Capítulo 8

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Sirius Black

Sirius olha o que sobrou da lebre agora morta aos seus pés, há sangue em suas patas e ele sente o terrível gosto ferruginoso em sua língua.

De todas as coisas que ele já pensou que lhe aconteceriam no futuro, devorar uma lebre na Floresta Proibida enquanto está em sua forma animada não era uma delas. Ver seu melhor amigo, seu irmão de alma, morto também não, mas o mundo dá voltas e o destino o odeia.

Ele, Sirius Black, é o primeiro filho Black de sua geração, herdeiro, prestigiado, rico e esnobe. Mas ele não quis isso, ele nunca quis ser parte de sua família. Regulus era a única coisa boa em sua família, a única razão pela qual ele aguentou estar naquela maldita casa por quinze longos anos.

Ele passou a infância comendo do bom e do melhor — quando não estava de castigo trancado em seu quarto —, mesmo depois de sua fuga, quando passou a morar com os os Potter, Euphemia — a santa e maravilhosa mãe de James — fazia de tudo para fazê-lo se sentir em casa, se sentir amado, até descobrindo os pratos favoritos dele e os fazendo em ocasiões especiais.

Eles o ensinaram como uma família deveria ser, como o amor deveria ser. Ter uma mãe e um pai de verdade que o ame não que só quer por aparecia.

Foram os melhores e piores anos de sua vida. Por mais que ele se apegasse a todo o amor, o carinho, a atenção que recebia, sem toda as maldições, xingamentos, humilhações e brigas, ter a paz pela primeira vez em sua vida fora de Hogwarts, mesmo com tudo isso a culpa ainda corria seu coração, rasgando-o como um pedaço de carne inútil, e ver Regulus nos corredores da escola só pioravam. Quando não era ignorado por completo, eles só se comunicavam através de gritos e ofensas e por mais que isso doa profundamente em Sirius, ele preferia isso a ser ignorado como se não fosse nada por seu irmãozinho.

Ele sabe que Regulus o culpa por fugir, ele próprio se culpa por não ter estado ao lado de seu irmão, por não o proteger, mas Sirius não acreditava que poderia sobreviver mais tempo com seus pais.

Seu tempo em Azkaban o fizeram imaginar que talvez se ele não tivesse fugido, se apenas tivesse morrido naquela casa durante um dos ataques de raiva de sua mãe, talvez as coisa tivessem sido melhor para as pessoas que ele amava.

Anos se passaram e a culpa ainda o corrói lentamente.

Ele se estabeleceu, aceitou seu destino de passar o resto de sua vida em Azkaban, ele fez por merecer estar lá. Apesar de que suporta o Ranhoso não era algo que ele esperava. Claro que ele sabia que o imbecil era um Comensal da Morte, ele já imaginava que esse seria o destino do idiota desde o começo da guerra, com eles ainda como estudantes.

Mas ele também imaginou que o idiota morreria, não que ele fosse ser capturado — burro — e jogado em Azkaban. Que no fundo é o lugar dele mesmo.

Lembrar de Ranhoso o fez lembrar de comida novamente. Um dia ele comia em grandes banquetes, no outro todos os dias era mingau. Sempre horrível.

Mingau três vezes por dia, ou quase, em alguns dias ele e Snape gastavam uma refeição jogando-a um no outro quando estavam cansados demais para ficar gritando um com o outro como nos outros dias.

Eles começaram a ficar sem ofensas originais depois de um tempo, foi a primeira vez que Sirius lançou o mingau na cara de Ranhoso. A cara dele foi extremamente divertida de se ver, enquanto um punhado do grosso mingau escorria por seu queixo e pingava pelas pontas do cabelo oleoso dele. Não durou muito, o imbecil revidou.

Foi a primeira vez que eles dormiram de estômago vazio, e o último que Sirius sorriu.

A estranha sorte deles é que os dementadores não os visitava com regularidade, na verdade eles deixavam os dois se xingar e se amaldiçoarem o quanto queriam. Quem reclamava de todo o barulho que suas brigas aos berros causavam era Bellatrix que estava presa no final do outro corredor, vez ou outra se podia ouvir a ela gritar para que eles calassem a boca.

O Prisioneiro de Azkaban: Regulus Black, O Mestre de Poções (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora