Eu Pertenço Ao Rei

Chapter XIV

A noite, como uma manta escura, envolveu a paisagem tranquila do palácio de campo. O camponês mergulhou em um sono profundo, encolhido dentro de sua túnica felpuda para se proteger do frio da noite com os olhos ainda levemente inchados por causa de lágrimas que derramou no caminho de volta para o Reino dois dias atrás. E desde então, o Rei ainda não tinha retornado, deixando-o à mercê de seus pensamentos, sua angústia e confusão. Por mais que tentasse não se preocupar, havia um ponto de interrogação afiado espetando seu peito, arrancando golfadas de seu ar e o orgulho já não existia mais em si, não desde quando chorou nos seios de Senhorita Nami, como uma pobre criança.

" — O que você pensou que estava fazendo?! — A criada correu em sua direção, com uma outra manta para cobrir-lhe do frio da madrugada, totalmente enraivecida. Contudo, quando o loiro desceu da carruagem com ajuda do chofer, a mulher viu a forma que seu nariz estava avermelhado e seus olhos turvos, cheios de lágrimas. — Majestade...

— Eu o odeio, Senhorita Nami, tanto que meu coração dói.

As palavras de Sanji eram sussurradas, carregadas de uma emoção que ele raramente mostrava em público. Nami se viu momentaneamente sem palavras, seus pensamentos correndo para tentar compreender o que poderia ter acontecido para abalar tão profundamente o camponês

— O que aconteceu? Vamos entrar, está congelando aqui fora. — O mais alto permaneceu no mesmo lugar, com seus pés afundando na neve e o frio intenso adornando seu corpo, ignorando o pedido da criada.

— Fui até o reino da Terra, vi que aquele lugar parecia estar congelado... Não sei o que aconteceu, mas a espada dele estava ensanguentada e sua bochecha ferida, Senhorita Nami. O que o Rei está escondendo? E por que não consigo parar de pensar sobre isso?

Segurando as bochechas molhadas do maior, os olhos castanhos e ao mesmo tempo alaranjados da serva olharam com convicção para o loiro que, sabia a resposta de todo seu comportamento impulsivo e preocupado.

— Você o ama. — praticamente gritou, querendo deixar claro o quão sincera estava sendo com sua Alteza. Seus olhos castanhos, normalmente calorosos e acolhedores, agora brilhavam com uma intensidade quase penetrante na escuridão da noite. — O ama mais do que gostaria. Talvez, o amor te assuste, porque o Rei não irá retribuir da forma que espera e que foi você forçado a toda essa situação. Mas você o ama, Sanji. E o amar te deixa vulnerável, exposto aos caprichos do destino e às profundezas da sua própria alma.

Ela hesitou por um momento, como se buscasse as palavras certas para expressar o turbilhão de emoções que envolvia não apenas o camponês, mas também a si mesma. Flocos de neve caiam sob seus fios de cabelo e fumaça saía de seus lábios conforme respiravam afobadamente, os dedos ansiosos da mais velha adornavam carinhosamente a pele e então desceram, para encontrar as mãos do jovem.

O cozinheiro, Sanji, sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto absorvia as palavras de Senhorita Nami. Ela sempre foi sua confidente, a única que compreendia suas angústias mais profundas e os desejos que ele próprio tinha dificuldade em admitir. Agora, suas mãos, levemente trêmulas, seguravam as dele com uma ternura que contrastava com a intensidade de suas palavras. O céu estrelado acima deles parecia conspirar para revelar segredos que há muito estavam ocultos nas sombras do palácio. As estrelas, pontilhando o firmamento negro como diamantes preciosos, lançavam sua luz sobre os jardins bem cuidados e os corredores silenciosos da residência real.

Sanji finalmente encontrou coragem para falar, sua voz um sussurro rouco na noite serena.

— Eu não deveria... não posso... — Ele se interrompeu, as palavras emperrando em sua garganta. Cada sílaba era como uma promessa não dita, um anseio contido que lutava para ser ouvido sobre o peso da responsabilidade. — Não posso amá-lo!