O beijo que rolou nunca foi citado em nenhuma conversa, mesmo que ele ficasse se repetindo na minha cabeça. Eu sabia que não tinha significado nada pra ele, foi apenas uma provocação. Só que pra mim, as sensações que tive, foi de paixão. A lembrança desse beijo, e tudo que senti, não seriam apagadas ou substituídas e na verdade, eu ansiava pra sentir tudo de novo. E por isso, meu corpo e minha mente estavam em uma batalha.
É difícil você ter uma atração por alguém, e essa pessoa não sentir o mesmo. É mais difícil quando essa pessoa mora na mesma casa que você e ainda por cima trás garotas para o quarto.
A primeira vez, estava sozinha e ele chegou com a Carla, e ficaram no quarto dele se pegando. Depois foi a Ana. Depois a Paula.
Minha reação era deitar na cama e colocar os fones no último. Não era legal ficar ouvindo a cama ranger e os gemidos das garotas.
No dia que a Paula saiu do quarto e foi embora, mandei uma mensagem pra ele.
Eda: "É sério isso? Toda semana?"
Serkan: "Tô achando que você queria que fosse você aqui, irmãzinha."
Eda: "meia-irmã."
Serkan: "Continua sendo uma peste."
Levanto e vou em direção ao quarto dele, abro sem bater. Ele está jogando vídeo game.
– Preciso lembrar de trancar a porta.
Meu coração está a mil.
– Por que você está sendo tão idiota?
– Aprenda a bater, maninha. – Ele pausa o jogo e olha pra mim, bate a mão na cama. – Senta aqui, sei que não vai embora mesmo.
– Não vou sentar nessa sua cama suja.
– Prefere que eu deite, você tira a roupa e senta na minha cara ou no meu colo?
Seu sorriso malicioso aparece novamente. Ele sabia. Sabia que tinha conseguido me deixar sem palavras. E também sabia que o tinha feito meu corpo sentir. Assim que ele fechou a boca, pressionei as pernas uma contra a outra. Minha vagina era uma tola e quanto mais frio ele era, mais ela molhava por ele.
No lugar de responder sua pergunta, olhei em volta e comecei mexer nas coisas dele.
– Cadê minhas calcinhas?
– Já falei, não estão aqui.
Continuei mexendo nas gavetas e achei algo que chamou minha atenção. Uma pasta grande, com um monte de papel dentro. Na frente estava escrito: "Apólo e o mundo, por Serkan Bolat."
– Que isso?
Ele parou o jogo e basicamente pulou do meu lado.
– Não mexe nisso.
Comecei a folhear, antes que ele arrancasse da minha mão. Tinha diálogos e algumas linhas corrigidas de vermelho.
– Um livro.
Serkan engoliu em seco e pareceu desconfortável.
– Não é da sua conta.
– Talvez você não seja só um rosto bonito, afinal. – Brinquei.
Serkan foi até seu armário e colocou a pasta no alto. Eu precisava me conectar com ele de alguma forma, saber o que já tinha acontecido na vida dele. Saber o que ele guardava. Sentei na cama e olhei para o vídeo game.
– Dá pra jogar de dois?
Ele ficou parado e então me entregou um segundo controle. Depois de dezenas de vitórias para ele, consegui matar o personagem dele. Ele sorria e me olhava com uma certa admiração. Eu sentia o coração derreter. Estava perdida. Pensamentos sujos começaram invadir minha cabeça e resolvi que era hora de ir para meu quarto.
Algumas semanas se passaram e eu aceitei sair com o Gordon. Uma distração me faria bem.
Serkan e eu estávamos nos dando bem. Quase todas as noites a gente jogava vídeo game. Era uma maneira de descarregar as frustrações um no outro, mas sem machucar ninguém. A noite que eu decidi ficar no meu quarto, ele meio que iniciou nosso ritual.
Serkan: "Tô te esperando, vai vir não?"
Eda: "Na verdade, eu não ia"
Serkan: "Trás um pouco daquele sorvete que você faz, tô te esperando."
Para qualquer pessoa essas mensagens podiam parecer bobagem, mas pra mim não, ele me queria por perto.
Dividimos uma tigela de sorvete e das 19 vezes que jogamos, ganhei duas. Mesmo que ele não se abrisse, a hora do jogo era especial pra nós dois.
Mas Serkan sendo Serkan tinha que estragar tudo. Dois dias antes de sair com o Gordon estava com a Caroline na cozinha, quando Serkan entrou ué tomou o leite, como de costume.
Caroline praticamente babava olhando para ele.
– Oi, Serkan.
Ele fez um aceno com a cabeça e começou procurar algo pra comer. Caroline olhou para mim sorrindo.
– Já decidiu o que vai assistir com o Gordon?
– Ainda não.
Serkan, que até então estava mexendo no armário, parou e congelou. Ele parecia querer ouvir nossa conversa.
– Acho que vocês deveriam assistir a comédia romântica. – Caroline fala sorrindo, ela olha para Serkan. – O que você acha, Serkan?
– Do quê?
– Que filme Eda deveria assistir com o Gordon?
Ele ignora a pergunta e olha para mim.
– Ele é um idiota.
Ele começa a ir em direção a sala, mas Caroline consegue sua atenção.
– O que você acha de ir também, Serkan? A gente vai junto.
Ele dá uma risada baixa, que quer dizer "Nem em sonho". Mas Caroline não consegue o jeito de Serkan.
– Não acho uma boa ideia. – Falo olhando para Caroline.
O sorriso malicioso de Serkan aumenta, conforme ele vai voltando para a cozinha.
– Por que não? – Ele pergunta sério.
– Porque é meu encontro. Não quero ninguém em cima.
– Ficaria chateada se eu fosse? – Ele apoia no balcão e olha para mim.
– Na verdade, ficaria sim.
Ele sorri e olha para Caroline.
– Nesse caso, eu adoraria ser sua companhia Caroline.
A cara de satisfação que ela fez, me deixou morrendo de raiva. Ele admitiu fazer isso só pra me magoar e ela vê isso como uma chance.
– Até sexta. – Disse ele antes de sair da cozinha.
Caroline abre um sorriso e isso me dá vontade de dar um soco na cara dela. Esse será o encontro mais estranho da minha vida. Mas nada na vida me preparou para o que aconteceu naquela noite.
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Querido Serkan
FanfictionEu sei que é errado, mas existem coisas na vida, que não somos capazes de evitar. Quando Serkan veio morar com a gente, eu não estava preparada para tamanha idiotice. Ele afastava todo mundo, só porque não queria estar aqui. Ele fez nossa casa de mo...