Capítulo 3

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Num piscar de olhos, as duas semanas voam. Provavelmente foram as duas semanas mais rápidas da minha vida. É sexta-feira, próximo das sete da manhã, e aguardo Andrei vir me buscar. Como manteremos a mentira que mamãe inventou, decidimos ir juntos para o hotel. Quem sai na vantagem sou eu, já que iria para o local de ônibus.

Para quem mora num bairro vizinho ao meu, Andrei está atrasado. Sua mensagem chegou há quinze minutos, informando que ele estava a caminho. Vou até a janela pela terceira vez para ver se o seu carro encosta na frente do portão.

— Está levando um casaquinho, filha? — Minha mãe aparece na sala, vestindo um roupão cor de vinho. Os cabelos cacheados estão escondidos num lenço que ela usa para dormir.

— Sim, coloquei na mala — falo, apontando para a mala preta de rodinhas.

— Credo, Maria Donnatela! Só essa mala? — mamãe pergunta indignada.

— Mãe, são dois dias. Estou levando o suficiente.

Escuto o som de uma buzina na frente de casa e olho pela janela.

— O Andrei chegou — digo. Vou em direção a minha bolsa, pego o vestido de dama de honra que está envolto numa capa preta e arrasto a mala de rodinhas em direção à porta.

— Ui, já estão nos personagens! — minha mãe bate palminhas. Tento não rir de sua empolgação. Não quero dar razão para ela.

Assim que eu e Andrei ajeitamos tudo, conversei com os meus pais, contando que fingiríamos o namoro para não prejudicar mamãe. Claro que dona Cida deu pulinhos de alegria, ao passo que meu pai só revirou os olhos.

— O Andrei foi o melhor genro que tive.

— Não começa — falo.

— Só estou dizendo. Você teve tantos namoradinhos depois dele, mas nenhum supera o Andrei.

Ela tem razão. Ninguém superou o Andrei.

— Lembre-se que eu e Andrei estamos fazendo isso apenas pela senhora, para a senhora não sair como mentirosa diante da tia Carmen e da família inteira. — Não deixo de lembrá-la.

— Claro, precisamos manter a nossa reputação. — Dona Cida dá algumas batidinhas no próprio rosto. — Agora vai, não deixe o Andrei esperando. — Ela me empurra pela porta e, em seguida, me dá um abraço. — Nos vemos domingo.

— Até domingo — abraço-a de volta.

Quando passo pelo portão, Andrei vem ao meu encontro e pega minha mala. Enquanto organiza seu porta-malas, coloco meu vestido no banco de trás ao lado de seu terno e minha bolsa no chão do carro.

O caminho até o hotel do casamento é de pouco mais de uma hora e meia. Passarei quase duas horas sozinha com Andrei dentro de um carro na estrada. Se eu vir fogos de artifício logo cedo no céu, provavelmente é Samantha comemorando o acontecimento.

Andrei dá a partida no veículo e pega a estrada. Percebo que é a primeira vez, desde que terminamos, que ficamos um tempo juntos, só nós dois, fora do ambiente empresarial ou familiar. O caminho é tranquilo. Conversamos sobre amenidades e sobre os serviços que deixamos para trás. Apesar do clima amigável, sinto os sentimentos pairando sobre nós, ambos conscientes de que, em algum momento, teremos uma conversa definitiva.

Após as quase duas horas de viagem, quando chegamos ao hotel, nos deparamos com um local luxuoso. Andrei estaciona numa vaga próxima ao hall de entrada e tira nossas coisas do porta-malas.

— Está explicado por que a diária nesse lugar é cara — falo.

Observo os arredores do hotel. O prédio é alto, de janelas espelhadas, com cinco estrelas em seu topo. A parte debaixo, próxima à entrada, é ladeada por um jardim bem cuidado no qual há irrigadores molhando a grama e as peônias que circulam as paredes beges.

Donna & DreiOnde histórias criam vida. Descubra agora