Fui até a cozinha e preparei alguns legumes e temperos neutros batidos no liquidificador para Peter. Coloquei em uma vasilha transparente e levei para o quarto.
Peter assim que me viu, olhou para a vasilha desconfiado e cruzou os braços.
— O que foi Peter?
— Não quero comer isso aí não
— Você vai comer sim!
— Não quero
Suspirei e coloquei a vasilha sobre a cômoda, peguei a pequena colher e dei um pouquinho para ele.
— Como está? — perguntei
— Até que está bom...
— Então vou te dar mais um pouco
— Ok, eu vou comer...
Ele ficou me olhando enquanto esperava ele pegar a colher de minha mão, suspirei e peguei na mão dele.
— Peter, você pode comer sozinho
— Não posso
— Pode sim...
— Por que não quer me dar?
— Você está com os braços muito bem, pode comer sozinho
— Não posso!
— Está bem, está bem...
Com a teimosia de Peter, fui obrigada a dar toda a comida para ele.Uma semana depois...
Dia de sexta-feira, a cadeira de rodas de Peter havia chegado na encomenda e então pedi a Dave para trazê-la para meu apartamento. Minutos depois ele já estava em minha casa com a encomenda e se sentou no sofá.
Peter ouvindo minha conversa com Dave ficou me gritando sem parar do quarto até eu e Dave ir lá.
— O que foi Peter? — perguntei
— Você está melhor, primo? — perguntou Dave
— Sim, por que estavam conversando tanto?
— Trouxemos um presente para você, primo — disse Dave
— Presente para mim?
— Sim, sua cadeira de rodas — disse eu
— Cadeira de rodas?!
— Sim, você não vai andar sozinho — disse Dave
— Como assim...? — disse Peter abaixando a cabeça
— Não fique triste Peter, eu cuidarei bem de você, vou te levar para passear
— Obrigado Ollie, mas... Eu não consigo acreditar que ficarei em uma cadeira de rodas...
— Não chore Peter, eu sei que não é fácil, mas o importante é que você está vivo e eu estou aqui — disse eu
— Você tem razão... Dave, você pode ir para a cafeteria — disse Peter
— Está bem, vou deixar você cuidando dele Ollie
— Obrigada por me ajudar Dave! Até mais
— Até mais — disse Dave fechando a porta.
Peter ficou olhando para mim por alguns instantes e desviou o olhar. Fui até a sala e abri a caixa, montei a cadeira e a levei para o quarto.
— Peter, essa é sua cadeira
— Obrigado...
— Você quer sair um pouco para ver a paisagem?
— Quero, você vai me levar?
— Sim, venha que irei te colocar na cadeira
— Está bem.
Ajudei Peter a se sentar na cadeira e peguei uma camiseta para ele vestir.
— Por que tenho que me vestir?
— Peter, você tem que se vestir
— Não quero
— Você não está esperando eu colocar em você, não é?
Ele nada disse e apenas ficou me olhando. Até que então ele se vestiu e saímos para dar uma volta no estacionamento do apartamento e na pequena praça que havia ali perto.
Ver a felicidade de Peter era o que me alegrava, consegui tirar vários sorrisos dele.Alguns dias depois...
Sábado
Meu telefone tocou, era minha mãe, para minha surpresa ela viria me visitar em meu apartamento. Estava na cozinha preparando os remédios e a comida de Peter tranquilamente até ouvir alguém bater na porta. Deixei minha mãe entrar e ela se sentou no sofá, passando olhares para todos os cantos da casa.
— Filha, sua casa está tão desarrumada...
— Eu não estou tendo tempo para arrumá-la...
— Ah mas você quer ter mais responsabilidades do que consegue ter Ollie — disse ela se levantando
— Não é isso mãe, eu tenho minha vida agora, a senhora não precisa se preocupar tanto comigo
— Ollie, você sempre foi teimosa... Você precisa descansar um pouco filha — disse colocando as mãos em meus ombros
— Eu estou bem mãe, fique tranquila
Minha mãe foi em direção ao meu quarto e a segui, tentando impedir ela de entrar.
— Mãe, eu ainda tenho muitas coisas para arrumar, não queira entrar em meu quarto, está uma bagunça enorme!
— Disso eu já sei, mas está ficando tarde... Depois venho te visitar novamente filha
Suspirei aliviada e minha mãe foi embora.Dois dias depois...
Como de costume, dias de segunda-feira eram os mais corridos para mim, acordava às cinco horas da madrugada e voltava às sete e meia da noite. Assim que cheguei em casa, vi o carro de minha mãe estacionado no estacionamento do apartamento e meu coração acelerou.
Dei alguns passos e vi ela saindo do carro, vindo em minha direção.
— Ollie... Você saiu do trabalho tão tarde
— Tive que ajudar as enfermeiras em uma emergência
— Certo, vamos subir, hoje irei jantar com você
Quando ela disse isso, meu coração disparou ainda mais, pensei em como iria lidar com minha mãe e Peter em casa, eu não queria que ela soubesse disso.
Mas enfim, entramos no elevador e subimos até o décimo andar, entramos e minha mãe foi direto para a cozinha.
— Que tanto de remédios são esses, Ollie?! — gritou ela
— Ah, são de um paciente que tenho que levar para o hospital amanhã
— Como assim? Estão todos abertos!
Me apressei em ir para a cozinha e vi ela juntando os remédios numa sacola para jogar fora.
— Não mãe! Não faça isso
— Por que? Você não pode tomar isso! — disse irritada
— Não são meus mãe!
— E essa sopa? Ollie! Você está vivendo dessa maneira?!
Ela pegou a tigela e quase despejou fora, graças a minha agilidade, consegui segurar a tempo das mãos dela.
— Ollie, o que está acontecendo?
— Mãe, por que a senhora não senta no sofá enquanto preparo o jantar?
— Eu vou no seu quarto descansar então
— Mãe, espere!
Segui minha mãe até a porta e a parei.
— Ollie, o que é dessa vez?
— Eu tranquei a porta e não sei onde coloquei a chave...
— Não importa, eu consigo abrir com o grampo de cabelo
— Está muito bagunçado mãe!
Minha mãe suspirou e voltou para a sala, me aliviando. Fui para a cozinha e preparei o jantar para ela, macarrão com peixe e molho, o que ela mais gostava. Levei o prato para ela e ela ficou me observando.
— Não vai comer, Ollie?
— Vou sim, irei buscar meu prato.
Enquanto eu estava na cozinha, ouvi a porta do meu quarto abrindo e vi que era Peter saindo de lá em sua cadeira de rodas. Ele estava com uma camiseta social preta que eu havia deixado sobre a cômoda para ele vestir. Assim que minha mãe o viu, colocou o prato na mesa e olhou para mim desconfiada e surpresa.
Saí da cozinha e Peter já havia chegado na sala.
— Eu sou o paciente da Ollie, ela não estava mentindo... — disse ele
— Como assim...? — perguntou minha mãe olhando para mim
— Não entenda errado mãe
— Está bem filha, você podia ter me contado antes...
— Eu não queria te deixar mais preocupada
— Ollie é uma médica muito boa e especialista, por isso ela está cuidando de mim — disse Peter
— Eu entendi, mas vocês moram juntos e...
— Ela é minha namorada — disse Peter interrompendo minha mãe
Antes que eu pudesse dizer algo, Peter me puxou me fazendo sentar em seu colo na cadeira. Minha mãe deu um leve sorriso enquanto nos olhava.
— Então é isso, Ollie
— Mãe...
— Não seja tímida filha, eu entendo super bem
— Mas mãe
Peter para interromper minha conversa, colocou a mão em meu rosto me dando um suave beijo nos lábios. Minha mãe terminou de comer e se levantou.
— Então Ollie, não vou incomodar vocês
— Obrigado pela visita — disse Peter
— Qual é o seu nome mesmo?
— Meu nome é Peter Thomas
— Prazer em conhecê-lo, eu sou a Sra. Jack
— O prazer é todo meu, até mais Sra Jack
Minha mãe foi embora e Peter ficou me olhando. Tentei sair de seu colo mas ele me segurou firmemente.
— Por que você fez isso Peter?
— Você queria ser envergonhada na frente de sua mãe?
— Não... Eu só não queria que ela soubesse disso
— De uma forma ou de outra ela iria saber Ollie
— Mas você disse a ela que sou sua namorada...
— O que tem de mais nisso?
— Ah... Nada não
— Eu me lembro uma vez que você me beijou, lembra-se disso?
— Sim... Eu havia bebido muito
— Não tanto assim
— Ah
— Afinal, eu não tive a chance de dizer a você que...
— Que o que?
— Que eu gostei de você, gostei daquele momento, e também das suas massagens em mim...
— Sério...?
— Sim, você é a pessoa que eu sempre quis para mim, infelizmente fui forçado a namorar uma mulher que eu não queria...
— Você gosta de mim então?
— Você quer mesmo saber?
Balancei a cabeça com um sim e ele novamente tornou a me beijar, dessa vez com mais intensidade. Em minha mente eu não queria fazer isso mas meu coração dizia "vá em frente".
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MIL FACES
RomanceOllie é uma garota inteligente, fisioterapeuta e estudante de medicina. Após os seus dezoito anos ela decide morar e trabalhar sozinha para se sustentar, mesmo tendo uma família rica. Algum tempo depois de começar estudar medicina ela é contratada p...