Os dedos magros rodeavam uma xícara perfeitamente esculpida com detalhes pintados à mão; a fumaça subia do líquido quente que o loiro bebericava. Não era a primeira vez que ele frequentava a biblioteca da mansão, todavia, era a primeira em que passava horas sentado em uma poltrona confortável em frente a uma lareira quente, com um cobertor de veludo que a Nami tinha trago para si, a mesma, estava sentada em um banquinho perto do piano, com um livro sobre cartografia em mãos, no aguardo de sua Majestade decidir fazer outra coisa que não fosse, apenas observar as toras de madeira tostado no fogo abrasador.
Passaram-se cinco dias desde o dia em que o camponês tinha sido arrastado de volta para casa, sendo jogado na carruagem e ter vindo todo o caminho do Reino do Trovão até o Reino do Gelo só, e que dormia sozinho no quarto do Rei, pois o mesmo, simplesmente tinha sumido.
Sanji não o via desde a repentina confusão entre ele o Trafalgar.
A biblioteca, pelo menos, era confortável. As prateleiras transbordavam com livros de todos os gêneros, alcançando mais de sete metros de altura, sendo necessário uma escada para alcançá-los. Um grandioso tapete felpudo enfeitava o chão, o piano com detalhes de diamante ficava na extremidade do gigantesco cômodo e havia diversos bancos espalhados, mesmo que, apenas o pobre jovem seria aquele a desfrutar do cômodo sem uma poeira sequer. Teve noites em que, pegava um livro qualquer, e Nami lia para si — pois, assim, a solidão tornava-se menos intensa. Também acostumou-se a observar os quadros expostos pelas paredes, o curioso era que, nenhum deles tinha a imagem da linhagem real. Alguns, apenas era o Roronoa Zoro, outros, tinham a imagem de paisagens e artes abstratas. Mesmo assim, nada o distraía por completo.
Estava curioso, ansioso e irritado; queria saber o porquê de terem saído às pressas, ou o porquê de Law proferir aquelas palavras. Como era de se esperar, a resposta para suas dúvidas era a ausência do Rei. Não sabia onde tal se encontrava, com quem estava ou o porquê de estar tantos dias ausente. Os criados, não o respondiam e conversar com as paredes tinha se tornado seu passatempo, nem mesmo a sua serva ruiva dizia a respeito do paradeiro de seu próprio marido.
Como poderia fazê-lo apaixonar-se por si, se o mesmo tivesse desaparecido? Bordar, tocar piano — de forma desleixada, porque era péssimo nisso e tinha tido poucas aulas com aquele professor maldito — ou ler, não o distraiam, somente aumentava sua fúria. Achava que, na noite daquele baile, eles tinham progredido alguma coisa, contudo, estava enganado. Quando o rei iria retornar? E se tal cansou de si e o largou naquele lugar frio? Ou se ele estivesse com outra pessoa? Eram tantas perguntas que o loiro preferia tentar, de forma falha, se distrair.
Por isso suas orbes azuladas se perdiam nas faíscas quentes. Mordendo o interior de sua bochecha, Sanji soltou um suspiro, bebericando seu chá quente que a criada tinha pedido aos cozinheiros prepararem para si. Seus olhos fecharam-se, não dando atenção ao barulho de passos que se aproximavam.
Aparentemente, nos últimos dias, tempestades dominavam o Reino do Gelo. A neve caía tão forte ao ponto de não conseguir ver algo através da neblina, o que prendia o pobre camponês naquele lugar, sujeitando-o a jantares e desjejuns solitários.
Um arrepio adornou seu corpo e logo suas lantejoulas brilhantes abriram, o loiro viu, através do reflexo da janela ao lado da lareira o maldito rei. Este, tirava as luvas de sua mão, colocando-as na mesinha do centro. A criada tinha sido dispensada, então, apenas os dois homens estavam no cômodo com as portas fechadas.
— Lembrou-se de que eu existo? — O de fios dourados não queria soar tão carente, estava extremamente enfurecido, com vontade de jogar não só o seu sapato naquele homem, mas também a xícara quente! Como poderia lidar com alguém tão inconstante?!
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Eu Pertenço Ao Rei
Mystery / ThrillerTodos estavam felizes pelo Rei do Gelo ter pedido a mão de Sanji em casamento, todos, exceto ele. Havia uma profecia que rondava os oito reinos: o coração do Rei do Gelo derreterá pelo calor provindo do sol, herdeiro do Fogo. E o destino de duas pes...