PROSA POÉTICA

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Duas chamadas perdidas e uma mensagem, meu corpo gela por um instante ao ver o remetente. Transfiro o líquido da garrafa para a taça e me acomodo em frente à janela.
Bebo um gole e suspiro, deveria responder?
"Sinto tua falta. Está livre hoje?"
A vizinha de baixo ligou o som e eu ouço claramente o timbre inigualável da Marrom.
"Você não me quer de verdade, no fundo eu sou tua vaidade"
Releio novamente a mensagem, bebo mais um gole e permito que aquela música guie meus pensamentos.
"Por que você não vai embora de vez? Por que não me liberta dessa paixão?"
O dilema se desenha em cada acorde, enquanto a letra da canção ecoa como a minha própria indecisão. O apartamento fica silencioso por um momento, apenas o som da música e o meu próprio pensamento tumultuado. Não era a primeira vez que recebia uma mensagem assim, um convite disfarçado de saudade. O líquido âmbar na taça parece refletir a turbulência dentro de mim. Lembrar do rosto dele bagunça ainda mais minha mente e a música se torna uma trilha sonora involuntária para o teatro das minhas dúvidas. A brisa suave da noite invade a janela aberta, como se tentasse dissipar a confusão que paira no ar. Mais um gole, e eu decido: vou responder. Não porque tenha todas as respostas, mas porque a incerteza não pode ser a única constante.
"Só pra ter alguém que vive sempre ao seu dispor por um segundo de amor..."

Tudo que senti e escreviOnde histórias criam vida. Descubra agora