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"Você não é boa para mim"

"Será como se eu nunca tivesse existido"

Essas duas frases tinham o poder de não me fazer dormir, nem comer... Muito menos viver. Desde que ele me deixou, procuro não pensar em seu nome, pois se o fizer, todos os muros que levantei a minha volta –aqueles que me faziam levantar e sorrir quando necessário- ruiriam. Depois de um tempo os pesadelos acabaram e com eles os gritos se foram, mas o sentimento ainda estava ali, cada dia mais forte.

Hoje completaria 8 meses desde que ele e toda a sua família foram embora sem deixar vestigios, como se realmente nunca tivessem existido. Desci as escadas para tomar café com Charlie, essa era uma coisa que eu fazia unicamente para agradá-lo. Comer.

–Bom dia pai. –eu disse pegando o ceral no armário e o leite na geladeira.

–Bom dia. –ele respondeu abaixando o olhar do jornal e me analisando. –Como esta se sentindo hoje? –ele perguntou preocupado. Ótimo, ele havia associado às datas. Mas era assim todo dia, ele me perguntava como eu me sentia e eu respondia com meias verdades, pois fisicamente eu estava bem.

–Estou bem. –respondi colocando uma colherada de ceral na boca, essa era uma forma de ele não me encher de perguntas, pois eu estaria com a boca ocupada demais para ter que responder.

Assim que acabei de comer lavei a louça e fui até a sala pegar meu material para poder ir para a escola.

–Hoje é sexta feira. –Charlie apareceu atrás de mim. –Tem algum plano para hoje?

–Não sei... –eu respondi, na verdade eu não tinha nada que quisesse fazer, mas toda sexta eu saia com as meninas, unicamente para agradá-lo e fazê-lo feliz. –Acho que vou convidar as meninas para um passeio em Port Angeles tudo bem para você pai? –perguntei.

–Ótimo. –ele respondeu sorrindo, aquele sorriso que o fazia parecer mais jovem do que realmente era.

–Até de noite então pai. –eu disse.

O dia na escola se passou normal e na hora do almoço resolvi cumprir minha promessa.

–Jess, Ang. –eu chamei e as duas me olharam curiosas, ultimamente eu não falava muito. –Querem ir até Port Angeles hoje à noite? –perguntei. –Podemos ir comer uma pizza ou qualquer coisa assim.

–Claro. –disse Jess animada. –Estamos perto das férias de verão e os caras gatos começam a sair de noite, vai ser um máximo. –sendo Jéssica é claro que ela só pensaria em garotos. Ângela me olhava com um sorriso feliz. Talvez eu pudesse voltar a minha vida normal, ou o máximo que eu poderia ter dela.

Depois da escola fui até em casa para deixar minha picape e depois peguei uma bolsa, saindo rápido para me encontrar com as meninas lá fora, Jessica esperava animada em seu carro e o som já estava ligado em uma estação que só tocava músicas pop e animadas demais para mim.

O passeio foi como o prometido. Comemos pizza em um restaurante italiano enquanto Jéssica flertava com o garçom. Depois saímos para andar no calçadão onde havia uma pequena feirinha. Varias famílias e casais andavam animados por ali visitando as barraquinhas e coisas artesanais.

–Ah olha, sempre quis uma dessas! –disse Jessica enquanto paramos em frente a uma barraca onde se fazia aqueles colares onde o nome das pessoas era gravado em um grão de arroz e colocado dentro de um tubinho.

–Vamos fazer? –disse Ângela.

–Eu vou dar mais uma voltinha e depois volto aqui ok. –eu disse e ambas concordaram.

Quando em 1918...Onde histórias criam vida. Descubra agora