꧁༒☬𝓒𝓪𝓹í𝓽𝓾𝓵𝓸 𝓢𝓮𝓲𝓼☬༒꧂

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Afonso

Estava cansado, mas os gritos, a euforia que o público emanava daquelas altas e desgastadas bancadas, dava-me a força de que precisava para continuar a minha corrida frenética em direção àquela bola.

Olhei diversas vezes para a bancada lateral na esperança de ver alguém. Nunca me tinha acontecido isto. Normalmente, são elas que olham para o estádio com vontade de me encontrar e não o contrário. Mas finalmente encontrei-as. Uma eufórica com o jogo e a outra visivelmente aborrecida. Acho que não preciso de explicar quem é quem. A Aurora olhava para os pés, como se olhar para mim lhe causasse algum desconforto e só consegui me lembrar do facto da sua melhor amiga não saber que eu era amigo do Gustavo.

Marquei o último golo que nos conduziu à vitória. O guarda redes não conseguiu defender a bola que ia disparada em direção a ele.

- Ganhámos! - gritou o Gustavo vindo na minha direção, numa corrida bastante desengonçada devido ao cansaço, abraçar-me contente com a vitória.

De repente, todos os meus colegas estavam a carregar-me ao colo, gritando vários vivas. Mas nada daquilo me estava a deixar com o sabor da alegria que deveria de estar a sentir. Se a alegria tivesse um sabor, saberia a marshmallows cor de rosa, fofos e docinhos. Mas eu sentia o oposto de isso mesmo.

Olhei pela bancada, novamente, e só encontrei a Briana a fazer-me adeus.

«Onde se tinha metido a sininho?»

As pessoas aplaudiam e ao mesmo tempo abandonavam aquele local que se tinha tornado caótico. No final dos jogos, a probabilidade de haver porrada era sempre grande. Havia sempre aqueles que eram os maus perdedores e que não aceitavam a derrota com facilidade. O que era estranho, é que isso acontecia com os adeptos e não com os jogadores.

Quando ouvi o primeiro homem a chamar o outro de cabrão achei que estava na hora de sair dali e levar comigo a Briana. Mas foi então que a preocupação tomou conta de mim de uma forma que não estava à espera. Pelos vistos a minha mente achava que tinha poder sobre o meu corpo, e antes que eu pudesse olhar só para a Briana, os meus olhos percorreram o estádio todo preocupado em saber onde estava a Aurora.

Vi o Gustavo a correr ao meu lado, a tentar fugir de toda a zaragata que estava a ocorrer, puxei-o na minha direção e olhei para ele com pavor nos olhos.

- Onde está a tua irmã?

- Não sei, para quê essa preocupação toda? Todas as vezes que jogamos isto acontece e nunca te preocupaste mano, ela já deve ter saído. - respondeu-me bruscamente enquanto se libertava da minha mão que lhe apertava o braço com demasiada força.

«Talvez porque a tua irmã nunca nos veio ver jogar?» pensei, mas sem entender bem a minha preocupação com a única rapariga que não queria saber nem de mim, nem dos meus abdominais incrivelmente esculpidos.

- Afonso! - gritou a Briana - a Aurora! - apontou para o outro lado da bancada, perto da saída, onde se encontrava uma mulher encolhida, enquanto uns brutamontes lhe passavam por cima.

- Vai-te embora! Eu vou buscá-la. -  gritei-lhe do campo.

Vi que o Gustavo ajudava a Briana a esgueirar-se pela multidão que gritava a plenos pulmões e subitamente fiquei mais tranquilo por, pelo menos, uma delas estar a salvo.

O Despertar de um SentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora