Doze

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Oii Gente, estão gostando da fic? Venho aqui pedi desculpa por demorar a atualizar, é que està semana tá corrido demais, tô no período final do semestre e tá na semana de prova, mas prometo que logo volto a postar com mais frequência... Bjs e boa leitura. _______________________________

— É você, Pri? — grita Curtis, assim que entro em casa.
— Não, é um ladrão entrando na sua casa para roubar todas as suas pedras preciosas — respondo, em um tom alto.
Há uma pausa, e sinto um frio na barriga, com medo de ter exagerado na brincadeira. Mas, de repente, uma risada grave vem da sala.
— Elas não valem tanto assim — devolve ele. — Ainda tem um pouco de comida, se quiser. Não sabia que horas você ia voltar.
Suspiro e vou até a sala de estar. Ele está sentado no sofá, vendo TV.
— Você vai me dizer a hora em que devo voltar para casa?
— Não — responde ele, parecendo horrorizado. — Eu deveria fazer isso?
A pergunta parece ser para mim e para ele mesmo. Ou talvez Curtis esteja perguntando para alguma entidade da parentalidade que ele está tentando evocar para ser agraciado com conhecimento. Fala sério! Vai ler um livro, cara. O que não é falta é gente por aí escrevendo sobre o assunto. Tem mães e pais ruins demais no mundo para que isso não seja uma oportunidade de negócio.
— Comprei um celular novo para você — anuncia ele, apontando para um aparelho em cima da mesa de centro. — Talvez não seja uma boa ideia nadar com ele.
— Obrigada. Posso te pagar de volta...
— Pri — interrompe ele, suavemente. — Não precisa.
— Eu vou arranjar um emprego — insisto. — Ajudar nas contas...
— Você vai começar em uma escola nova em breve. Esse deve ser seu foco.
— Você nem sabe se minhas notas são boas — murmuro.
— Mas você pode me contar — sugere ele, se ajeitando no sofá e abrindo espaço para mim.
Por alguma razão, eu começo a me aproximar, mas percebo que Curtis fica um pouco perplexo.
— O que foi? — pergunto, olhando para trás.
Não tem nada atrás de mim. Será que é algo no meu rosto?
— Sua jaqueta — responde ele, com a voz embargada de repente.
— O que tem? — questiono, segurando a peça contra o corpo.
— Onde encontrou? Umedeço os lábios. — Era da minha mãe.
Não sei se já disse "mãe" em voz alta desde que cheguei aqui. A palavra tem um sabor estranho na boca, como se eu tivesse esquecido como era quando eu a falava várias vezes por dia. Será que, um dia, vou me esquecer completamente de como era ter uma mãe?
— Sim, eu sei — diz ele, abrindo um sorriso que ilumina seu rosto cansado. — Eu emprestei para ela anos atrás e ela nunca devolveu. Dizia que cava melhor nela do que em mim.
O sorriso de Curtis cresce, como se alimentado por lembranças das quais não faço parte. Por um instante, sinto que o odeio por ter tido tantas partes de minha mãe que eu nunca vou conhecer. A jaqueta era minha. Minha e dela. Uma maneira de continuar com ela ainda que ela não pudesse continuar comigo.
Agora preciso compartilhar até isso com ele? Curtis estragou tudo.
Ele parece perceber minha reação e, sem saber o que dizer, passa a mão no rosto com a barba por fazer.
— Fica muito bonita em você — comenta ele, por fim.
— Estou sem fome — declaro, cando de pé. — E muito cansada. Acho que vou...
Não me dou ao trabalho de concluir a frase e vou para o quarto. Não vale a pena. Nada disso vale a pena. É só uma situação que vou ter que tolerar: morar com ele e sobreviver à escola até completar a maioridade e poder dar o fora.
Uma voz em minha cabeça pergunta: E depois, o que vai acontecer? E depois? Depois vou car sozinha, sem família, sem amigos e sem ajuda. Sem nada.
Eu me deito na cama e nem me esforço para conter as lágrimas que caem pelo canto dos meus olhos. Seguro a barra das mangas da jaqueta e penso que não é de se surpreender que a peça seja tão grande, já que pertenceu a Curtis um dia.
Para o bem ou para o mal, estou em família, mas essa constatação só me deixa pior. Porque não é verdadeiro. Sei que as coisas que Curtis está tentando fazer não são verdadeiras. Eu pensava que o que eu tinha com a minha mãe era genuíno, mas agora não sei mais.
Eu me lembro das fotograas nas paredes da casa de Carol. Penso em como nunca vou ter nada parecido. Não é preciso saber como é ter uma família para poder construir uma? Eu já z parte de uma dupla. Uma dupla imbatível, como minha mãe dizia. Éramos nós duas contra o mundo. Mas não consigo me lembrar de como é ser parte de uma unidade: dois pais, lhos, uma casa e fotos na parede que acompanham uma vida inteira
— todas as ramicações de uma vida que de fato formam uma árvore, como um organismo vivo que garante que você nunca vai se sentir sozinho.
Algumas vezes penso que foi isso que matou minha mãe. A solidão. Sei que não é tão simples assim, sei que é complicado, que a dor é complexa.
Mas a solidão corrói por dentro. É como um animal encurralado que não consegue fazer nada além de seguir o próprio instinto. Ainda que você saiba como as coisas funcionam, ainda que você saiba quem é e qual é seu valor, a solidão pode te devorar de dentro para fora até não sobrar mais nada.
Às vezes co com medo de me perder também. Ou de nem sequer chegar perto de me encontrar.

A GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora