Chapter IV

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Flocos gelados embaçavam as grandes janelas do palácio; o vento frio não era capaz de afugentar o corpo pálido que estava sob os tão macios lençóis. Se dissesse que tinha dormido, Sanji estaria cometendo uma tamanha calúnia. Apesar de não se orgulhar de suas lágrimas, sabia que não conseguiria controlar suas emoções. Por isso, preferia que fosse daquela forma: sozinho, sem alguém presenciando sua vulnerabilidade.

No entanto, por que tinha sentido falta de um calor a noite toda? Não que ele gostasse do Rei, tampouco-o desejava por perto; então, por que aquela sensação estranha o incomodava?

Talvez porque estivesse em um reino desconhecido, com pessoas tão distintas que mantinham uma cultura bem intrínseca. O clima não favorecia e tudo parecia estar fora de ordem. Diferente de seu lar, aquele lugar era tão gélido que a ponta de seu nariz claramente estava avermelhada, e logo um resfriado o atingiria, sem sombra de dúvidas. Não somente isso, também estava desacostumado a ser acordado por uma criada, a qual o instruiu a puxar um sininho ao lado de sua gigantesca cama, para o caso de ter acordado primeiro.

— Para que devo puxar o sino? — questionou no momento em que pretendia se levantar. Porém, não esperava que a moça se abaixasse à sua frente e calçasse seus pés com um sapato macio. Aquilo o deixou tão confuso. Não era capaz nem mesmo de calçar seus próprios pés?

— Para que uma criada o ajude a se preparar para o desjejum, Majestade. — Mantendo um tom doce e suave, a jovem curvou-se para dar as costas a Sanji, que se levantava. As mãos da moça alcançaram o sino e quando o som ecoou pelo recinto, diversas criadas entraram, trazendo consigo um grande vestido e enfeites.

E então, aquilo tornou-se uma tortura para o mero camponês. Ser instruído a ficar parado pelo que pareciam ser horas, enquanto diversas mãos o tocavam em todas as partes. Um espartilho apertado foi colocado nele, e ele mal conseguia respirar. Os longos cabelos loiros foram amarrados em um coque alto e volumoso, com pedras preciosas enfeitando seus fios. Luvas, meias, sapatos, maquiagem e aquele maldito colar foram adicionados. Quando finalmente olhou-se no espelho, nem sequer era capaz de se reconhecer.

Aparentava mais uma vez como uma delicada boneca, algo verdadeiramente da realeza. Mesmo portando tal título, sabia que jamais pertenceria àquela etiqueta.

Um bater soou na porta e por um momento o coração de Sanji acelerou. Porém, quando aquele maldito criado que ficava o seguindo de cima a baixo adentrou, o pingo de medo, esperança e confusão desapareceu. Era tão tolo de pensar que seria outra pessoa a passar por aquela porta. Por sinal, onde ele estava? Quem sabe tinha tamanhas obrigações que nem veria o rosto do loiro. O mesmo não sabia dizer se isso era um alívio ou um incômodo. Era nítida a sua confusão sobre o que sentir e o que desejar ou não.

— Me acompanhe, Majestade. — Após curvar-se, o homem abriu ainda mais a porta, permitindo que as criadas passassem. Soltando um suspiro com dificuldade, o loiro levantou um pouco a bainha de seu rodado vestido e então passou a seguir o pequeno homem. Aqueles corredores eram tão grandes que mesmo ouvindo toda a explicação histórica sobre o local, sabia muito bem que isso não o ajudaria muito. — ... E aqui está o escritório real. O rei não autorizou-o a adentrar sem permissão. — Revirando os olhos com desdém, Sanji alisou seu braço desnudo, semicerrando os cílios ao se questionar se aquela pessoa estaria ali o aguardando na mesa. — Vamos, Majestade? — O homem questionou na curva do corredor, assustando o loiro, que estava ainda de frente para aquela grande porta amadeirada com detalhes dourados.

— Posso perguntar o seu nome? — O camponês indagou, continuando seu caminhar enquanto observava admirado todas aquelas gigantescas janelas, as enormes cortinas de cetim, a neve caindo do lado de fora e os tons tão sombrios que eram a paleta do palácio.

Eu Pertenço Ao ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora