09 O PLANO

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Mais tarde durante a noite a mocinha voltou.

— Ei... Psiu... Acorde... Ele topou te ajudar... — sussurrou.

O tritão acordou de cara fechada e subiu, bem no meio da piscina, colocando até o queixo fora d'água.

— Pare de me dar falsas esperanças... Estou com nojo de você... — disse bravo.

— Nojo?!... Por que?...

— Você nunca fala sério... Não quero ficar ouvindo suas mentiras...

— Não estou mentindo! Eu vou tirar você daqui...

— Só acredito quando eu estiver no mar... — desdenhou.

— Eu combinei com Marco que no máximo casaria em dois meses. Ele quer que eu me case antes dele ajudar na sua fuga. Planejamos tudo para depois das apresentações que fará na capital... — tentou explicar.

— Arff... Eu não acredito que ele vá me ajudar, nem mesmo em você eu acredito... Só nunca mais façam aquilo na minha frente...

— Aquilo?! Você viu?... Não foi por que eu qu... — gaguejou Maria, com suas bochechas corando.

— Não me importa! Só façam essas coisas longe de mim! — bravejou.

— Você... Ficou com ciúmes?... — arriscou a moça, deixando um ar esperançoso saltar os olhos.

— Não! Já disse que fiquei com nojo! — falou cruzando os braços magros e encarando bravo.

— Pois acho que está com ciúmes. — Maria piscou e abriu um sorriso orgulhoso.

— Está brincando de novo... Eu nunca sei se está falando sério... — disse desviando o olhar para a água.

— Não é isso... Escute... Eu também não confio no Marco, mas o papai e ele estavam fincando desconfiados. Eu precisava fazê-los acreditar que eu não faria nada... Mas na verdade eu vou tirar você daqui antes dessas apresentações na capital... É por isso que eu venho lhe ensinando a andar e treinando sua respiração! Você vai sair andando daqui quando ninguém estiver esperando! — falou animada com o olhar gentil.

O jovem tritão fitou-a sem esperança, com um olhar tão triste que o coração dela doeu.

— Não olhe assim para mim... Vamos acredite... — suplicou a mocinha fazendo um bico de dó.

— Porque você quer me ajudar?... Pensando bem, não faz nenhum sentindo...

— Faz sim... Não é justo que você fique preso aí... Eu também não vou te ajudar de graça... — disse abrindo um sorriso malandro.

O hibrido arregalou os olhos e ficou desconfiado.

— O que vai querer em troca?

Maria ficou sem jeito, não conseguiu articular as palavras. Pensava em passeios de mãos dadas ou se poderiam abraçar-se carinhosamente. Corava levando as mãos as bochechas — e se pedisse um beijo? — desejava amar e ser amada pelo tritão.

— Vamos! Diga logo o que quer!

— Não me apresse eu vou falar! — disse e desviou o olhar cheio de timidez.

Impaciente com a demora dela o tritão desceu um pouco na água ficando só com os olhos emergidos. Notando que a mocinha ficou corada e ainda estava decidindo o que pedir, o hibrido também desviou os olhos e começou a fazer bolhas com a boca na água.

Ouvindo o som das bolhas a jovem começou a rir.

— Você ainda é muito criança! — o tritão nem se deu ao trabalho de responder e revirou os olhos em desprezo.

— Já me decidi! Vou querer algumas escamas da sua calda!

O rapaz  ficou surpreso e olhando a calda, balançou na água.

— Não é só isso! Eu mesmo vou tirar. Também quero tocar nas suas guelras!

"Igual nas apresentações no galpão?!" ouvir que a mocinha queria tocar suas guelras causou imensa raiva nele. Por um segundo reviveu os traumas de sua infância sendo molestado por mãos curiosas. Logo bravejou com desprezo:

— Você é igual a todos os outros! Vocês são monstros para mim, nem por isso quero cutuca-los! Mas se realmente me tirar daqui... Não em importo se for a última vez... — foi diminuindo o tom e mergulhou desapontado.

Maria se sentiu mal por aquele jovem com calda de peixe e tentou chama-lo. Convidou para treinarem o caminhar. Ficou um tempo sentada esperando-o olhar para cima, mas o tritão continuou nadando no fundo sem subir.

Depois de um tempo acabou desistindo e foi embora. Mas antes de sair reafirmou que iria sim, tirar seu amigo dali.

O hibrido ouviu tudo aquilo com o rosto triste virado para o fundo da piscina. Finalmente quando a mocinha se foi o tritão subiu a borda e tentou sozinho ficar de pé. Com dificuldade chegou a andar alguns passos antes de cair dentro da piscina novamente.

"Não posso depender da ajuda dela, se ao menos eu conseguisse andar sozinho..." assoprou bolhas para o alto enquanto olhava o teto com abóboda de ferro e vidro. O único contato que tinha com o exterior era a luz do sol ou lua que entreva por aqueles vitrais transparentes.

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⏰ Última atualização: Apr 12 ⏰

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