la correr a mão pelos cabelos que acabara de abaixar, essa garota preferiria estar em qualquer outro lugar, e era absolutamente incapaz de esconder isso. Essa fora uma das primeiras coisas que notara nela, quando a conhecera na Inglaterra. Suas emoções estavam sempre estampadas no rosto bonito e franco, o que facilitava imensamente para conhecer mais a respeito do seu avô. Apenas precisava fazer com que ela relaxasse um pouco.
Empurrou uma taça de vidro para ela quando voltou a sentar, e foi recompensada com um sorriso rápido que provocou covinhas em suas faces como se ela tivesse apenas 16 anos.
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My Love, Your Heart
FanfictionEm uma viagem à Inglaterra em busca de inspiração para um novo filme, a diretora Samanun Anuntrakul a encontra na forma de uma mulher tímida e misteriosa cuja doçura e cândida beleza lhe fascinam. No entanto, Korkamon Armstrong é também herdeira do...