04 LUCRO

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Naquela tarde, o imediato chega avisando que encontrou um lugar, para apresentarem o tritão. Vívido com a notícia, o capitão Alves não perde um minuto e fechando a tampa do barril, avisa a Joaquim para que tome conta de tudo, enquanto ele estiver fora.

O jovem desce as escadas correndo, avisando que a febre da mãe não baixou. Mas o pai não lhe dá ouvidos e animado carrega o barril para fora, batendo a porta.

"A mamãe é mais importante que esse monstrinho!" se indigna, cerrando os punhos e pressionando os lábios .

Quando retornam tarde da noite, todos estão dormindo. Alves e o imediato tentam fazer silêncio, mas suas risadas contando o dinheiro acabam acordando Joaquim, que dormia sentado, ao lado da cama da mãe.

Irritado com a bagunça o menino pensa em descer, mas é impedido pela mãe que também acordou.

— Filho... Não incomode seu pai. 

— Mas, mãe... — encara com o olhar suplicante e triste, "Papai não cuida de você e ainda atrapalha seu descanso."

— Cof! Cof! Vá para seu quarto. Não quero ser o motivo de discussões. — determina a mãe fazendo Joaquim virar cabisbaixo, chutando o chão com raiva.

Contrariado, o jovem deixa o leito da mãe. Ainda olha para a luz do corredor, mas obediente segue para seu quarto.

"Tenha calma meu filho, as coisas logo vão melhorar. Seu pai é um bom homem, nunca nos deixou faltar nada..." tenta sussurrar para o filho, mas seus lábios cansados nem se movem.

~ ~ ~

Na manhã seguinte Maria acorda cedo, e fica toda feliz ao ver o barril ao lado da mesa. Desce as escadas às pressas e arrasta uma cadeira, de madeira pesada, até o barril. Arranhando o piso de mosaico português.

Mas quando sobe, seu sorriso diminui até sumir em uma expressão triste.

O pequeno tritão se encolhe apavorado. Sua pele clara evidencia vários hematomas roxos e suas mãos estão amarradas nas costas. Vendo a miúda, ele lança um olhar como pedido de socorro.

Pensando na dor do seu amiguinho, a miúda avisa que vai desamarra-lo. Porém, o tritãozinho não entende aquelas palavras. Vendo as mãos dela entrarem na água, se assusta, revivendo o trauma e se contorce fugido amedrontado. 

"Parem de me cutucar com seus dedos enrugados! Quero ir para casa, mamãe... papai... Nunca mais vou sair sozinho. Eu prometo! Prometo..." fungava de saudade. 

Por toda a noite o corpo dele foi molestado, por toques indesejados. Dedos entre suas guelras, puxões em sua calda. Se debatia assustado e escorregando caiu no chão, outras no barril, batendo a cabeça. Não queria que o tocassem mais. Estremeceu e encolheu, quando a menininha passou a mão por seus cabelos.

Maria tenta explicar que vai soltá-lo, que quer ajuda-lo. Mas é inútil, pois o tritãozinho não entende. A criaturinha se deita no fundo do barril. Muito distante, para aos bracinhos da menina alcançar.

Ouvindo o que se passava no andar de baixo, Alves acorda irritado e grita com a filha, para que fique longe do barril. Com um olhar bravo a menininha encara o capitão.

— Não é para machuca-lo! Desamarre ele! — ordena levantando o dedinho, com toda a determinação infantil.

Mas o pai fica impaciente e pegando-a pela orelha, a faz subir as escadas.

— Você não deve se meter nos meus negócios! Suba! Está proibida de se aproximar desse barril, me entendeu?!

Aos prantos Maria corre para o quarto da mãe. Entre soluços conta tudo que viu. Em seguida pede que a mãe faça algo para impedir o pai, mas Beatriz está completamente entregue a doença e mal se mexe na cama.

Meu TritãoOnde histórias criam vida. Descubra agora