Não consigo dormir. Minha ansiedade está atacada e simplesmente não consigo frechar os olhos. Pego meu celular e nada nele me da vontade de ver. Pela primeira vez em muito tempo eu simplesmente não quero mexer no celular. Nem ver ou ouvir musicais, o que é muito raro, porque vejo quando estou feliz, triste, tenso, com medo, ansioso. Mas hoje eu só quero correr. E... Por que não?
Levanto da cama rapidamente, ponho a primeira roupa que vejo pela frente, coloco meu celular e um fone no bolso do casaco recém vestido e saio de casa em silêncio. Não sei pra onde quero ir, nem onde deveria ir, é uma e meia da manhã e eu nas ruas. Decido deixar minha intuição falar, então apenas vou caminhando sem pensar demais.Quando me dou conta estou indo em direção à pista de skate, talvez eu esteja mesmo obcecado por aquele garoto. Cada vez que me aproximo mais vejo a silhueta de um cara se formando, tomara que seja ele. Minha ansiedade aumenta significantemente, minha barriga ronca, o coração dispara quanto mais perto eu chego.
E finalmente, é ele. Ele está antando de skate na pista um tanto quanto rápido. Vou em sua direção e ele para franzindo o cenho quando me ve.
- Oi... Tá fazendo o que aqui? - Pergunta quando chego mais perto.
- Pra falar a verdade, eu não sei. Só segui meus instintos e vim parar aqui. - Respondo me sentando na ponta de uma rampa.
- Tá, mas... Por que essa hora na rua? - Questiona fazendo o mesmo.
- Insônia. - Respondo. - Nada resolvia então decidi andar por aí.
- Qual sua idade? - A pergunta repentina me surpreende.
- Tenho 16.
- E TA POR AI SOZINHO?! - Sua entonação me choca.
- Sim... O que tem?
- Tá maluco?! É perigoso! Ainda mais por onde você veio! - Ele... Acabou de me repreender?
- É... Desculpa? - Respondo confuso. - Eu volto pra casa. - Digo me levantando.
- Pode parar! Já são quase duas da manhã, você não vai voltar sozinho.
- Eu posso chamar um carro no aplicativo. - Ele respira fundo.
- Não disse que sua amiga morava por aqui? Por que não dorme nela?
- Ela viajou. - O vejo encarando o nada com uma expressão séria.
- Tá, vem, você vai dormir na minha casa. - Afirma se levantando.
- Oi?! - Exclamo e choque. - A gente nem se conhece direito.
- É! Prefere andar pror aí sem rumo com perigo de ser assaltado, sequestrado, esfaqueado, entre outras opções. Mas não quer dormir na casa de um cara da sua escola, que se quisesse fazer alguma coisa com você já tinha feito?
- Falando assim... - Começo mas ele me interrompe.
- Pois é! Vem! - Diz pegando seu Skate do chão em um movimento e me puxando com a mão livre que sobrava.Alguns quarteiões e finalmente chegamos.
- Olha, minha mãe, meu irmão e meu pai estão dormindo, faz silencio pra eles não acordarem, tá? - Apenas assinto.
Ele me guia até seu quarto, sua casa não é grande mas também não chega a ser pequena, é um tamanho aconchegante. O quarto dele fica perto dos fundos da casa no primeiro andar. Entramos nele e Brendan coloca seu skate de canto. Sem falar nada começa a procurar alguma coisa em seu guarda-roupa e não demora muito para ele encontrar e me jogar uma blusa preta desbotada de alguma banda de rock e logo depois me joga um samba-canção do bob esponja.
- Veste. Essa roupa parece desconfortável. - Diz e se senta numa cadeira rotatória que fica a frente uma mesa com um computador se virando pra mim.
-Visto, mas pode por favor desmanchar essa cara de criança emburrada e virar pro outro lado?
- Primeiro que ninguém mandou você ficar perambulando por aí de madrugada, então sim, vou ficar com essa cara até você entender que o que fez foi perigoso. Segundo, você é garoto, eu sou, então tanto faz. - Diz pegando seu celular ainda virado para mim.
- É que... Eu... - Ele me olha. Sempre assim, sempre vou ter que me assumir quando fiacr desconfortável em alguma situação por não ser cis. - Eu sou trans, sabe? - Seu olhar não muda, apenas assente.
- Tá, devo de chamar pelo feminino, então? - Pergunta indiferente.
- NÃO! - Exclamo. - Eu sou um garoto. - Agora seu olhar é confuso.
- Então se troca ai e vai deitar. - Ele reagiu tão bem, acho que no final das contas, eu sou só um garoto normal, certo?
- Quer tanto assim me ver sem camisa é? Que foi? Ta interessado? - Pela primeira vez desde que estamos aqui vejo sua expressão mudar, ela vai de emburrado para envergonhado. O garoto abre e fecha a boca algumas vezes.
- Tá legal, vou tomar um banho enquanto você se troca então. - Finalmente diz enquanto se levanta rápido e vai até o banheiro de seu quarto.
Me jogo na cama e meu Deus... O que foi isso? De onde eu tirei coragem pra perguntar se ele tem interesse? E se ele ficou envergonhado, talvez goste de homens. Se fosse hetero certeza que falaria alguma coisa como "Ta tirando? Não curto essa fruta não, parça. Ó as ideia. Ta achando que eu sou bicha?" Mas não, ele só... Ficou envergonhado. Certo, vou me trocar logo então.
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O Garoto do Skate
RomanceIsak é um garoto trans de 16 anos que se apaixonava por todos que via na rua. Até um dia ver o garoto que sempre aparecia em seus sonhos, desde então, ficou decidido a encontrá-lo novamente. Capa by: @lapotity