Ficção

Elenco - Parte 2

Nueng adentrou o local majestosamente; contudo, seu terno preto formal parecia destoar da atmosfera descontraída da festa na piscina. Por outro lado, Palm parecia mais integrado ao ambiente, vestindo uma bermuda clara e uma camisa havaiana. Sua experiência como pescador o tornara habituado ao clima praiano.

Após as apresentações, Nueng aceitou trocar de roupa, escolhendo peças mais leves emprestadas de Thiwson. Optou por um refrigerante gelado, já que cerveja e outras bebidas alcoólicas estavam fora de cogitação. Enquanto Nueng apreciava o churrasco, relembrava os tempos em que havia saboreado essa iguaria escondido na ilha, na companhia de Palm, na pensão de sua mãe. Enquanto isso, Palm se divertia dançando na beira da piscina com Akk, White e Gemini.

— Não sou uma pessoa muito religiosa ou ligada a coisas místicas, talvez seja por eu ser um homem de negócios — Disse Nueng, segurando nas mãos todos os arquivos devidamente impressos, referente a vida de Gemini e Fourth, assim como a viagem para outra dimensão — Mas quero ajudar no que eu puder. Tenho uma dívida enorme com Tinn e quero muito ajudá-lo a voltar para cá.

— Dívida enorme? — Perguntou Fourth, sem entender qual a relação entre Tinn e Nueng, personagens de séries distintas — Desculpe minha curiosidade.

— Sem problemas, não é segredo que Tinn me ajudou muito quando mais precisei. Ele fingiu ser eu diversas vezes para que eu me encontrasse com Palm. Não somos idênticos, mas dizem que somos parecidos, e conseguimos enganar os seguranças diversas vezes.

— Isso é surreal — Fourth deu risada — Agradecemos sua colaboração, toda ajuda será bem vinda.

— Posso ajudar com investimento. Não se preocupem com dinheiro, o que precisarem é só me dizer que irei ajudá-los.

— Praticamente o Batman da GMM — Disse Fourth.

— GM o que?

— Nada não, assuntos do meu mundo.

Thiwson se ergueu e dirigiu-se ao portão para receber as últimas visitas que ainda faltavam.

Ayan entrou no local com uma postura imponente, olhar debochado e as mãos nos bolsos, vestindo um moletom preto com capuz, típico de adolescentes que saem da escola usando moletom mesmo em dias escaldantes. Akk acompanhava Ayan, sempre educado, com um sorriso no rosto, trajando o uniforme da escola para meninos e exibindo com orgulho sua braçadeira de Presidente Estudantil.

— Agora temos dois Akks — Fourth deu risada.

— E dois Presidente Estudantil — Gemini olhou com deboche.

— É aqui que tem um mistério para ser desvendado? — Perguntou Ayan com autoridade — Sou bom nisso, modéstia à parte, além de lindo sou muito inteligente. Conquistei esse aqui em questão de segundos — Ayan apontou para o seu Akk — Para quem não me conhece, sou Ayan, amor da vida de Akk, nosso Presidente Estudantil. Queremos ajudar nessa missão, apesar de parecer um tanto fantasiosa, mas gosto de bons desafios.

— Vamos estudar essa situação juntos — Disse Akk, com sua pose de Presidente Estudantil, ordeiro e metódico — Se pensarmos com clareza poderemos chegar a uma solução para trazer nossos amigos de volta, e por consequência, para Gemini e Fourth voltarem para seus devidos lares.

Todos os convidados já estavam cientes da situação, graças a um documento explicativo que Thiwson enviara por e-mail. O PowerPoint detalhava minuciosamente as experiências de Gemini e Fourth, explicando como foram parar na outra realidade, além de fornecer informações sobre cada um no universo de Gemini e Fourth. O conteúdo do documento era claro e bem explicado, mas o design... bem, era uma mistura única de transições e elementos visuais um tanto questionáveis. Thiwson, no entanto, parecia ter se divertido bastante criando aquilo.

Depois de uma tarde regada a bebidas, comida, dança e diversão na piscina, todos descansaram por algumas horas. À noite, estavam prontos, sentados ao redor de uma grande mesa, aguardando Thiwson iniciar a reunião.

— Agradeço a presença de todos — Disse Thiwson ao se levantar — Começaremos agora a CPI TinnGun.

— CPI? — Black arqueou as sobrancelhas.

— CPI TinnGun? Não curti esse nome — Disse Ayan — Poderia ser CPI da Capibara. Acho que faz muito mais sentido.

— Pelo amor de deus, Ayan — Theo revirou os olhos — Você nem deve saber o que é uma CPI.

— Cala a boca, seu lambe páginas. Para sua informação fui o melhor aluno de Ciências Políticas, tirei nota máxima em Sociologia, História, Políticas Públicas e História Política.

— Eu gosto de política — Disse Black — Mas diferentemente dos dois padrõezinhos ricos, eu luto pelo povo. Faço justiça com as próprias mãos. Viva a revolução!

— Ta bom, ta bom, sem atritos — Disse Thiwson — Precisamos nos unir, mesmo com nossas diferenças, por um bem maior. Vamos começar agora a CPI TinnGun.

— CPI da Capibara — Ayan sussurrou.

— Para começar, preciso saber se algum de vocês teve alguma experiência mística.

Todos se olharam, depois tentaram recuperar memórias antigas para ver se tinham tido tais experiências.

— Quando eu leio livros...

— Livro não conta, Theo — Ayan o interrompeu — Eu já tive umas experiências bem místicas...

— Drogas não contam, Ayan — Theo o encarou.

— Quando eu estava no mar — Disse Palm —, velejando em busca de bons peixes, eu presenciei muitas coisas inexplicáveis, uma delas foram as misteriosas e sanguinárias sereias. Teve um dia que...

— Sério? História de pescador? — Perguntou Black, impaciente.

— Gente, vamos respeitar o amiguinho — Disse Thiwson — Sem mais interrupções, todos estão livres para compartilhar o que quiserem, qualquer relato é útil.

— Concordo — Fourth balançou a cabeça afirmativamente.

— Religião, talvez — Disse Palm —, espiritualidade pode ser a chave para desvendar esse mistério.

— Já tentamos isso e o mesmo monge que ajudou outros amigos não pôde nos ajudar, pois segundo ele, essa não é a nossa resposta.

— Certo, continuem dando seus relatos — Thiwson anotava tudo conforme iam falando, desde os relatos mais absurdos aos relatos mais plausíveis.

Enquanto todos falavam, Nueng, em silêncio, registrava meticulosamente as informações em seu notebook. Realizando um brainstorm, ele organizava tudo o que estava sendo discutido na reunião. Separando os assuntos por pautas e complementando com gráficos e uma linha do tempo, Nueng buscava proporcionar uma visão mais clara e assertiva em direção a uma possível solução.

— Minha conclusão — Disse Fourth, desanimado —, é que nenhum dos presentes tiveram uma experiência mágica.

— Como assim não tiveram? — Perguntou Nueng — Para mim está tudo muito claro.

— Claro como?

— Veja bem — Nueng virou o notebook para que todos pudessem ver. Preferia ter um projetor para fazer uma apresentação mais elaborada, mas falou de suas teorias como pôde — Olhem essas métricas, análises e gráficos. Veem alguma relação entre nossas histórias? Por mais diferentes que sejam?

Todos olharam atentamente os gráficos, somente Ayan, Theo e White conseguiam entender aquelas fórmulas, porém, ainda assim não fazia sentido.

— O que isso tudo quer dizer? — Perguntou Gemini.

— Qual é a única situação parecida em nossas histórias?

Gemini pensou um pouco e então abriu um sorriso enorme ao entender as teorias de Nueng.

— OS SONHOS!