A Cabana

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Após uma longa caminhada entre árvores e campinas, Lucy Gray e Snow chegaram à cabana, encharcados, por conta de uma tempestade que caíra no caminho. O céu estava cinza, sem luz solar, e por conta disso a cabana também estava com uma aparência acinzentada, e de certa forma, melancólica.
- Se você estiver com fome, nós costumamos guardar lenha e varas de pesca de baixo do assoalho. - Lucy Gray apontou a direção. - Podemos esperar a tempestade diminuir e pescaremos alguns peixes, mas já podemos colocar um pouco de lenha no fogão para nos aquecermos. - Ela abriu a pequena janela que havia próxima ao fogão de lenha, que já estava toda empoeirada graças à fumaça e sujeiras provenientes do ambiente. - Eu até poderia ir lá fora colher algumas katniss, mas como comentei com a Maude Ivory, ainda está muito cedo. Elas não cresceram o suficiente.
Coriolanus não tinha familiaridade com fogões a lenha, nem pesca, nem colheita de tubérculos. Isso o irritava. Ele odiava não poder controlar a situação e ter que depender da Lucy Gray para sua própria sobrevivência, como um filho depende da mãe para cozinhar. Ele decidiu então se arriscar em acender o fogão a lenha. - Pode deixar comigo, - disse Coryo - eu acendo o fogo enquanto você observa se a tempestade está passando. - sentindo sua confiança, Lucy Gray assentiu com a cabeça e abriu uma pequena fresta na porta, o suficiente para que ela pudesse observar a chuva e sentir o vento frio em sua saia encharcada.
Coriolanus então se dirigiu ao local do assoalho solto, onde Lucy Gray apontou, e soltou a tábua de madeira, revelando um buraco de aproximadamente 1 metro de profundidade, o suficiente para guardar muitos suprimentos. A primeira camada de suprimentos estava envolta em um pano branco, amarelado com o tempo de uso. Ao apalpar o pano, sentiu que o formato não se assemelhava a uma vara de pesca, nem lenha para a fogueira. Um cano... gatilho... eram armas. Muitas. Ele desenrolou todas as armas rapidamente, revelando o símbolo do fuzil dos Pacificadores. Era A arma. Ela, e muitas outras. As provas do crime de assassinato de Mayfair e Billy Taupe. Seu bilhete dourado para o Distrito 2, para retomar sua vida, e quem sabe, o seu sonho. Spruce conhecia a cabana, é claro, e este foi o lugar mais seguro que ele pôde pensar. Ele pegou o fuzil no colo, como uma criança, e se virou para Lucy Gray, que estava distraída com a chuva e o vento.
- Lucy Gray... - Coriolanus disse, com a voz falhada de emoção e desespero.
- As armas... - Ela disse, espantada, como se tivesse visto um fantasma. Ela olhou nos olhos de Coryo - é a única coisa separando você da sua vida no Distrito. Você pode retornar e viver seus dias como Pacificador, finalmente, em paz. - Ela disse com uma certa tristeza na voz, como se estivesse dizendo para ela mesma, tentando se consolar.
Coriolanus ouviu baixinho o que Lucy Gray disse, pois sua cabeça estava em outro lugar. Ele já havia tomado a decisão no momento em que viu as armas: ele irá ao Distrito 2. Mas como comunicar à Lucy Gray? Há algumas horas atrás, ela revelou que só teve coragem de fugir de sua vida temerosa e miserável pois tinha a segurança de ter Coriolanus ao seu lado. Ela confiava nele. E ele sabia disso, sabia que a vida, o destino dela, dependiam daquele momento. Daquela decisão.
- Tem algo que eu preciso te contar. - Disse Coriolanus. Dessa vez, as palavras escaparam dos seus lábios, e ele não conseguiu as conter.

Snow Cai Como a Neve / A Cantiga dos Pássaros e das SerpentesOnde histórias criam vida. Descubra agora