Ricky
Olhei para o relógio mais uma vez.
O jantar já devia ter começado. E eu deveria estar lá sentado vendo e ouvindo Olivia contar dos quatro anos que morou na França, mas quem disse que tinha coragem para isso?
Revirei os olhos e bebi mais um gole da minha cerveja.
A culpa pelo nosso afastamento era completamente minha, não podia jogar a responsabilidade para Oly, quando ao menos ela tentou se aproximar e eu não permiti.
Não podia machucá-la mais do que tinha feito. Se não conseguia viver com essa culpa e imagina olhar em seus lindo olhos negros então?
— Você não parece bem. — Steven comentou ao meu lado. Eu sabia do jantar de boas-vindas desde começo da semana e procurei uma forma de escapar dele de qualquer maneira, por isso quando estive me propôs de vir ao um encontro duplo, eu aceitei na mesma hora. Mesmo detestando esse tipo de rolê. — Não para de olhar o relógio desde que chegamos. — Observou. — Já tem algo marcado para mais tarde? Por isso essa ansiedade?
Steven era meu amigo desde o colégio, ele sabia da vida boêmia que eu levava desde da faculdade, da regra de não ligar no dia seguinte e da promessa de nunca, em hipótese alguma, me apaixonar. Quem não sabia disso, por outro lado, era Ashley, a namorada dele, que a todo custo tentava me empurrar sua amiga Emma.
Ela era bonita, tinha um corpo legal, beijava bem, mas... eu não era o tipo de cara que namorava e tinha deixado isso claro na primeira vez que saímos. Emma pareceu entender, então as investidas ganharam forças a ponto de me incomodar e evitar sair com Steven, já que Ashley, fazia questão de andar com Emma como chaveiro para cima e para baixo.
— Tinha um jantar de boas-vindas de Olivia hoje. — Contei, olhando para o relógio. — Já deve ter começado.
Steven me olhou intrigado.
— E por que está aqui, e não lá?
— Porque sou um idiota.
— Devo concordar. — Afirmou. — Mais, falando sério agora, quer que eu te cubra? — Neguei com a cabeça. — Não entendo, você e Olivia eram unha e carne e agora...
— Somos desconhecidos?
— Eu ia dizer estranhos, mas serve também. — Disse. — Mais juro que não entra na minha cabeça esse afastamento.
— Sabe a vida? — Perguntei. — Ela aconteceu. Olivia seguiu um caminho e eu outro. Simples assim. — Percebendo que não queria falar sobre aquilo, ele perguntou:
— Um dia você pode me contar o que aconteceu de verdade?
— Quem sabe. — Avistei Ashley e Emma saírem do banheiro, fiquei em pé tirando um note do bolso e colocando sobre o balcão, virei meu último gole de cerveja e bati em suas costas. — Sabe a proposta de me cobrir? Eu aceito! Até mais.
Eu sabia que amanhã cedo Emma mandaria várias mensagens me cobrando, mas não tinha cabeça para pensar nisso. Tinha um nó tão grande no meu peito para desatar que esse era o menor dos meus problemas agora.
Acho que essa era a primeira vez em anos que não saí acompanhando de um lugar. Enquanto caminhava para o carro, meus pensamentos voaram para o que tanto atormentava minha mente.
Olivia estava de volta.
Mas, por que isso importava tanto?
Ela sempre esteve ali. Ou melhor, lá.
No meu passado.
Nas minhas lembranças.
Eu não tinha porque me importar com isso!
Mas, no fundo, sabia bem o porquê a volta dela me afetava tanto, eu não havia me perdoado do que fiz a ela, da forma que a tratei. Olivia merecia mais do que uma simples mensagem escrota. Era por isso que não conseguia olhar em seus olhos, eu sentia falta da nossa amizade, dos companheirismos que tínhamos.
Eu sentia falta dela!
Uma vez eu até tentei uma aproximação, para pedir desculpas pelo que fiz, queria recomeçar do zero, contar o que aconteceu na minha vida e saber da dela também, mas o seu namorado, Alec, deixou bem claro em letras maiúsculas, para ser mais preciso, que Olivia não queria saber de mim por nenhum motivo. Isso só me deu a certeza de quanto eu machuquei.
Suspirei.
Precisa reunir forçar e pouco de coragem também. Semana que vem era inauguração do Hope e provavelmente Arthur não me deixaria faltar, não depois de perde o jantar desta noite. Ele sempre fazia questão de contar cada um das conquistas de Oly, mesmo sabendo que eu e ela não estávamos mais tão próximos. Mesmo não tendo a relação de antes, eu não podia evitar, me senti orgulhoso da mulher que ela se tornou.
Ainda me lembro quando Arthur me contou como ela o enfrentou dizendo que não faria as vontades dele e seguiria seus sonhos com ou sem a ajuda dele, essa Olivia eu não conhecia porque eu me recusei a estar por perto. Todas as suas conquistas de eu acompanhei de longe, a formatura no curso de gastronomia, o primeiro estágio em um restaurante caro do São Paulo, a viagem para França, semana que vem era a primeira conquista dela que veria de perto, abertura do seu restaurante.
Sorri como um idiota, pela lembrança que veio em minha mente. Quando seu pai me contou dos seus planos de voltar para o Brasil e abrir um restaurante, eu dei o meu apoio incondicional, mesmo sem Oly saber. Esse foi meu pedido a Arthur, que ela não soubesse que eu estava por trás de algumas coisas, como, por exemplo, a ideia do restaurante chamar Hope, esperança em inglês, um nome curto e marcante, como o da mãe dela. Fui eu também que escolhi o lugar e acompanhei a reformas.
Arthur não entendi por que eu não queria que Olivia soubesse, então tive que contar que não eramos mais tão amigos, mas sem entrar em detalhes. Ele era como um pai para mim, mas também era pai de Olivia e acho que ele não ia gostar de saber o mau que causei a sua filha.
Minha gratidão pelos dois, tanto Oly como Arthur, era gigantesca, eles tinham me acolhido quando eu estava perdido, quando mais precisava de uma família e não tinha ninguém. Olivia me ofereceu sua amizade e Arthur sua casa.
E eu fodi com tudo.
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Hope: Aberto para se apaixonar | ** DEGUSTAÇÃO **
RomansaEnrique sempre acho que o amor tornava as pessoas frascas, cegas e elevavam a loucura, ele cresceu em um lar precário de carinho e afeto, onde presenciava cenas que nenhuma criança de 7 anos deveria presenciar nessa idade. Com o tempo ele fechou par...