Amaterasu - Revisado

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Kitsune acordou na sua cama, que agora parecia um refúgio de monotonia. Cada dia se desdobrava com uma repetição enfadonha. No entanto, tudo mudou quando suspeitas, como sombras, começaram a rondar a mente de Kitsune. Lucifer, com sua aura misteriosa, desapareceu e, ao reaparecer, revelou-se transformado de maneira abrupta. Desconfiada do anjo, Kitsune lançou-lhe um feitiço oculto, revelando correntes que aprisionavam sua alma, resultado de um contrato sombrio com o arcanjo Uriel. Essa descoberta lançou uma nova luz sobre a verdadeira natureza de Lucifer, deixando Kitsune em um dilema de desconfiança e intrigas. As noites, antes preenchidas pelo sono tranquilo, agora eram permeadas por pensamentos inquietantes sobre os segredos ocultos que envolviam o enigmático anjo caído.

No dia seguinte, Amaterasu percorria seu templo, seus passos reverenciados pelos guardas nos corredores durante o nascer do sol. Nos momentos em que seu poder atingia o ápice, a deusa emanava uma colossal onda de luz solar, renovando não apenas Xinto, mas todo o mundo material, mantendo o equilíbrio cósmico. Essa aura divina persistia ao longo do amanhecer, culminando próximo ao meio-dia. Enquanto Amaterasu brilhava em sua plenitude, Tsukuyomi permanecia na sacada de seu templo, observando-a à distância como era seu costume. As energias dos dois eram opostas, e mesmo apreciando a beleza deslumbrante de sua irmã, Tsukuyomi mantinha uma distância respeitosa, enaltecendo-a como a mais bela no reino, cada um a seu modo.

Com metade do dia já transcorrido, Amaterasu se recolhia em seus aposentos, utilizando a luz do Sol para observar atentamente tudo e todos. Subitamente, Susano'o irrompeu no recinto, anunciando um treinamento para os novos seguidores da deusa com armas brancas. Determinada, Amaterasu dirigiu-se a um dojo, onde encontrou três novos participantes. Essas almas, recém-chegadas a Xinto após três dias de sua morte, escolheram unir-se ao exército da deusa. O destino dessas almas seria decidido por seu desempenho no teste; aqueles que não fossem aprovados seriam enviados para a tutela de Tsukuyomi, enquanto os que recusassem a aceitação do deus lunar se tornariam monges no templo dedicado a ele. O dojo tornou-se o palco onde a fé e a habilidade dos novos recrutas seriam postas à prova.

Amaterasu solicitou a dois monges que trouxessem um pano contendo três tipos distintos de armas para os novos seguidores escolherem para o teste. Os três optaram por katanas com lâminas solares, cujo atributo especial era emanar fogo com uma temperatura próxima à do Sol. Posicionaram-se em uma extremidade do dojo, enquanto Amaterasu permanecia na outra sem portar arma alguma. Contudo, ela logo pegou dois leques presos à cintura, preparando-se para o desafio iminente. O dojo ficou tenso, à medida que a deusa do Sol e seus seguidores aguardavam o início do treinamento, cada movimento carregado de expectativa e determinação.

- Esta será minha arma, o Leque do Sol. Não se preocupem comigo, venham com tudo. - A deusa assumiu uma posição de combate, surpreendentemente movendo-se como se estivesse dançando, os leques girando e as lâminas nas pontas batendo umas contra as outras, ressoando em um som alto de lâminas raspando. Sua abordagem única misturava graciosidade e perigo, enquanto os novos seguidores observavam, hipnotizados pela destreza da deusa do Sol. O dojo transformou-se em um palco de harmonia e desafio, onde a dança marcial de Amaterasu desafiava seus discípulos a alcançar um novo nível de habilidade.

Os três homens avançaram com suas espadas, executando ataques simultâneos. O primeiro desceu a lâmina de cima para baixo, o segundo atacou de baixo para cima, e o terceiro realizou um corte horizontal na altura do estômago da deusa. No entanto, Amaterasu executou uma dança peculiar, girando e movendo-se de maneira especial. Inicialmente com os leques erguidos, ela baixou um deles, capturando todas as lâminas ao mesmo tempo. Em um movimento seguinte, ela empurrou as espadas para o lado, desarmou um dos homens e fez com que os outros dois perdessem o equilíbrio. Em um giro fluido, o segundo leque surgiu, representando uma ameaça iminente. O homem desarmado saltou na direção onde sua arma fora lançada, enquanto os outros dois mal escaparam de terem os braços decepados pelo segundo leque. A dança marcial de Amaterasu revelava-se não apenas graciosa, mas também incrivelmente eficaz na defesa contra os ataques coordenados.

- Sei que podem fazer melhor, não se intimidem com minha forma de luta. - Disse a deusa, enquanto pousava os leques, mantendo as lâminas apontadas para os desafiantes. Seu semblante exibia uma calmaria impressionante, desafiando os novos seguidores a superarem seus próprios limites diante do teste. A energia tranquila de Amaterasu contrastava com a intensidade do treinamento, proporcionando aos discípulos um ambiente desafiador, mas encorajador.

Os homens observaram o cabelo da deusa, percebendo um disco solar preso. Em um ataque feroz, um dos homens avançou, desferindo golpes consecutivos contra Amaterasu, que habilmente desviou suavemente, batendo seu leque contra as lâminas. No entanto, quando o homem deu um passo à frente para um golpe vertical, algo surpreendente ocorreu. O Leque do Sol brilhou intensamente, cegando o agressor. Em um movimento gracioso, Amaterasu girou com os braços esticados, as lâminas do leque cortando a garganta do homem, decepando sua cabeça rapidamente.

Os outros dois, inicialmente imóveis, reagiram surpresos com a velocidade da deusa. Avançaram, superando o corpo caído no chão. Um deles ficou à frente da cabeça decepada, enquanto o outro protegia o corpo. Amaterasu, imperturbável, investiu contra o primeiro, desferindo dois golpes certeiros com os leques, cortando seus braços. Girando ao redor do homem desarmado, ela lançou um dos leques contra o outro, que tentou desviar, mas o leque fez uma meia volta e acertou suas costas, atravessando seu corpo e criando um buraco em seu tórax. O segundo homem caiu no chão naquele momento, testemunhando a destreza letal da deusa do Sol.

- Por que defendem um corpo já sem vida? Já estão mortos, afinal. - A deusa pronunciou essas palavras com uma expressão decepcionada diante da cena. Contudo, o homem que havia perdido os braços antes de cair respondeu com calma:

- O corpo de um espadachim guarda muitos segredos de suas habilidades. Se fosse um inimigo real, morreríamos para proteger esses segredos, e ainda acreditamos que os familiares devem receber as partes do corpo para um enterro digno. - O homem caiu no chão, e a deusa aproximou-se dele. Com um toque, o último homem desapareceu do local, seguido pelos outros dois. O dojo ficou em silêncio, testemunhando o sacrifício dessas almas dedicadas à preservação de seus princípios, mesmo além da vida.

A deusa, após a intensa cena no dojo, dirigiu-se ao interior de seu templo, caminhando em direção a Susano'o. O silêncio persistia, deixando para trás o campo de treinamento onde as convicções e habilidades foram postas à prova.

- O que achou deles? - Perguntou a deusa, parecendo um pouco indecisa. Susano'o contemplou por um momento antes de responder:

- Eles demonstraram lealdade profunda, mesmo na morte. Uma devoção que vai além dos limites da existência. Suas almas são fortes, Amaterasu. Porém, o primeiro que morreu, mande-o para Tsukuyomi. Ele morreu por imprudência. Os outros são bons homens. - Respondeu o Deus de forma séria. A decisão estava tomada, e a separação entre aqueles que demonstraram fidelidade e os que sucumbiram à imprudência estava clara.

- Para lutas, você é bem sábio, Susaninho. - A deusa disse com um sorriso simpático, quebrando o clima tenso do momento.

- Ninguém me respeita aqui? Até tu, Amaterasu? - Ele disse um pouco irritado. A frustração na voz revelava um anseio por respeito e reconhecimento entre os deuses, incluindo a deusa do Sol.

- Para com isso, eu que te dei esse apelido fofo. Kitsune o roubou de mim. Aliás, o cio dela está próximo, você vai se divertir bastante pelo visto. - Amaterasu respondeu, revelando um tom de brincadeira na conversa divina.

- Cala a boca. - Susano'o disse, deixando o local, mas o sorriso em seu rosto confirmava claramente as palavras de sua irmã sobre o iminente cio de Kitsune.

- Eu quero uma sobrinha raposa, seu inútil! - Amaterasu gritou enquanto assistia o Deus deixar o local. O tom divertido persistia na interação entre os irmãos divinos, acrescentando um toque de humor à atmosfera celestial.

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