Julgamento - Revisado

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N/A: A crença às vezes se transforma em uma prisão, levando-nos a cometer tantas coisas ruins que só percebemos quando o final se aproxima.

Alessandra desperta em uma cela improvisada, outrora destinada a orações. Agora despojada de móveis, a sala exibia um pentagrama abaixo dela, enquanto três padres rezavam fervorosamente, suplicando o perdão divino para a desafortunada mulher à frente. Confusa e angustiada, seus olhos se enchiam de lágrimas, as mãos presas acima do corpo e os pés amarrados. Ciente dos históricos julgamentos de bruxas em Salem, ela implorava por misericórdia. O tempo parecia arrastar-se enquanto minutos se desdobravam como horas. Subitamente, um silêncio se instala, os presentes abandonam a sala, e a última pessoa se aproxima para cortar as amarras de seus pés.

- Perdoe-me por todo este tormento, mas é necessário... Que Deus a tenha, irmã. - Diz a pessoa tentando diminuir o sofrimento da mesma

Após essas palavras, ela é deixada sozinha, ou ao menos pensa estar sozinha. Entretanto, Michael permanece ao seu lado, ainda oculto. Seus olhos revelam tristeza, fixados na moça, antes que ele finalmente se revele diante dela.

- Peço desculpas por tudo isso, mas foi você mesma quem pediu por isso, minha querida.

A jovem se surpreende com a aparição de um rapaz de cabelos vermelhos na sala, pois, até então, pensava estar sozinha. Antes que pudesse dizer algo, Michael coloca a mão em seus lábios, explicando que apenas ela podia vê-lo e ouvi-lo. Confusa, ela aceita o conselho, analisando a sua situação com perplexidade.

- Vamos apenas fugir de castigos desnecessários. - Diz ele com um sorriso consolador.

"Castigo?" pensa Alessandra.

- Sim, castigos. No seu caso, serão quatro castigos diferentes impostos por você mesma... Vamos ao primeiro?

"Parece que ele lê meus pensamentos? Estou ficando louca," pensa novamente a moça.

- Sim, eu leio. Comunique-se assim comigo, será melhor para você, - Explica Michael.

Assim que Michael diz isso, um rolo de pergaminho aparece em sua mão, e ele o desenrola, fazendo uma das pontas bater no chão suavemente.

- Primeira vida: você foi uma mulher dona de muitas terras graças a seu pai. Seu objetivo era proporcionar uma vida no mínimo tolerável para os escravos de sua casa. Sua família via dessa forma; nenhum deles maltratava os escravos, mas você os via como lixo, usando-os apenas como ferramentas descartáveis. Ah, esqueci de dizer o ano de sua primeira vida: Grécia, ano de 510 A.C., em Tebas. Seu nome era Helena. Continuando, em mais ou menos 5 minutos, uma mulher entrará por aquela porta. Ela foi uma escrava naquela época que você mandou matar, chicoteando-a até a morte. Após isso, mandou jogar o corpo dela em um poço e encheram de terra.

"Quem é você?" pergunta Alessandra mentalmente.

- Pra você, serei apenas um guia, mas não se preocupe. Logo tudo terminará, e você me agradecerá, - Responde Michael.

Uma moça loira de olhos azuis entra na sala, seguida por um padre com um chicote e uma bíblia. A moça gentilmente coloca água na boca de Alessandra e pergunta:

- Você é uma bruxa? Posso ser boa para você, é só me ajudar se ajudando, - Pergunta a moça enquanto oferece água a Alessandra.

Alessandra olha para o padre, vendo o chicote, mas ao tentar dizer que é bruxa para evitar a tortura, sua boca trava inexplicavelmente. Nesse momento, uma mosca pousa em seu nariz, e com receio do que poderia acontecer, a jovem diz:

- Eu não sou bruxa, isso é um engano!

A mulher pede a bíblia para o padre e a coloca na frente de Alessandra, instruindo-a a olhar para o livro.

Vivências - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora