PROSA POÉTICA

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Divagando pelos corredores do supermercado tentando lembrar do que realmente preciso levar esbarro em alguém que analisa qual molho de tomate comprar.
Meu corpo enrijeceu-se e minha pupila dilatou-se como se visse a imagem mais encantadora do mundo.
E era.
Era ela. A que fora por um bom tempo a primeira e última imagem que meus olhos contemplavam todos os dias.
A quem eu dedicava todos os dias o meu amor
e
justamente aquela que em um entardecer de quinta-feira decidiu "ressignificar" tudo aquilo.
"Como você está?"
Perguntei fingindo não me importar, contudo, mais do que me importar eu temia a resposta.
"Ando muito bem!"
Suspiro profundamente.
Uma parte de mim se alegra, eu a quero bem.
A outra parte egoísta lamenta, pois queria que ela estivesse assim como eu: ardendo em saudade.
Antes que eu pudesse mentir e dizer também estar bem alguém para diante dela segurando o vinho que ela tanto ama.
"Conseguiu escolher o molho, querida?"
Dei meia volta e saí dali. Não sentia mais ar em meus pulmões, porém, ainda pude ouvir:
"Quem era?"
"Ninguém importante"
Abandono as compras no corredor seguinte e saio o mais rápido possível.
Sinto-me covarde, usado, excluído... esquecido.
Entro no carro e bato forte a porta, inclino meu corpo para trás e tento conter a avalanche de emoções que rodeiam o meu ser.
Ligo o rádio na esperança de que algo me acalme
e
como um soco o refrão de "Palavras no corpo" da Gal Costa me atinge.
Uma lágrima para cada:
"Ninguém diz eu te amo."

Tudo que senti e escreviOnde histórias criam vida. Descubra agora