Prólogo

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Ricky

Tapei meus ouvidos com as minhas mãos, mesmo assim ainda consigo ouvir a mamãe choramingar e implorar que ele pare.

Em algum lugar no andar de baixo, a cena se repete outra vez. Sem parar. Meu pai está nervoso, como sempre.

Quero descer e gritar para que ele pare! Que ele não machuque mais a mamãe! Mas sei que se fizer isso, só vou estar piorando a situação, como da última vez.

Aperto meus olhos.

Durma!

Repito para mim mesmo.

Sei que quando estou dormindo não consigo ouvir gritos ou choros. Nada acontece quando durmo.

Durma!

Os sons no andar de baixo aumentam.

Durma!

Repito outra vez, como se meu cérebro fosse me obedecer num passe de mágica. Se eu tivesse padrinhos mágicos como Timmy, provavelmente meu desejo já teria sido atendido, inclusive dele ir embora para sempre.

Cumpro minha cabeça com o travesseiro, isso ajuda a amenizar o barulho, mas não o suficiente para conseguir dormir. Amanhã eu tenho aula e sei que preciso dormir para acordar cedo, mas não consigo, não sabendo que mamãe está no andar de baixo apanhando sem motivos. Pelo menos é o que acho, já que eu recebo tapas sempre que faço algumas travessuras.

Minha curiosidade me venceu, decidi descer para espiar.

Estou com medo.

Muito medo!

Se for pego, ele descontará isso também em cima dela, e eu não quero isso, por isso tento fazer o mínimo de barulho possível. O gritos no corredor ficam mais altos e consigo ouvir perfeitamente ela dizer:

— Você vai acordar, Ricky! Pare por favor! — Ouço mais um estalo seguido de um choramingo baixo. Chego no primeiro degrau da escada e me escondo atrás da parede, não posso ser visto. Nossa casa não é grande como a de Olivia, mas eu gosto dela mesmo assim, menos quando isso acontece.

Lá de cima consigo ver a sombra dos dois na parede. Mamãe está com a mão no rosto, provavelmente cobrindo onde ele a bateu, já vi ela fazer isso antes. Meu pai está em sua frente, ele está segurando um copo que virá em sua boca e logo em seguida o arremessa contra a parede.

Tapei minha boca com a mão, com medo de qualquer barulho escapar dela.

— Viu o que você me obriga a fazer Eleanor? — Ele gritou. — Não sei da onde tirei que me casar com você seria uma boa ideia!

— Por favor não diga essas coisas, Cláudio! Eu amo você! Temos um filho! Uma família! — Minha mãe tentou tocá-lo, mas ele a empurrou e ela acabou caindo.

— Se é que aquele é meu filho! Você é uma qualquer! Pode ter dado para qualquer um! — Eu ouvi um estalo forte e pela sombra vi o rosto do papai virar. — Você não fez isso! — Gritou, partir para cima dela outra vez. Caminhei para trás assustado, numa tinha o visto tão irritado assim, sem querer bati no vaso de planta que se espatifou no corredor, fazendo um barulho enorme! — Você está aí seu merdinha? — Minha pernas tremiam, mas não podia ficar ali, ou eu também apanharia, corri para meu quarto e tranquei a porta, para ganhar tempo para me esconder no meu esconderijo secreto dentro do guarda roupa. Não demorou muito para ouvir gritos e passos no corredor. — Abra essa porta! — Ele sacudiu a maçaneta.

— Deixe ele em paz! Seu problema é comigo! — Minha mãe gritou.

— Saia da minha frente!

— Não! Deixe o Ricky em paz, por favor! — Implorou. Meu pai deu uma gargalhada alta, que arrepiou todos os pelos do meu braço, nunca ouvi ele rir daquele jeito maléfico. Ouvi barulho em minha porta, pararam, e eu sabia a que custo aquilo tinha acontecido.

Naquela noite, adormeci chorando dentro do guarda roupa, com medo que depois que ele se cansasse de bater em mamãe ele viesse atrás de mim. Foi ali que prometi para mim que nunca machucaria ninguém. Que nunca me apaixonaria, por que ser amar significava sofrer como mamãe, eu não queria passar por isso.

Hope: Aberto para se apaixonar | ** DEGUSTAÇÃO **Onde histórias criam vida. Descubra agora