Por teus olhos, Sarah.

Noite da pizza

🦇

Enrolo mais uma porção do macarrão instantâneo no garfo e o mastigo, eu estou sentada em uma das cadeiras na mesa redonda da cozinha, Thomas debruçava-se do outro lado do balcão, me enchendo de perguntas. Contou-me sobre as dezenas de ligações da minha mãe e me fez prometer que iria ligar para ela mais tarde. Eu concordo, mesmo estando evitando ela desde que cheguei.

— Ao menos ligue para ela mais tarde, você sabe como a sua mãe consegue ser persistente. - O homem insiste, me fazendo suspirar contra o garfo, antes de enfiar mais do que o necessário em minha boca, na intenção de mantê-la ocupada.

— Ela deve estar ocupada com os preparativos para o casamento, não quero atrapalhar. - Ironizo, destilando veneno como uma cobra venenosa.

— Você e eu sabemos que isso não é verdade. Apenas faça a ligação e diga que está bem. - Thomas, parece ignorar a parte em que eu mencionei o segundo casamento da minha mãe. Me pergunto se isso se daria ao fato de eu detestar o novo esposo de Marie?

— Eu vou ligar, no meu tempo. - Finalizo aquele diálogo, deixando claro que não há mais opções, eu ligaria para ela quando me sentisse confortável. Não estou preparada para ouvir as "boas novas" sobre o casório dela, e de como James está animado para a lua de mel deles no Brasil.

Tomo um banho após finalizar a minha refeição, organizo o restante das minhas roupas no armário de solteiro e nas prateleiras espalhadas pelo quarto. despejo meus materiais escolares e livros na escrivaninha que fica ao lado da enorme janela de vidro, terei uma visão ampla da rua enquanto estiver  lendo ou estudando. Quero deixar esse lugar o mais parecido possível com a minha casa, ao menos, do lado de dentro, já que a chuva entrega que aqui não é o meu lugar, volto a me sentir pálida, me misturando com o verde em excesso que existe ao redor.

Desço as escadas, bagunçando os meus cabelos úmidos e vejo Thomas, calçando os coturnos do seu uniforme, enquanto discute com alguém pelo telefone. Me sento no braço do sofá e cruzo as minhas pernas, prestando atenção na televisão. O noticiário informa que a temporada de chuva está longe de chegar ao fim, fala sério? Depois de Forks, Duluth deve ser a cidade mais depressiva do planeta.

— Aconteceu alguma coisa? - Pergunto, acompanhando o policial com os olhos, assim que a ligação se encerra, ele já encontra-se de pé, organizando algumas coisas dentro de uma mochila pequena. Thomas costumava fazer isso quando ia passar a noite fora, há alguns anos atrás, ele pagaria a Sra.Jenna, que mora no final da rua, para cuidar de mim, mas, obviamente não é mais necessário.

— Precisam de mim na delegacia. - O policial explica brevemente, me lembro de que ele nunca deu detalhes para a minha mãe sobre os acontecimentos por lá. — Você vai ficar bem? Volto antes da hora de te levar para o colégio. – Ele afirma, convicto. — Uma pessoa desapareceu, é a terceira em menos de dois meses.

— Pode ir despreocupado, eu vou ficar bem. - Torno calmamente e sorrio sem mostrar os dentes. Ficar sozinha em casa não é nenhuma novidade para mim. Já os desaparecimentos, não são tão comuns por aqui.

— Peça uma pizza ou esfirras, eu sei que você gosta. Aqui está o dinheiro, pode ficar com o troco para almoçar amanhã no colégio. - Ele me entrega uma quantia exagerada de notas e em seguida, começa a subir às escadas.

Pouco tempo depois, Thomas aparece com os cabelos arrumados, uniforme passado e vestido. Caminha até mim e deixa um selar sútil em minha testa. O delegado, apanha as chaves da viatura que estão penduradas em um gancho na parede e me olha, preocupado.

— Você entendeu o que eu disse? -Ele questiona, enquanto passa o cinto com o revólver pela cintura da calça cargo escura e destranca a porta da casa.