Sentença - Revisado

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Durante sua estadia na cela, Michael entretinha-se em constante diálogo com Alessandra. Suas conversas incessantes levaram os padres a suspeitar que ela estivesse à beira da loucura ou talvez tentando conjurar algum poder místico. O ambiente era permeado por risadas estridentes em alguns momentos e expressões de surpresa no rosto dela, como se estivesse imersa em um relato fascinante. Até que, em meio a esse cenário intrigante...

Dois padres adentraram a cela, Michael oculto ao lado de Alessandra durante todo o tempo. Juntos, dirigiram-se a um morro elevado, onde cinco mulheres estavam amarradas a um pedaço de ferro. No topo, destacava-se um imenso prego, utilizado para prender as cordas e suspender as mulheres. À base, uma espécie de bancada de madeira proporcionava algum suporte para que elas não sofressem danos antes do fogo tocá-las de uma maneira peculiar, mantendo-as suspensas com os braços acima do corpo, mas sem ficarem penduradas.

Michael surgiu diante das seis mulheres, desencadeando questionamentos em suas mentes sobre sanidade ao testemunharem a presença súbita do jovem ruivo. Alessandra, então, elevou-se ao palco, tornando-se o foco de todos os olhares. Essas cenas eram encenadas para o público, como um alerta visual destinado a dissuadir qualquer inclinação à prática dos mesmos crimes, como se algumas dessas mulheres realmente tivessem transgredido algum código moral.

Michael dirigiu seu olhar para cada uma, pronunciando seus nomes seguidos dos crimes cometidos. Um elenco de mulheres, todas negras ou marcadas por doenças. Contudo, ao chegar em Alessandra, uma melancolia envolveu seu semblante, e ele simplesmente falou, pousando a mão sobre a perna dela, enquanto seus olhos encontravam os dela, carregados de tristeza.

- Por mais que tenha escolhido esse destino antes de nascer, sinto tristeza ao testemunhar tua morte dessa maneira. Percebi, ao compartilhar esse tempo contigo, tua resiliência diante das torturas e castigos. Que Deus permita que nos encontremos em um futuro próximo; mereces uma vida feliz e desprovida de preocupações após esta existência miserável que enfrentas. Alessandra Dorppen, na próxima vida, venha me encontrar. Não te reconhecerei, mas as circunstâncias te guiarão até mim, e terei o prazer de te proporcionar felicidade.

Após suas palavras, as mulheres observavam perplexas. O término da reza dos padres coincidiu com o início do ritual macabro: todas as fogueiras foram acesas. A pequena plataforma, a um metro do chão, sustentava um monte de madeira embebida em álcool. A base inflamou, o poste de metal aqueceu, e o corpo das mulheres ardeu em agonia devido à temperatura crescente. Este tormento persistiu por 40 minutos até que, simultaneamente, os cabelos incendiaram, seguido de uma dor intensa enquanto o rosto queimava. Gritos ensurdecedores ecoaram por mais 5 minutos enquanto as roupas favoreciam a combustão, culminando no incêndio dos pés que repousavam sobre uma base enegrecida.

Michael dirigiu seu olhar para elas e, de repente, antes de todas, Alessandra cessou seus gritos. Num cálculo rápido, ele julgou que cinco minutos seriam suficientes para persuadir os homens à frente. Michael, então, extraiu a alma de Alessandra de seu corpo, arrancando gritos da mulher cuja alma experimentava os efeitos do fogo mesmo fora de sua forma física. Num estalar de dedos diante do rosto da alma, a mulher se assustou, olhando para seu corpo espiritual, encontrando calma. Gradualmente, as sensações do corpo desvaneceram, e ao olhar ao lado, Michael havia desaparecido.

Naquela mesma noite, Alessandra retornou ao mundo espiritual, sendo resgatada por dois anjos para evitar que vagasse e sentisse as dores do corpo espiritual queimado em intervalos. Inicialmente, o arcanjo Rafael a acolheu, tratando seus ferimentos espirituais e restaurando sua condição espiritual. Em seguida, foi conduzida a uma sala onde revisou toda a sua vida em busca de possíveis débitos, mas não havia mais nada a ser saldado.

Entretanto, Deus ouviu as últimas palavras de Michael para Alessandra antes de sua morte, e agora ela retornaria à Terra no momento adequado. Não para quitar débitos, mas para reencontrar Michael, perdido em seu caminho, e proporcionar-lhe felicidade uma última vez antes de concluir seus trabalhos.

Após deixar aquele lugar, Michael dirigiu-se à igreja. Os padres chegaram em seguida, adentrando a capela onde Alessandra fora aprisionada em vida. Michael apareceu diante deles, e ao seu lado, Lúcifer sussurrou em seu ouvido ainda oculto o nome Belzebu.

- Muito prazer, terminaram o teatrinho de vocês? - Um sorriso apareceu no rosto de Michael, mas não era de satisfação, era uma expressão de pura maldade no olhar. - Me chamo Belzebu, e hoje serei o carrasco de todos vocês pelo que fizeram com aquelas mulheres... E não digo só pela Alessandra, estou falando de todas.

Os padres olharam para ele e rapidamente perceberam que não era um humano. Ao entrar, todas as portas se trancaram sozinhas, e nada conseguia abri-las.

- Um de vocês me invocou em um ritual satânico, agora quem foi que fez isso? - Michael brincava com a mente deles. - Eu não direi.

Os padres se olharam e começaram a se afastar um do outro. No dia seguinte, cartas foram enviadas ao Vaticano. A igreja, sem identificar o padre herege, decidiu eliminar todos. Michael observou de perto a morte de todos com um sorriso no rosto. Contudo, o último foi o que lhe trouxe mais prazer, pois foi aquele que iniciou tudo. Era o mesmo padre que aprisionou Alessandra, o mesmo que conduziu seu julgamento fraudulento, e ele também testemunhou a morte dela. Para Michael, aquele padre era o mais culpado de todos, e desejou que sua morte fosse lenta e dolorosa. E assim aconteceu.

O último padre morreu durante sua primeira tortura. Já sendo um pouco idoso, sua confissão foi extraída ao ser esmagado por pedras sobre o peito. Sem ar devido à quantidade de pedras, durante a tortura, ele rogou uma maldição.

- Durante essa mesma época do ano de minha morte, Salém irá queimar, e o fogo só cessará quando atingir a capela onde dediquei minha vida rogando a palavra do Senhor.

Os padres ficaram sem entender, mas não deram muita importância ao que ele estava dizendo. No entanto, algo aconteceu. Um ser chamado Belzebu estava presente, e Lúcifer também estava lá. O homem, que naquele momento era visto como a estrela da manhã, mostrou um sorriso ao ver Belzebu estalar os dedos diante da fala do padre. Todos os anos, naquela mesma época, Salém ardia em chamas, e o fogo só cessava quando atingia o centro da cidade.

Com o tempo, os moradores se mudaram, e outros tiraram proveito da situação. A história de Salém foi publicada nos jornais da época, e o poder da igreja despencou drasticamente com a notícia de pessoas inocentes sendo mortas de forma tão desumana pelo próprio Vaticano. Alguns séculos depois, o Papa atual pediu perdão para o mundo por esses acontecimentos, não só em Salém, mas em todo o mundo.

N/A: os outros padres não confessaram nada, mas morreram enforcados

Vivências - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora