Capítulo 15: Porão

12 1 0
                                    

Certo, falta dez minutos para sair do trabalho e tenho que contar para meu pai a notícia e tudo que aconteceu. Confesso que não quero falar pra ele, se eu contar, vou ter que ouvir a opinião sincera dele, e talvez eu não queira opinião de pai. Quero opinião de alguém que vai falar que estou certo e não falar o que realmente acha. 
- Isak! - Minha patroa me chama. - Pode ir mais cedo, querido. Deixa que eu fecho aqui, você já trabalha demais na loja.
- Ah, não! Pode deixar que eu fecho. Sem problemas. - Droga não quero ir embora.
- Imagina querido. Eu vou fechar, já vou ter que ficar para receber algumas reposições e discos especiais do Queen. Inclusive, mais um motivo para você ir pra casa, amanhã a loja estará lotada logo quando abrir, então teremos muito trabalho pela frente. Vai descansar enquanto pode vai.
- Poxa, Vivian, já que tem que esperar espero junto. Aproveitamos e saímos pra comer. O que acha? - Ela me olha estranho.
- Garoto, eu não quero ninguém atrasando amanhã por que foi dormir tarde hein.
- Não! Vamos só jantar, vai, não vai recusar?
- Vou! Marcamos para outro dia, garoto. Vai pra casa vai.
- Nem se for por minha conta? - Insisto.
- Vai logo pra casa Isak! - Ela pega minha bolsa que estava pendurada em uma cadeira ao seu lado e joga em minha direção.
- AÍ! 
- TCHAU! - Me levanto e vou em direção à minha casa. 

Em situações normais, sairia daqui direto para casa de Sara, mas não é como se eu pudesse fazer isso agora. A segunda opção é o parquinho perto da pista, mas não quero ver Brendan e a possibilidade de ele estar lá é grande. Eu vou ter que ir para minha casa mesmo, merda. 
Indo em direção para casa vou ensaiando o que pretendo dizer para o meu pai, também estou ensaiando todas as respostas para as possíveis perguntas dele, apesar de eu não saber as resposta para minhas próprias perguntas tento achar para as dele, mas claro que falho.
Chegando entro na sala direto, procurando meu pai, mas acho apenas minha mãe vendo televisão. Ela mal me cumprimenta, porém vou ignorar, não estou com cabeça para as criancices dela hoje. Procuro meu pai pela casa e o acho no porão tentando esconder alguma coisa.
- Pai...
- OI! FILHO! TUDO BEM! - Diz assustado quando me vê - Tá cedo em casa, o que foi?
- Fui liberado mais cedo. É... o que está escondendo? - Pergunto desconfiado.
- Não falo. Me obriga! - Dou uma leve risada.
- Pai, podemos conversar? - Volto ao meu tom sério e vejo a feição em seu rosto mudar para preocupado.
- Claro meu amor. No seu quarto?
- Não. Vou falar aqui mesmo. - Respiro fundo. - Terminei com Brendan.
- O QUE?! - Exclama espantado e pós nos sentarmos conto a historia desde o início.
- Filho... Acho que você foi extremamente precipitado e infantil.
- Ai aí! Não precisava, pai.
- É o que tenho que fazer, te colocar juízo e isso dó mesmo. Mas me ouve. O que o irmão dele fez não foi legal, claro que não. E sei que gosta muito de Sara, mas ela também foi ruim nessa história, você não é o vilão, mas não é o coitado. Filho, nem tudo é sobre você, nem sempre o que acontece vai ser de seu agrado, mas nós temos que respirar fundo nessas horas, pensar duas vezes e só então agir. Por que achou que terminar seria a melhor opção? - Essa é a exata pergunta que não tive uma resposta clara ainda. Justo essa e ele manda bem agora.
- Bom, eu... Eu só queria minha antiga vida de volta, sabe? Você e a mamãe se falando, Sara minha amiga e tudo como estava. Mas desde que Brendan apareceu TUDO virou de cabeça pra baixo. 
- E ele tem culpa? A culpa da sua mãe não aceitar que eu te apoio é dele? Ele tem responsabilidade pela atitude de Sara de não acreditar em você?
- Não, mas...
- Isso pensando nas coisas ruins. Mas sabe de uma coisa que realmente é culpa dele? - Presto atenção em cada palavra que sai da boca do meu pai. - Eu te apoiar tanto. Se não fosse você apresentar ele e eu reparar o quão apaixonado você olhou para o garoto... Não sei se a chavinha de coragem para te chamar de filho viraria sem ele. 
- O que configura culpa de você não estar falando com a mamãe.
- Filho, ele não tem responsabilidade por ela não te aceitar, e é claro que nós falamos. É só questão de tempo para que ela te aceite, tudo bem?
- É... Talvez eu tenha sido precipitado.
- Você foi. Mas quem vai te culpar? Você tem dezesseis anos, filho. Agiu como um garoto de dezesseis anos agiria.
- Ei não fala como se eu fosse uma criança! Faço dezessete daqui três meses e meio. - Meu pai ri.
- Garoto, apenas saiba que te apoio em tudo. Inclusive se quiser voltar atrás de sua decisão.
- Acho que quero. Não sei se ele vai querer.
- Por agora não fala nada. Deixa o tempo passar e pensa bem no que vai fazer, tudo bem?
- Mas... E se o tempo passar e ele me esquecer?
- Aí, meu filho, você vai ter que superar. Fez uma decisão errada e isso afetou seu futuro. Aprenda a lidar com as consequências.
- Valei pai. Vou voltar para meu quarto. - Me levanto dando um abraço no homem, que logo me retribui e subo para meu quarto.

---

Certo, é terça e tenho que pensar em como concertar as burradas que eu fiz ontem, mas também preciso focar no trabalho na loja, que inclusive estou correndo para lá nesse momento. Não posso nem sonhar em aparecer lá um minuto atrasado, capaz de eu perder o emprego.
- MEIO DIA E CINQUENTA E NOVE. QUE SORTE SENHOR ISAK! - Minha chefe exclama quando entro no local.
- Foi mal! Mas o importante é que estou aqui. - Troco rápido de blusa para colocar o  uniforme e corro para o caixa. Vivian abre a porta e uma avalanche de gente entra. Claro que menos da última vez, já que mais pessoas gostam da Taylor do que de Queens.
Em um momento dos atendimentos já estou no automático, nem vejo quem está comprando, apenas passo e dou o troco se necessário. Até ver uma cara conhecida. Brendan.
- Olá boa... Boa tarde! Que bom ver você aqui! - Exclamo ao garoto de cara fechada.
- Pois é, nas outras lojas acabou o disco que queria. - Diz sério. Acho que odeio ele com essa cara séria.
- Esse é para você mesmo ou sua mãe? - Pergunto brincando enquanto passo o produto.
- Pode, por favor, não agir como se nada tivesse acontecido? - Fico sem graça. - Vai ser em dinheiro mesmo. $690, certo? - Pergunta pegando sua carteira e jogando o dinheiro no balcão. - Valeu. - Finaliza pegando seu disco e saindo da loja. Preciso tanto concertar o que eu fiz.

- Finalmente acabou! - Minha chefe fala quando acabo de atender a última pessoa que estava na fila - Foi menos que no dia da Taylor, mas senhor, quanto velho. - Dou uma leve risada.
- Preferi o outro dia.
- Odeia velhos, é?
- Claro que não! Ainda mais esses roqueiros, são uns fofos. Mas no dia do lançamento de reputation minha vida ainda não tava de cabeça para baixo.
- Ah garoto, que isso, você é novo, essa não vai ser a primeira vez que a vida vai virar de ponta cabeça. Agora, eu queria muito descansar, mas tenho que ver os discos em estoque, então bom trabalho com o pública aí. - Fala indo até a sua sala. Agora estou sozinho na loja.

Passa algum tempo, uma meia hora. E uma garota adentra o local, é a Sara.
- ISAK! VOCÊ ESTÁ AQUI! - Ela exclama indo em minha direção. Minha amiga está com uma cara de preocupada, aflita, não identificar.
- Oi, como posso ajudar? - Tento ser profissional.
- Só me desculpa. - Fico sem reação. Como assim? Do nada? 
- O que?
- Eu devia ter acreditado em você. Sabe, o Jhonny sempre foi meio babaca mesmo, devia ter te ouvido, e ouvido minha mãe também. Só me desculpa, Isak, fui uma idiota.
- Tudo bem, Sara. Sabe que eu te desculpo, você é minha melhor amiga. - Digo ainda um pouco confuso. - Só não entendo o motivo disso de repente.
- Brendan veio falar comigo. - Brendan? Mesmo depois de eu ser um idiota ele foi falar com ela? - Disse que se eu não quisesse acreditar nele ou em você, para perguntar pra mãe dele, já que ela presenciou tudo. Eu fui, perguntei se você mandou o Jhonny se matar, disse que ele era um lixo e só era uma distração pra minha vida. - Ele falou que eu teria dito tudo isso? Jesus, que garoto maluco. - Ela disse que você foi tão educado que ela até deixou ele de castigo, mas não adiantou porque ele foi pra casa do pai e ele tirou. De qualquer forma, me desculpa, tá?! Eu não devia ter colocado meu relacionamento a cima de você. 
- Caraca... Tudo bem, Sa, essas coisas acontecem.
- Só mais uma coisa. O Brendan é um amor, Sak. Não devia ter largado ele só por eu ter sido uma idiota. Você vai ter um cunhado difícil mas vale a pena aguentar. Isak, o Brendan aguentou tanta coisa do irmão, esteja lá pra ele como ele também esteve para você.
- Eu sei... Eu me arrependo tanto. Ele veio aqui hoje e foi tão seco que até o Sasuke ia falar "Opa amigão, pra que tudo isso." - Ela ri.
- Você machucou ele, mas corre atrás, você merece um amor.
- E se eu conseguir conquistar ele de volta podemos ser cunhados! - Ela sorri triste.
- Eu terminei com o Jhonny. Você tinha razão, se eu namoro um babaca, me torna uma babca.
- Ai Sara... Queria tanto falar que não precisava mas precisava sim. Não aguentava mais aquele menino.
- No fundo nem eu. Ele falava tanta coisa problemática, e me fazia ainda ficar vendo ele andar de skate, fala sério que role chato, pra que eu quero ver ele subindo e descendo rampa hein? - Dou risada.
- FOI O QUE EU SEMPRE FALEI!
- Bom, mas é isso amigo, te vejo depois, agora tenho que ir. Passa lá em casa quando acabar o trabalho, minha mãe tá com saudade. - Ela fala e sai da loja. Certo, Sara voltou pra minha vida, agora posso tentar recuperar meu antigo relacionamento.

O Garoto do SkateOnde histórias criam vida. Descubra agora