꧁༒☬𝓒𝓪𝓹í𝓽𝓾𝓵𝓸 𝓝𝓸𝓿𝓮☬༒꧂

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Aurora

Nunca pensei que fosse possível odiar tanto uma pessoa como eu odiava aquele homem. A maneira como lidava com tudo, sem medos, sem pensar que poderia estar errado, irritava-me profundamente. Ele era dono de si próprio e dono daqueles que pelas mãos dele passavam. Enganado estava ele a pensar que seria meu dono! Nunca!

Pensei que o caminho até casa fosse curto, mas quanto mais andava, mais me apercebia que devia de ter pedido a alguém que me levasse, mas a quem? O meu irmão não podia saber que eu estava na casa do dono do Universo, e eu não podia pedir boleia ao Deus do amor para me levar a casa. Então, aceitei que a minha pouca forma física me iria atrapalhar em muitos aspetos da minha vida e aceitei que teria que fazer o resto do caminho a pé. Por sorte, eu estava habituada a andar, e por sorte, a casa do Afonso não era longe da minha. Mas imaginem o meu estado de ressaca e caminhar por ai com um sol de torrar a pele, estrada fora, até à minha humilde casa? Pois é, doloroso... demasiado doloroso.

As pessoas sorriam. Estavam felizes. Era 07h34min, e a rua estava cheia como se fosse 11h00. As pessoas levavam os seus animais de estimação a passear, outras viam os filhos brincar nos alpendres das suas casas e algumas, apesar do feriado, saiam para trabalhar. Eu era aquela rapariga que adorava observar tudo, mas o meu estado de miséria hoje só me pedia a confortabilidade da minha cama e sentir o aroma dos lençóis lavados a morango.

- Onde estiveste? - perguntou o meu irmão enquanto eu desdobrava a rua para me dirigir ao meu templo sagrado.

- Dormi na casa da Briana - respondi sem grande importância - onde vais?

- Ai foi? Espero que tenhas encontrado uma outra Briana com quem possas usar essa desculpa. Porque a Briana que conheço, dormiu sozinha em casa depois de eu me certificar que ela estava em segurança em casa. - levantou-se do chão, onde atava o atacador das suas nike.

- Não me faças perguntas que sabes que não te posso responder. - esfreguei as têmporas que latejavam de dor a cada palavra que eu dizia.

- Quer dizer que Aurora! A santa da família agora deu para perder noites nas casas de outras pessoas? Quem te comeu? - perguntou-me batendo palmas.

- Vai à merda. - passei por ele, dando um encontrão no seu ombro e entrei em casa.

Não sabia que tipo de explicação o querido Deus grego teria dado àquele palerma e nem tinha forças para me concentrar nisso. Eu só conseguia pensar na minha cama. Quando subi as escadas e entrei no meu quarto, era como se a cama brilhasse por baixo dos raios de sol e me pedisse para me deitar nela.

- Estou indo. - corri de forma dramática até à mesma gritando aquelas palavras.

Quando me deitei e, finalmente fechei os olhos, na minha cabeça só aparecia dois grandes faróis azuis. Perturbavam-me a mente e davam-me um certo desconforto lá embaixo. Afonso. Ele era o dono daquele farol que fazia com que me encontrasse na escuridão. Ele encontrara-me quando mais precisava de alguém. Não conseguia dormir descansada. Olhei ao relógio que estava na parede por cima da estante dos livros e vi que era 08h41min. Estava difícil.
Sai da cama, tomei um banho, e pensei que assim pudesse adormecer mais descansada. Mas quando ia entrar no quarto, de toalha enrolada no corpo, deparei-me com o Afonso a ver o meu quarto.

- Que fazes aqui!? - gritei ao assustar-me com a sua silhueta.

- Queria ter a certeza de que tinhas chegado bem a casa. Deixaste-me pendurado sem antes poder-te perguntar se querias boleia. - comentou sem olhar para mim - este livro é muito bom. - apontou para um livro grande que tinha na segunda prateleira. Chamava-se " O Hipnotista".

O Despertar de um SentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora