Certo dia, aos meus nove anos de idade, eu estava em uma tarde tranquila, então, depois do almoço, decidi pegar meu livro e fazer as atividades de casa. Sentada em um banco alto, minhas pernas bamboleavam debaixo do banco, soltas e sem alcance ao chão.
Meu momento de estudos foi interrompido quando meu pai entrou na sala gritando, tudo ficou imediatamente escuro e sombrio. Minhas pernas pararam de balançar, meu corpo enrijeceu e meus olhos fixaram nas páginas do livro que agora pareciam estar em branco.
Meu pai gritava o porquê de eu estar com um livro na mão se isso não iria me levar a lugar nenhum, eu devia aprender a cozinhar, lavar e passar, isso sim era trabalho digno. Estudar não pagaria nossas contas. Minha mãe, submissa como sempre, ouviu o que ele falou e começou a gritar comigo também, para que eu guardasse o livro e fosse fazer alguma coisa útil, pois, a única leitura que valia a pena era a da bíblia.
Naquele momento, meus olhos inundaram, eu não enxergava nada além de um mar de lágrimas ofuscando minha visão. As gotas começaram a pingar nas páginas do meu livro onde, futuramente, ficou as marcas molhadas pelas lágrimas. Fechei meu livro e naquele dia, eu perdi meu poder de fala, perdi minha voz que foi engessada na minha garganta e aquele nó sempre se manifesta quando alguém levanta a voz comigo, eu me sinto novamente a garotinha indefesa, mesmo sabendo que não sou mais aquela garotinha e que preciso ter minha própria opinião. Mas quando isso foi tirado de mim, eu não fui instruída que um dia eu cresceria e precisaria cuidar de mim mesma.
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Carta de despedida
RandomGente, não lê essa porcaria não. É autodestruição É uma merda Só escrevi pra desabafar